Seguindo a tendência de queda vista ao longo do ano, o mês de agosto registrou nova redução no número de estelionatos no Rio Grande do Sul. Foram 5.582 casos registrados no mês passado, uma diminuição de 29,23% frente ao mesmo período em 2022, que teve 7.888 ocorrências. Ainda assim, os números seguem altos: ao dia, são registrados 180 casos em que golpistas inventam histórias para obter vantagem financeira de vítimas no Estado. Em um dos tipos de fraudes, considerada mais ousada, os criminosos se passam por autoridades gaúchas para exigir valores.
Ao longo do ano, o delito também teve redução. Entre janeiro e agosto de 2023, foram 56.797 ocorrências, contra 64.347 no mesmo período no ano passado, uma queda de 11,73%.
A Polícia Civil, responsável pela investigação dos crimes, atribui a queda a dois fatores principais: prevenção e repressão. A primeira frente de trabalho consiste em conscientizar a população e alertar para contatos, virtuais ou presenciais, feitos por desconhecidos.
— Há campanhas e ações das instituições neste sentido, para orientar e educar a comunidade dos riscos. O cidadão precisa estar instruído a desconfiar, redobrar a atenção, a cada vez que receber um link, uma ligação, um contato de algum estranho, que pede que ele tome alguma medida fora de canais oficiais — pontua o delegado Filipe Bringhenti, que responde temporariamente pela Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
A outra frente de trabalho consiste na repressão aos casos. Ela se dá por meio de "investigações qualificadas, feitas por equipes preparadas e experientes", que atuam para identificar grupos golpistas e buscar suas responsabilizações, diz Bringhenti.
Um dos entraves na investigação deste tipo de delito, segundo a polícia, é o fato de que as penas são mais brandas e dificilmente levam a prisão. Assim, mesmo se for pego, o golpista costuma voltar a aplicar golpes.
— Para esse delito, não há pena dura suficiente para manter o indivíduo preso por tempo significativo, pelo fato de não ser um crime violento. O criminoso logo é colocado em liberdade e se reinventa, mudas algumas estratégias, mas segue atuando em razão do lucro que obtém. Mas temos trabalhado para sufocar essa criminalidade e o resultado vem sendo positivo, como vemos pela constante redução dos números.
Constrangimento e subnotificação
Em crimes desse tipo, sabe-se que há subnotificação, quando as vítimas deixam de registrar os casos, seja por medo ou vergonha, e os delitos não chegam às autoridades. Segundo as autoridades, especialmente as pessoas mais vulneráveis, como os idosos, ficam constrangidas ao sofrer algum golpe, ao se darem conta que foram enganadas, e também temem ser repreendidas por familiares, por exemplo.
— Há vários delitos que geram constrangimento nas pessoas, e este é um deles. Seja por ter de reconhecer que foram ludibriadas ou mesmo pelo prejuízo financeiro gerado. As pessoas mais instruídas também acabam se sentindo muito envergonhadas. Por uma série de fatores, muitas vítimas deixam de tomar providências — explica Bringhenti.
Há ainda outras vítimas que deixam de fazer os registros por não acreditarem que seja possível reparar o prejuízo financeiro.
O delegado destaca, no entanto, que o registro da ocorrência é fundamental para que a forças de segurança do Estado tomem conhecimento sobre o cenário no RS e organizem ações de combate.
Golpistas se passam por diretor de Homicídios do Estado
Para assustar as vítimas, criminosos chegam a se passar por autoridades, fazendo ameaças e cobrando valores.
Em uma das estratégias de criminosos, nome e fotos do diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foram usados. O delegado Mario Souza afirma que não é a primeira vez que toma conhecimento do uso indevido de sua imagem, mas que observou aumento de casos recentemente.
— Nas últimas semanas, recebi vários relatos de pessoas me avisando, mandando mensagem no WhatsApp, no Instagram, querendo confirmar se era eu mesmo que havia feito contato com elas. Infelizmente, acontece muito. Recebo mensagens assim de várias partes do país. Mas não é de hoje que usam meu nome, a primeira vez tomei conhecimento foi há pelo menos dois anos.
