A Polícia Civil divulgou nesta sexta-feira (22) que a mulher morta junto com os pais em São Jorge, na Serra, denunciou o ex-marido em duas oportunidades. O último registro policial foi feito na quinta-feira (21), dia anterior ao crime.
De acordo com o delegado Tiago Baldin, em julho de 2022, a mulher de 36 anos fez um registro de violência doméstica contra o ex-marido após ele agredi-la e agredir os pais dela. Ainda segundo o delegado, o pedido de medida protetiva para a mulher foi negado pelo Judiciário, mas concedido apenas aos pais dela com base no Estatuto do Idoso.
Na quinta-feira (21), a mulher fez um novo boletim de ocorrência contra o ex-marido por perturbação após ele descobrir que ela estava em um novo relacionamento. Entretanto, não foi feito novo pedido de medida protetiva.
— Esse é um clássico caso de um agressor covarde que, além de atentar contra a sua ex-companheira, mãe de sua filha de quatro anos de idade, também atentou contra dois idosos — explicou o delegado ao Pioneiro.
O delegado disse ainda que, ao saber do crime, se deslocou ao local e constatou uma "verdadeira chacina". Ainda segundo ele, foi recuperada a arma usada no crime, uma espingarda calibre 12, bem como diversas munições do mesmo calibre. Após, os policiais também se deslocaram até a residência do autor das mortes e encontraram grande quantidade de munições.
A mulher morta e o ex-marido eram funcionários públicos e trabalhavam na prefeitura de São Jorge, que decretou luto oficial de três dias. A notícia da morte se espalhou por volta das 6h e a prefeitura não abriu para atendimento externo. Um lenço preto foi fixado na porta.
As informações preliminares da Polícia Civil indicavam que, antes de cometer o triplo homicídio, o homem teria ido até a casa do ex-sogros buscar a filha de quatro anos e levado a menina, que morava com a mãe na casa dos avós, para a casa dos padrinhos.
Porém, de acordo com o relato da Brigada Militar, o padrinho da criança, que é cunhado do autor, relatou à BM que o homem havia ligado para ele, pedindo que fosse até a casa da mulher buscar a filha do casal.
Ao chegar na moradia, que fica no interior do município, o padrinho pegou a menina, que estaria chorando, voltou para a área central e acionou a BM. Uma guarnição foi até o local e se aproximou da casa com cuidado, já que o cunhado havia relatado aos policiais que ele tinha arma de fogo e, pelo temperamento, poderia entrar em confronto.
As vítimas foram encontradas já sem vida. Ao lado do corpo do homem, havia uma espingarda calibre 12. Os nomes das vítimas e do autor não são divulgados para não expor a filha do casal, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Prevenção ao feminicídio
- Se estiver sofrendo violência psicológica, moral ou mesmo física, busque ajuda imediatamente. Não espere a violência evoluir. Converse com familiares, procure unidades de saúde, centros de referência da mulher ou a polícia. É possível acessar a Delegacia Online da Mulher
- Caso saiba que alguma mulher está sofrendo violência doméstica, avise a polícia. No caso da lesão corporal, independe da vontade da vítima registrar contra o agressor, dado a gravidade desse tipo de crime
- Se estiver em risco, procure um local seguro. Em Porto Alegre, por exemplo, há três casas aptas a receberem mulheres vítimas de violência doméstica
- Siga todas as orientações repassadas pela polícia ou pelo órgão onde buscar ajuda (Ministério Público, Defensoria Pública, Judiciário)
- No caso da lesão corporal, o exame pericial para comprovar as agressões é essencial para dar seguimento ao processo criminal contra o agressor. Procure realizar o procedimento o mais rápido possível
- Caso passe por atendimento em alguma unidade de saúde, é possível solicitar um atestado médico que descreva as lesões provocadas
- Reúna todas as provas que tiver contra o agressor, como prints de conversas no telefone. No caso das mensagens, é importante que apareça a data do recebimento
- Se tiver medida protetiva, mantenha consigo os contatos principais para pedir ajuda. A Brigada Militar mantém em pelo menos 114 municípios unidades da Patrulha Maria da Penha que fiscalizam o cumprimento da medida
- Se tiver medida protetiva e o agressor descumprir, comunique a polícia. É possível acionar a Brigada Militar, pelo 190, ou mesmo registrar o descumprimento por meio da Delegacia Online. Descumprimento de medida pode levar o agressor à prisão
Fonte: Polícia Civil e Poder Judiciário do RS
Onde pedir ajuda
Brigada Militar
- Telefone — 190
- Horário — 24 horas
- Serviço — atende emergências envolvendo violência doméstica em todos os municípios. Para as vítimas que já possuem medida protetiva, há a Patrulha Maria da Penha da BM, que fiscaliza o cumprimento. Patrulheiros fazem visitas periódicas à mulher e mantêm contato por telefone
Polícia Civil
- Endereço — Delegacia da Mulher de Porto Alegre (Rua Professor Freitas e Castro, junto ao Palácio da Polícia), bairro Azenha. As ocorrências também podem ser registradas em outras delegacias. Há 23 DPs especializadas no Estado
- Telefone — (51) 3288-2173 ou 3288-2327 ou 3288-2172 ou 197 (emergências)
- Horário — 24 horas
- Serviço — registra ocorrências envolvendo violência contra mulheres, investiga os casos, pode solicitar a prisão do agressor, solicita medida protetiva para a vítima e encaminha para a rede de atendimento (abrigamentos, centros de referência, perícias, Defensoria Pública, entre outros serviços)
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.