A paixão pelo Internacional que vincula Fabio Panyagua Borges ao convívio com as torcidas organizadas e levou grande número de amigos ao seu funeral, nesta sexta-feira (27), ficou em segundo plano entre as linhas apuradas pela Polícia Civil em busca de esclarecer o crime ocorrido na madrugada de quinta (26). O líder da torcida Nação Independente foi assassinado com tiros quando confraternizava com amigos na Avenida 17 de Abril, no bairro Guajuviras.
A Delegacia de Homicídios de Canoas trabalha com pelo menos três possibilidades e busca ouvir o máximo de testemunhas e tomar depoimentos das pessoas mais próximas a Borges. Em manifestação enviada à imprensa no início da noite desta sexta-feira (27), o delegado responsável pelo inquérito, Arthur Reguse, afirma que seis testemunhas foram ouvidas dentre familiares da vítima, o amigo que estava com ele no momento do crime e o responsável pelo estabelecimento comercial no qual eles estavam no entorno consumindo bebidas alcoólicas. Segundo Reguse, não há elementos que possam indicar que tenha existido briga entre torcidas organizadas.
— No local não estava tendo nenhuma confraternização de torcidas organizadas, as pessoas não estavam identificadas tampouco a vítima identificada com uniforme de torcida organizada. Durante o crime não houve nenhuma menção com relação a esse tipo de fato, razão pela qual as investigações estão apontando para outras linhas e deixando a questão de eventual briga de torcidas e um acerto de contas de um homicídio vinculado a esse tipo de fato em segundo plano — explica Reguse.
Para o delegado, duas linhas de investigação tornaram-se as principais para esclarecer a motivação do assassinato.
— Ele era usuário de drogas e em virtude disso poderia ter acarretado uma dívida envolvendo seu vício. E outra linha que aponta a possibilidade de ele ter se envolvido com uma mulher e em virtude do envolvimento com ela ter sido executado.
Uma terceira possibilidade é a execução estar ligada a possível dívida envolvendo tomada de dinheiro com agiotas. A Polícia Civil está em busca de imagens para avançar na investigação. Conforme Reguse, se no curso do inquérito chegarem a outras informações que possam indicar conflito entre torcidas, esta linha será retomada.
O delegado revela ter ouvido relatos de diversos familiares e de pessoas que estavam próximas ao local do crime na noite da última quinta. Reguse comenta que a dinâmica indica a ocorrência de uma execução planejada.
— Dois homens armados desceram de um automóvel. Aproximaram-se a pé e alvejaram diversas vezes a vítima. A perícia recolheu estojos deflagrados de pistolas 9mm e calibre .40 — relata o delegado.
Colegas reforçam liderança positiva exercida por Borges
Presente nas homenagens que antecederam o sepultamento nesta sexta, o motorista de transporte por aplicativo Leonardo Paim, 39 anos, conhecido entre os colegas como Buchecha, destacava o comportamento pacífico de Fabio, ou Fabinho, como era chamado no grupo.
— A gente era como irmãos. Amigos e colegas de torcida há mais de 20 anos. Era nossa principal liderança em Canoas. Um cara positivo, da paz, que praticava serviço voluntário e obra de caridade — declarou Paim.
Segundo ele, Borges era fundador do Comando Trem, grupo canoense integrante da Nação Independente do Inter, que se reunia no último vagão dos veículos da Trensurb no deslocamento para os jogos em Porto Alegre.
— Ele puxava o hino, a grito de guerra da torcida. A gurizada seguia a liderança dele. Chegavam no centro de Porto Alegre e caminhavam cantando até o Beira-Rio. Era um ritual que unia as pessoas — completou Paim.
Também colega, o vendedor Alexandre Jochims, 54 anos, conhecido no grupo como Magrão, lembrava que "Fabinho" mantinha reuniões da organizada em sua casa e agregava mais torcedores ao grupo com seu carisma.
— Era um cara muito responsável. Por muito tempo, foi a referência para agregar os colorados desde Novo Hamburgo até Porto Alegre. É uma perda enorme para todos que o conheciam — descreveu Jochims.