A cada cinco dias, um estabelecimento comercial é invadido por criminosos no bairro Azenha, na região central de Porto Alegre. A média tem preocupado bastante os lojistas, que viram o número de ocorrências aumentar em novembro. Até o momento, foram registrados seis casos. O dobro em relação a outubro, quando ocorreram apenas três.
Os números são da Brigada Militar, que contabiliza, desde janeiro, 48 crimes do mesmo tipo no bairro.
À medida que o final do ano se aproxima, os comerciantes locais passam a conviver com uma sensação ambígua: um misto de esperança com preocupação. Isso porque essa época costuma ser marcada pelo incremento de vendas, devido às festas, mas também por mais investidas dos criminosos.
No último fim de semana, ao menos dois estabelecimentos na Avenida da Azenha sofreram arrombamentos. A ação, em um dos endereços, levou cerca de dois minutos e resultou num prejuízo aproximado de mil reais. De acordo com os vendedores, as perdas só não foram maiores porque eles costumam guardar os produtos mais caros.
Os lojistas pediram para não serem identificados pela equipe de reportagem de GZH. Durante a conversa, relataram que o acesso ocorreu pelos fundos e foi facilitado por causa da existência de um terreno baldio nas proximidades.
— Antes de dormir, sempre passamos de carro aqui na frente para ver se está tudo bem. No Natal e no Ano Novo, estamos nos programando para não viajar. Se acontece alguma coisa, estamos longe demais — relatou um dos proprietários.
O sentimento de insegurança é compartilhado por outros comerciantes da região.
Dono de uma banca de revistas há 24 anos, Rodrigo Dahm teve o estabelecimento invadido três vezes desde a pandemia. O último episódio ocorreu no ano passado, quando os ladrões levaram um ar-condicionado.
— Tive que reforçar a segurança, gastei uns R$ 8 mil com serralheiro, colocação de sistema de alarme monitorado, cerca elétrica.
Apesar de muito tempo ter passado desde então, o temor permanece e é alimentado pelos relatos de casos semelhantes pela região.
— Todas as noites, eu já deixo minha roupa pronta do lado da cama e o celular na cabeceira. Se tocar o alarme da banca eu vou pro estabelecimento. Eu não tenho sossego — desabafa Rodrigo, que já pensou em desistir do negócio.
Anúncios de imóveis comerciais para venda ou aluguel podem ser encontrados com facilidade por quem percorre ruas e avenidas do bairro. Além dos impactos da pandemia, a sensação de insegurança costuma ser elencada como um dos motivos para desistência de quem tem um empreendimento.
Há poucos meses, um grupo de moradores e comerciantes da Azenha se articulou, dando origem a uma associação. Em um grupo no WhatsApp, os membros da comunidade reportam situações urgentes, fatos que necessitam de uma rápida intervenção.
Todas as noites, eu já deixo minha roupa pronta do lado da cama e o celular na cabeceira. Se tocar o alarme da banca eu vou pro estabelecimento.
RODRIGO DAHM
proprietário de banca
Segundo eles, a própria comunicação com a patrulha comercial da Brigada Militar se tornou mais prática e efetiva.
— Fazemos um trabalho direto com a Brigada para uma ação mais preventiva nesses casos, mas não se consegue uma ação 100% e algumas situações se repetem — comenta o presidente da entidade, Delmar Moers.
Delmar, que também é comerciante, relata que dois tipos de crime costumam ocorrer com maior frequência: os pequenos furtos durante o horário de funcionamento das lojas e os crimes maiores, mediante arrombamento, durante as noites. O que mais preocupa quem tem um negócio na região é que algumas "figurinhas" por trás das ocorrências são repetidas.
— Uma boa parte deles já é conhecida. São filmados repetidamente. Isso acaba sendo um problema até para a Brigada, que prende e, dois ou três dias depois, a pessoa está solta, volta ao mesmo ambiente e pratica as mesmas ações, principalmente arrombamentos.
O presidente da associação destaca que não é descartada a possibilidade de, em 2024, realizarem a contratação de uma empresa de segurança privada para suprir lacunas e necessidades pontuais. O objetivo é garantir que os lojistas possam atuar com maior tranquilidade.
Um crime associado ao tráfico de drogas
Se novembro registra uma elevação, tornando-se o segundo mês com mais furtos e arrombamentos notificados, ficando atrás apenas de março (11 casos), no acumulado do ano o cenário é diferente. Como são 48 arrombamentos até o momento neste ano, a redução é de 15,7% em relação ao mesmo período de 2022, quando ocorreram 57 casos.
De acordo com o comandante do 9º Batalhão de Polícia Militar (9º BPM), tenente-coronel Fábio da Silva Schmitt, essa prática criminosa demanda muito esforço das forças de segurança, pois não é de fácil constatação, dificultando, até mesmo, as prisões em flagrante. A modalidade, aliás, costuma girar em torno do tráfico de drogas.
— A percepção que eu tenho pela vivência e experiência das ocorrências é de que essas pessoas cometem esses crimes para manter o vício e para subsistência, alimentação. Na maioria das vezes, para manter o vício — relata.
Em 2023, o 9º BPM efetuou a detenção de seis indivíduos - dois seguem recolhidos, um está em prisão domiciliar e os outros três já ganharam liberdade. Nos últimos três meses, nenhum suspeito foi detido na Azenha, mas, sim, em bairros próximos.
Na madrugada desta quarta-feira (29), policiais flagraram um menor cometendo o mesmo tipo de delito. Ele acabou sendo apreendido.
"Providências estão sendo tomadas"
Desde o dia 23, a Brigada Militar deu início à chamada Operação Papai Noel. A ação consiste no reforço do policiamento ostensivo nas áreas comerciais de todos os municípios do Estado, tendo em vista o aumento da circulação de pessoas e mercadorias nesse período do ano.
Tendo em vista o aumento de ocorrências no bairro Azenha, o comandante do 9º batalhão informou à equipe de reportagem que providências estão sendo reforçadas. Um reforço está previsto para operar já a partir desta quarta. Uma patrulha específica no combate a furtos e arrombamentos na região deverá atuar das 19h até as 7h.
— Quando virem qualquer movimentação, liguem para o 190. E, quando acontecer, peço também que registrem. Não fiquem com aquele pensamento de que não vai dar em nada. Vai sim. É com base nesses registros que eu vou destinar os recursos materiais e humanos para inibir, minimizar e, quem sabe, como em setembro, zerar o número de furtos e arrombamentos — reforça o tenente-coronel Fábio Schmitt.