Conforme o delegado, em um dos casos, o criminoso se passa por uma jovem e começa a enviar fotos íntimas a homens nas redes sociais. Depois, uma segunda pessoa entra em contato com esse homem, se passando por familiar da jovem e dizendo que ela é menor de idade e que irá denunciá-lo — esses casos ficaram conhecidos como "Golpe dos Nudes". Por fim, uma terceira pessoa manda mensagens ao homem, se identificando como o delegado e cobrando uma quantia em dinheiro para os "custos da investigação" ou para arquivar o inquérito.
Em razão do aumento de relatos, o diretor fez uma postagem, recentemente, reforçando que "não faz contato por WhatsApp nem por redes sociais" para tratar sobre "nenhum ato de investigação, como intimar e mostrar documentos".
— Não consigo responder todas as mensagens que recebo, então periodicamente faço esses avisos nas redes. Infelizmente, tem pessoas que caem nesse golpe, sei de gente que acabou repassando dinheiro.
O diretor ressalta que autoridades, de quaisquer instituições, só fazem contato por canais oficiais, e reforça que todos os casos, mesmo quando o golpe não se consuma, devem ser registrados na polícia.
Algumas dicas para não cair em golpes
- Criminosos criam falsos sites, semelhantes aos reais, para enganar os usuários. Verifique a URL do site para garantir que seja o oficial. É necessário que o endereço, começando com "https", exiba um cadeado. Não acesse links na internet cuja segurança não seja garantida. Desconfie.
- Não acredite em lucro fácil ou vantagens que pareçam muito atrativas. Essa é a principal estratégia dos golpistas para atrair vítimas. Não acredite em desconhecidos que lhe abordam na rua ou por telefone.
- Converse com familiares, amigos ou mesmo gerente de banco se tiver desconfiança. Estelionatários tentam criar meios de impedir que a vítima busque orientação, como mantê-la ao telefone, para que não seja alertada.
- Se receber ligação ou mensagem informando ser de sua agência bancária, desconfie se lhe pedirem informações pessoais, códigos ou formas de acessar seu telefone. Desligue e entre em contato com o número oficial do banco ou do gerente, caso tenha acesso.
- Tome cuidado ao imprimir segunda via de boleto em sites e ao fazer compras online. Golpistas podem criar sites falsos para enganar os clientes.
- Não faça depósitos bancários e nem recargas de celulares para quem não conhece.
- No caso dos leilões, verifique se os leiloeiros estão cadastrados junto ao Judiciário. As contas para depósito em leilões oficiais não são de pessoa física ou jurídica e, sim, judicial.
- Se receber contato por telefonema ou mensagem de familiar pedindo ajuda, certifique-se de que é real. Telefone para a pessoa antes de qualquer transferência. Converse com outros parentes antes de fazer qualquer depósito.
- No WhatsApp, habilite a verificação em duas etapas e não forneça esse tipo de código por telefone. O mesmo cuidado vale para outros aplicativos – de compras e bancos – que tenham o recurso de verificação em duas etapas.
- Em alugueis de imóveis, desconfie de preços abaixo do mercado, se o dono exigir adiantamento e tiver pressa para que o depósito seja feito ou mesmo se o proprietário não aceitar atender a ligações ou se recusar a receber visita do locatário, para conferir a casa.
- Ao fazer uma reserva, os viajantes devem dar preferência aos pagamentos seguros, como cartões de crédito ou serviços de modalidade de pagamento online. Evite fornecer informações pessoais, como números de conta bancária, por e-mail ou em sites não seguros.
- Se estiver vendendo algo, não entregue o bem antes de ter certeza de que recebeu o valor do pagamento. Depósitos só são confirmados pelo banco após a conferência do envelope. Então, aguarde para enviar a mercadoria.
- Se for vítima, registre o caso em uma delegacia da Polícia Civil ou pela Delegacia Online. Tente repassar aos policiais o máximo de informações sobre os golpistas.
Fonte: Enetsec e Polícia Civil-RS