A filha, o genro e a ex-mulher de um agricultor de Segredo, no Vale do Rio Pardo, irão a júri a partir desta segunda-feira (25) por um crime que aconteceu há três anos. Calinca Maria Lopes de Souza, 26 anos, a mãe dela, Hulda Maria Lopes de Souza, 43, e João Ricardo Prestes, 29, são acusados de terem planejado o assassinato do produtor rural José Darício de Souza, 43 anos, e do peão da propriedade Mazonde Rodrigues de Nepomuceno, 64. Os dois foram mortos a tiros em maio de 2020.
A estimativa é de que o julgamento dos três réus se estenda por pelo menos dois dias. Segundo a acusação, o trio teria planejado a execução de Souza, por motivação financeira. Para isso, teria sido forjado um assalto à propriedade. Um quarto réu, apontado como o criminoso contratado por R$ 5 mil para executar as vítimas, responde a processo separado. No caso dele, o júri foi agendado para o dia 20 de novembro, às 9h.
Segundo a acusação, a intenção de mãe e filha com a morte do agricultor era receber uma apólice de seguro de vida em nome dele. A desconfiança sobre a participação da filha no crime surgiu logo após as mortes, quando a polícia suspeitou do comportamento de Calinca. Num primeiro momento, a jovem negou participação no crime, mas, três dias depois, admitiu ter planejado a execução do pai. Segundo a polícia, ela detalhou ter planejado o crime por dois meses. Calinca e o companheiro foram os primeiros presos.
Alguns dias depois, Hulda também foi detida, por suspeita de envolvimento no assassinato do ex-marido. Ao ser levada para a delegacia, confirmou, segundo a polícia, que sabia do plano da filha. Hulda estava separada de Souza havia cerca de dois meses quando aconteceu o crime. Em depoimento, disse que a família estava brigando pela divisão do patrimônio que incluía a propriedade rural, veículos, dinheiro no banco e a safra de tabaco daquele ano. Hulda alegou que entendia que sairia perdendo na divisão patrimonial porque o ex-marido teria dito que ela ficaria sem nada.
"Esperamos por justiça", diz familiar
Pai de dois filhos, o peão Nepomuceno trabalhava na propriedade auxiliando Souza nas lidas rurais durante a semana e retornando aos fins de semana para casa.
— Isso tudo pegou a família de surpresa. Jamais imaginariam um fato como esse. Ele gostava muito de trabalhar lá. O José Darício era uma pessoa de boa índole. Tratava muito bem, acolhia bem — relata um familiar, que prefere não ser identificado.
A família diz que aguarda pelo desfecho do caso e pretende acompanhar os desdobramentos do julgamento.
— Esperamos por justiça. Elas (as rés) foram até no velório, tudo mais, choraram perante os dois corpos. Nós agradecemos a polícia, a delegada (Graciela Chagas, responsável pela investigação), que descobriu os envolvidos. Queremos um julgamento justo e que sirva de exemplo. Vidas não têm preço, não há dinheiro que pague vidas. Acho que essa mensagem tem que ficar para a sociedade como um todo — diz o familiar.
O júri
O julgamento ocorre no Fórum de Sobradinho, no Vale do Rio Pardo. A sessão está prevista para se iniciar às 8h, com o sorteio dos nomes dos sete jurados que vão integrar o Conselho de Sentença. Logo depois, começarão a ser ouvidas as nove testemunhas. Pelo Ministério Público, foram indicadas duas para falarem no júri, e pelas defesas dos réus, sete.
Após as oitivas, os três réus poderão falar sobre o processo — eles podem permanecer em silêncio, se assim desejarem. Em seguida, iniciam-se os debates, quando a acusação terá duas horas e meia para apresentar os argumentos. As três defesas, juntas, terão o mesmo tempo. Caso haja réplica e tréplica, o tempo é de duas horas para o MP e as defesas.
Os três respondem por homicídio triplamente qualificado — o genro é acusado ainda de furto qualificado, pois teria levado após o crime uma chaleira elétrica, uma televisão e um celular. Por fim, caberá à juíza Camila Oliveira Maciel Martins, em caso de condenação, estabelecer o tempo de pena.
O crime
Segundo a denúncia, os réus teriam forjado um assalto à propriedade de Souza, na localidade de Rincão Nossa Senhora Aparecida. A filha e o genro teriam buscado em Candelária, no carro da ex-mulher do agricultor, o matador de aluguel previamente contratado. Depois, os três teriam seguido até a propriedade.
Um dos responsáveis pela acusação, o promotor de Justiça Renan Loss aponta Calinca e Hulda como responsáveis por planejar a execução. A filha e a ex-mulher teriam sido as mandantes do plano, considerado "macabro" pelo Ministério Público. Elas teriam sido as responsáveis por arregimentar o executor.
— A filha ainda levou o assassino de aluguel até o local das execuções, e a ex-mulher forneceu o carro utilizado no dia — disse o promotor.
Na propriedade, segundo o MP, a filha e o genro, simulando uma visita ao agricultor, desceram do carro e atraíram ele e seu funcionário para uma conversa dentro da casa. Na sequência, o matador de aluguel entrou na residência e, fingindo tratar-se de um assalto, amarrou Souza. O genro, segundo o promotor Eugênio Amorim, que também atuará no julgamento, teria amarrado o empregado durante o falso roubo.
O matador teria levado Souza e Nepomuceno para o pátio, ambos com as mãos amarradas para trás, e atirado na nuca dos dois. Os três réus teriam escapado do local no mesmo carro em que chegaram. O crime foi descoberto no dia seguinte, quando dois transportadores de tabaco foram até a propriedade e encontraram os corpos.
Contrapontos
O que diz a defesa de Calinca Maria Lopes de Souza
Os advogados José Felipe Lucca e Márcio Gratival informaram que a defesa pretende se manifestar à imprensa somente após o júri.
O que diz a defesa de Hulda Maria Lopes de Souza
GZH entrou em contato com o advogado Michel França da Silva e aguarda retorno.
O que diz a defesa de João Ricardo Prestes
Responsável pela defesa, o advogado Maurício Batista da Silva informou que só pretende se manifestar após o julgamento.