Uma organização criminosa teria feito 50 mil vítimas no Brasil e no Exterior, convencendo-as a investir dinheiro com a promessa de retornos financeiros exorbitantes. O esquema, que tinha como base uma teoria de conspiração, oferecia supostos ganhos de um "octilhão" de reais, ou 350 "bilhões de centilhões" de euros. Além dos valores absurdos, o golpe se diferencia por ser majoritariamente aplicado contra fiéis de igrejas evangélicas. Muitos dos suspeitos se identificam como pastores.
A Polícia Civil do Distrito Federal realizou na quarta-feira (20) a Operação Falso Profeta, para cumprir dois mandados de prisão preventiva e 16 mandados de busca e apreensão, na investigação deste esquema. Uma pastora foi presa em Jaraguá do Sul, Santa Catarina. O nome dela não foi divulgado. Os crimes investigados são falsificação de documentos, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionato por meio de redes sociais (fraude eletrônica).
Segundo a polícia, os golpistas se aproveitam das crenças religiosas das vítimas para manipulá-las, convencendo-as, frequentemente por meio de mensagens em redes sociais, a investirem suas economias em operações financeiras fictícias ou projetos falsos de caridade, com a promessa de retornos financeiros.
A investigação aponta que eles afirmavam que com um depósito de apenas R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta a quantia de um octilhão de reais — 1 seguido de 27 zeros, valor maior que a soma das economias de todos os países do mundo. O convencimento das vítimas tinha como base uma teoria conspiratória, baseada em notícias falsas, chamada "Nesara Gesara" (saiba mais abaixo).
A Polícia Civil do DF investiga o esquema há cerca de um ano e afirma que este é um dos maiores golpes já investigados no Brasil, com mais de 50 mil vítimas de diversas camadas sociais e localizadas em quase todos os Estados do país. O grupo teria cerca de duzentos membros, incluindo dezenas de supostos líderes evangélicos.
"O grupo é composto por cerca de duzentos integrantes, incluindo dezenas de lideranças evangélicas intitulados pastores, que induzem e mantêm em erro as vítimas, normalmente fiéis que frequentam suas igrejas, para acreditar no discurso de que são pessoas escolhidas por Deus para receber a 'bênção', ou seja, as quantias milionárias", diz nota da polícia sobre a operação.
Empresas falsas
Os criminosos usariam empresas fictícias, com altos valores de capital declarados, que eles diziam ser instituições financeiras digitais. Estas companhias seriam responsáveis por distribuir as supostas fortunas. Para dar aparência de legalidade às operações, os suspeitos também assinavam contratos falsos com as vítimas.
A investigação revelou que o grupo movimentou R$ 156 milhões nos últimos cinco anos. Foram identificadas ao menos 40 empresas falsas usadas pelos estelionatários, e mais de 800 contas bancárias suspeitas.
Nesara Gesara
A teoria "Nesara Gesara" tem como base uma tese de doutorado publicada nos Estados Unidos no início dos anos 90. Harvey Francis Barnard propôs o National Economic Security and Recovering Act (Nesara) (Ato para Recuperação e Segurança da Economia Nacional, em tradução literal), que previa uma revisão da política econômica estadunidense, com o fim do imposto de renda, por exemplo. Ele tentou convencer o congresso a adotar a proposta, mas não teve sucesso.
Já nos anos 2000, as ideias de Barnard foram usadas em uma teoria de conspiração, com a difusão de notícias falsas de que o ex-presidente dos EUA Bill Clinton havia aprovado a Nesara e que os atentados de 11 de setembro tinham sido planejados pelo próprio governo americano para impedir a implementação das medidas.
Durante a pandemia de covid-19, a teoria voltou a se espalhar e foi transformada em Gesara, ou Global Economic Security and Recovering Act. As fake news afirmam que a proposta vai unificar as moedas de todos os países e promover uma "redistribuição de renda" global. Os golpistas usam esta história inverídica para convencer as pessoas a apoiarem, financeiramente, o projeto de implantação da Gesara, prometendo que elas serão as primeiras beneficiadas pela nova organização da economia, recebendo os valores exorbitantes prometidos.