A comunicação do sequestro de uma criança de dois anos na zona sul de Porto Alegre mobilizou forças de segurança entre a noite da sexta-feira (22) e a madrugada deste domingo (24). O desfecho ocorreu com o encontro do menino no bairro Restinga, na Capital, e a confirmação de que se tratava de falso sequestro, orquestrado pela mãe da criança e outros familiares com o objetivo de prejudicar um homem que foi tio do menino.
A mãe, 20 anos, uma tia, 32 anos, e o companheiro dessa tia, 30 anos, foram presos em flagrante por denunciação caluniosa e associação criminosa. Também foram enquadrados no artigo 232 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que prevê condenação a quem "submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento".
A criança foi encontrada com um casal em uma residência na Vila Vale do Salso, na Restinga. A mulher e o homem contaram ter recebido R$ 300 para cuidar do menino por alguns dias. O trabalho foi coordenado pela Divisão Especial da Criança e do Adolescente (Deca) e pela 1ª Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (1ª DPCA).
Ao procurar a polícia para registrar o sumiço da criança, na noite de sexta-feira, a mãe relatou que o filho havia sido arrancado do colo dela por pessoas em um carro Sandero branco. Mensagem com esse teor foi lançada na internet com foto do menino e compartilhada ao longo do final de semana em grupos de WhatsApp por pessoas que pediam ajuda na localização da vítima.
À polícia, a mãe indicou um ex-cunhado (ex-marido da tia que foi presa) como responsável pelo sequestro.
— Quando verificamos a quantidade de ocorrências envolvendo a mãe, a tia e esse ex-cunhado, ex-marido dessa tia, ficamos bem preocupados com a possibilidade de ser um caso de vingança com uso da criança — disse a delegada Caroline Bamberg Machado, diretora do Deca.
A partir do comunicado da mãe, foram mobilizados outros setores da segurança: a Brigada Militar, que passou a fazer buscas e abordagens a veículos, a Delegacia de Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) - especializada em casos de sequestros -, o Departamento de Polícia Metropolitana (DPM), a Guarda Municipal e o Conselho Tutelar, além da participação dos órgãos do Departamento Estadual de Proteção a Grupos Vulneráveis (DPGV).
O homem apontado pela mãe e pela tia do menino como suspeito foi levado para a delegacia para ser ouvido. Outros familiares também prestaram depoimento. O homem havia estado preso recentemente em função de ocorrências feitas pela mãe e a tia do menino. Os vários registros policiais envolviam situações de ameaças mútuas, Lei Maria da Penha e até estupro.
Há também uma disputa judicial pela guarda de um menino de seis anos, filho da tia do suposto sequestrado e do ex-marido dela, o mesmo que foi apontado como autor do sequestro. O homem havia sido solto no dia 21 de setembro. No dia 22, foi registrado o falso sequestro.
Como os relatos apresentavam contradições, os policiais passaram a conferir ligações e mensagens para tentar esmiuçar as circunstâncias do caso. Conforme a delegada Camila Franco Defaveri, o trio fez narrativas confusas e contraditórias tentando ludibriar os policiais.
Até que houve a confissão sobre terem forjado o caso. O atual companheiro da tia do menino confessou a armação, dizendo se tratar de ideia da cunhada - mãe da criança. Por fim, os três admitiram que forjaram o sequestro. Os policiais então foram levados à casa em que estava a criança.
Por volta da meia-noite de sábado, houve emoção e comemoração entre os policiais ao resgatarem a criança em boas condições. Ele saiu do local no colo de um agente e carregando um brinquedo de pelúcia. Com o acompanhamento do Conselho Tutelar, a polícia optou por deixar as duas crianças - o suposto sequestrado e o primo, de seis anos, filho da tia que foi presa - com a avó materna. A ideia inicial foi de não afastá-los de familiares para não causar mais sofrimento aos meninos já envolvidos na situação.
— A investigação continua até para vermos se a armação teve a participação de mais pessoas, outros familiares e o casal que, inicialmente, apenas estava cuidado do menino — explicou a delegada Caroline.
Os nomes dos presos não foram divulgados pela polícia a fim de proteger a identidade da criança vítima.