Na manhã da quinta-feira, 18 de janeiro, uma moradora do bairro Cascata, na zona sul de Porto Alegre, foi acordada pelo som de seu ex-companheiro, Erik Marques da Cruz, 23 anos, esmurrando a porta da sua casa. O relógio marcava 8h e o homem insistia que queria entrar para ver a filha de um ano e sete meses do casal. Ao perceber que o rapaz parecia alterado, a jovem, de 24 anos, não permitiu a sua entrada.
Segundo a vítima, o homem estava acompanhado de um familiar, que ficou do lado de fora. Do lado de dentro, estava a vítima, a bebê e uma sobrinha. A mulher conta que ameaçou chamar a polícia caso ele não fosse embora, mas o homem retrucou dizendo que até a polícia chegar ele já poderia tê-la matado. Sem conseguir convencê-la a abrir, o homem decidiu arrombar a porta e atacá-la.
— Ele arrombou a porta e já chegou dando socos, no meu peito, na cabeça. Eu caí no chão. Ele conseguiu arrancar metade da minha orelha com os dentes. Ele me olhou, cuspiu o pedaço da minha orelha na minha cara e disse 'eu vou te matar'’ — lembra a jovem.
Ela conta que pediu ajuda à sobrinha, que começou a gritar e pedir ajuda. Segundo a vítima, quando um vizinho se aproximou Erik fugiu do local. Ferida e com muita dor, a jovem foi levada ao Hospital de Pronto Socorro (HPS) para receber atendimento.
A vítima afirma que recebeu um atendimento excelente no hospital, mas que no primeiro momento a anestesia não surtiu efeito e ela acabou sentindo dor durante a costura os pontos. Ela conta também que, após analisarem o pedaço de orelha que ela levou junto consigo para que fosse reimplantado, os médicos lhe explicaram que não seria possível pois havia sido infectado quando o homem o pôs dentro de sua boca.
Será necessária a realização de um procedimento cirúrgico para a reconstrução da parte que foi arrancada da orelha. O pedido para a realização da cirurgia plástica já foi encaminhado pelo hospital.
Relacionamento abusivo
A vítima, que não terá sua identidade divulgada, conta que mantinha um relacionamento com o agressor desde novembro de 2021. Após seis meses de namoro, eles decidiram morar juntos. Incialmente, moraram em uma casa construída para a jovem no terreno da mãe e depois se mudaram para outra casa mais afastada.
Nos primeiros meses, o homem não deu sinais de que seria violento e ela engravidou. Segundo ela, tudo começou a mudar após o nascimento do bebê. A primeira agressão ocorreu em agosto de 2022.
— Não foi grave. Me deu socos e tapas no rosto. A gente se separou. Ele me disse que ele não era assim e que ele não ia fazer mais. Eu voltei com ele, mas escondi a agressão da minha família. Ele entrava na minha cabeça bem fácil. Chorava, dizia que ia mudar e eu perdoava.
No final daquele mês, ele voltou a agredi-la. A partir daí, a violência se tornou rotina e, aos poucos, as agressões, que antes ocorriam apenas dentro de casa, começaram a ocorrer também na rua, na frente de amigos, exceto na presença dos familiares da jovem, que já desconfiavam.
— Eu sempre negava porque tinha vergonha. A minha mãe apanhou por 20 anos e ela sempre ensinou a gente a não apanhar de homem, porque ela sempre disse que se bateu uma vez iria bater sempre — pontua.
Entre idas e vindas, um episódio de agressão ocorreu em outubro de 2023, quando a jovem assistia a um jogo de futebol na Cidade Baixa. O agressor foi até a casa da mãe da vítima, que não sabia das agressões, e pediu para esperar por ela, que supostamente o estaria esperando. Ao chegar em casa, ele abriu a porta e desferiu um violento soco no rosto da garota, cortando a sua boca, em frente aos familiares presentes. Após isso, ele foi embora.
Mais uma vez ele pediu perdão e o casal reatou o relacionamento. O episódio que resultou na separação definitiva e o pedido de medida protetiva ocorreu quando a garota e o agressor foram junto ao centro de Porto Alegre para fazer compras.
— Ele começou a me ameaçar e disse que eu estava olhando para uns caras. Fomos pra casa e eu disse que era para ele ir embora. Ele não me bateu, mas quebrou toda a minha casa. Disse que iria embora mas que eu teria que recomeçar do zero. Chamei a polícia e recebi a medida protetiva — conta.
Mesmo após a separação, o homem seguiu se aproximando da vítima com o pretexto de visitar a filha. No início do ano, ele conseguiu um emprego em uma lanchonete no mesmo shopping que a ex-companheira. No dia 16 de janeiro, ele ficou sabendo que ela levou um rapaz para trabalhar de freelancer com ela e acreditou que que eles tivessem um relacionamento. Ela afirma que não tinham. A partir disso, o homem passou a ameaçá-la, culminando na agressão do dia 18.
Investigação
A jovem relata que só conseguiu registrar o boletim de ocorrência no domingo (21) em razão do temporal que atingiu o RS e fez com que o bairro ficasse sem energia elétrica e a delegacia de polícia local fosse fechada. Após a divulgação da agressão nas redes sociais, o homem decidiu se entregar à polícia na madrugada de segunda-feira (22).