
A mesma energia empreendida a cada ataque na entrada de rede e o mesmo sorriso dado a cada bola colocada no chão também são despendidos por Fernanda Garay nos cuidados com Aurora, quatro meses de idade.
A ex-ponteira da seleção brasileira de vôlei viverá um fim de semana especial. Neste sábado (10), comemora 39 anos de vida. No domingo (11), passará o seu primeiro Dia das Mães como mãe.
Aprendizado
Medalha de ouro em Londres 2012, Garay se aposentou depois de conquistar a prata nos Jogos de Tóquio, em 2021. Deixou as quadras para ser mãe. Com sonhos esportivos realizados, demorou mais do que o esperado para atingir esta realização pessoal. Aurora nasceu em 10 de janeiro deste ano.
— Ela demorou mais do que eu imaginei para vir. Foi o meu primeiro grande aprendizado. A primeira lição foi de que as coisas não acontecem no meu tempo. Depois veio toda a gestação. Essa coisa de já não ser só o meu corpo. Não é como treinar pensando num adversário ou focar naquilo ali que você sabe que vai acontecer — explica.

Disciplina
De certo modo, a disciplina para ser uma atleta de alto nível se repete na hora de cuidar de Aurora. Parte do que apreendeu no esporte, ela transpõe para este novo desafio.
— Eu descobri que a maternidade é um tanto quanto desafiadora. Tem momentos de muita alegria, onde tudo faz sentido. Mas também tem muitas coisas que nos desafiam. É tudo para ela (Aurora). E esse é um aprendizado muito grande, essa doação. A amamentação é uma das coisas mais desafiadores nesse momento. Acho que toda essa minha experiência como atleta, de traçar uma meta, de correr atrás, de fazer sacrifícios me fortalece para esses novos desafios — conta.
— É quase como encarar um bloqueio triplo em uma final olímpica — brinca o repórter.
— Em vários momentos, sem dúvida — responde Garay, enquanto Aurora balbucia como se concordasse com a afirmação da mãe.
A maternidade tem momentos de muita alegria, onde tudo faz sentido. Mas também tem muitas coisas que nos desafiam.

Mudança no esporte
O esforço olímpico de encarar bloqueadores gigantescas como Yekaterina Gamova, Yang Junjing, Milena Rašić e Foluke Akinradewo necessitava de dedicação exclusiva. Diferentemente de outras companheiras, Garay optou completar o ciclo como atleta para depois se dedicar à vida de mãe.
Durante a carreira, ela viu o esporte modificar o tratamento com as mães-atletas. Nos Jogos Olímpicos de Paris, pela primeira vez, a Vila Olímpico teve um espaço para as mães amamentarem seus filhos.
— Eu não queria me dividir. Eu abri mão de muitas coisas. Minha vida pessoal sempre ficou em segundo plano. Ser mãe era algo que eu gostaria de viver plenamente. Eu não gostaria de ter que fazer minha mala e me despedir (da Aurora) e voltar depois do jogo ou da viagem. Escolhi ser a melhor jogadora que eu poderia ser. Mas também vejo o esporte também nesse ambiente mais acolhedor para as mães — conta.
Vejo o esporte também nesse ambiente mais acolhedor para as mães

Dedicação exclusiva
Ainda não há planos profissionais futuros. Seu calendário ainda aponta dedicação exclusiva com Aurora. A intenção é seguir neste ritmo até a filha completar seis meses de vida. Só então, começará a desenhar novos projetos.
O primeiro Dia das Mães de Garay será como a medalha no peito após a conquista de um título importante. Aquele pedaço redondo de metal dá sentido a todo esforço. Ter Aurora nos seus braços terá o mesmo significado.
— Vivo dias especiais desde a chegada dela. E agora, chegando esse dia de celebrar as mães, de celebrar a maternidade vai dar sentido a tudo. Estou emocionada mesmo.

No fim da conversa, ela deixou um recado para o marido, o publicitário Marcio Santos. Ainda há tempo de atender o desejo.
— Sabe aquele café da manhã que a gente faz para as mães? Eu quero aquele café da manhã, com café na cama. É tudo que eu desejo para o Dia das Mães, que eu tenha essa memória afetiva.
