Ao menos 13 pessoas de diferentes cidades do Rio Grande do Sul procuraram autoridades para relatar que foram vítimas do golpe do consórcio contemplado. A Polícia Civil de Parobé, que concentra as investigações, abriu um inquérito para apurar as ocorrências.
A instituição afirmou à reportagem que não fornece informações porque o caso corre em segredo de Justiça. A Delegacia do Consumidor de Porto Alegre diz que diferentes crimes podem ter sido cometidos.
A quadrilha tinha como base a cidade de Parobé, no Vale do Paranhana, e anunciava a venda de cartas de crédito contempladas nas redes sociais. Os consórcios eram oferecidos em troca de um valor e mais as parcelas não quitadas, cujas mensalidades as vítimas deveriam assumir. A quadrilha, então, recebia um valor de entrada e não entregava a suposta carta contemplada para as vítimas. Quando entregava, os consórcios não tinham validade legal.
Jackson Pegorini, operador de máquinas que mora em Tapejara, na Região Norte, viu no consórcio contemplado a oportunidade que tanto esperava para construir uma casa e sair do aluguel. O anúncio na rede social dava direito a uma carta de crédito no valor R$ 230 mil.
Após demonstrar interesse, ele foi contatado pelos vendedores. Na proposta, Pegorini deveria dar uma entrada de R$ 20 mil e depois assumir 283 parcelas de R$ 940. A vítima chegou a receber a suposta carta de crédito, mas ao consultar o banco, verificou que o documento era falso.
— Era o único dinheiro que eu tinha para poder fazer a minha casa. E agora eu estou assim: o dinheiro está na mão deles, e eu continuo morando de aluguel — lamenta.
Grupo de apoio
Em um grupo de mensagens, as vítimas compartilham experiências e o sofrimento de ter perdido, em muitos casos, tudo que tinham. Um empresário de Novo Hamburgo, na Região Metropolitana, que preferiu não ter o nome revelado na reportagem, conta que adquiriu 10 consórcios de forma legal. Quando a quadrilha conquistou a confiança dele, ofereceu uma suposta carta contemplada no valor de quase 1 milhão. Confiando nos vendedores, o empresário chegou a pagar R$ 180 mil até descobrir que havia sido enganado.
— Estou trabalhando quase todas as horas do dia, eu só durmo, para poder recuperar esse dinheiro para fazer a empresa funcionar. E sem contar que é vergonhoso, não sou um qualquer, tenho universidade, tenho estudo, e acabei caindo igual — relata.
Ele fala que, a partir do grupo, notou que a quadrilha sempre age da mesma forma:
— Conheci outras pessoas que caíram no golpe, e a história é sempre a mesma.
Entenda
O consórcio é formado por um grupo de pessoas que pagam parcelas mensais para formar um fundo com o objetivo de adquirir um bem, como carro ou imóvel. A liberação das cartas contempladas se dá por sorteio ou lance — que tem o objetivo de quitar de uma só vez o maior número possível de parcelas. Quem dá um lance maior, é premiado. Muitas vezes, quem é contemplado não usufrui do dinheiro e decide vender a carta que dá direito ao crédito, cobrando, geralmente, um valor maior que o número de parcelas já pagas.
Cuidados
A Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac) forneceu dicas de como evitar ser enganado:
- Antes de adquirir um consórcio, leia todo o regulamento da proposta;
- Verifique se a administradora da proposta possui registro no Banco Central;
- Entre em contato com a administradora para verificar a autenticidade da carta de crédito.