Ações consideradas "ousadas" pela polícia, os roubos a joalherias e óticas cresceram no Rio Grande do Sul. Os registros no primeiro semestre dos últimos cinco anos mostram alta de 140% em 2023, quando foram 12 casos até junho, em relação ao mesmo período de 2019, quando foram cinco.
Na primeira metade de 2023, o RS teve, em média, dois assaltos a este tipo de estabelecimento a cada mês. Os dados foram obtidos junto à Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP-RS).
Conforme a secretaria, Porto Alegre é a cidade com mais roubos a joalherias ou óticas no período: cinco. Depois vem Passo Fundo, com três casos, sendo dois registrados no período de um mês. As demais ocorrências foram em cidades menores.
Apesar de os registros não serem tão numerosos, chama atenção a alta ao longo dos últimos cinco anos. Para a diretora do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegada Vanessa Pitrez, uma possível explicação para este aumento é o trabalho de forças de segurança para coibir outros tipos de delitos.
— A forte repressão ao roubo a banco, que era um crime de maior monta, com maior expressividade econômica, fez com que os episódios tivessem uma redução significativa, levou ao quase fim desses casos no RS. Pode ter sido um fator que fez os grupos migrarem para o roubo a joalherias, que é um delito que também traz vantagem econômica bastante expressiva — opina a delegada.
A Polícia Civil não divulga os valores levados por criminosos nas ações, "para não estimular os delitos".
A diretora explica que o Deic só investiga os roubos em joalherias ou óticas ocorridos na Capital. Mesmo assim, as equipes do departamento monitoram episódios registrados em outras partes do Estado, acompanhando as investigações de delegacias dos municípios.
Entre as ações de combate a este tipo de crime, a diretora do Deic ressalta a prisão do criminoso conhecido como Zoreia, considerado o principal foragido do RS, preso em julho Pará. Com condenações que somam 243 anos de reclusão, ele voltou a cumprir pena na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) após ser capturado.
Segundo a delegada, o homem tem antecedentes criminais por roubos a joalherias, especialmente na Região Noroeste.
— Ele seria o mandante de mais de um roubo a joalheria e em mais de um município gaúcho, e concentra a atuação no noroeste do Estado, há anos. Ordena esses assaltos para obter dinheiro, no objetivo de capitalizar seu grupo criminoso e atuar no tráfico de drogas. É importante destacar que, após a prisão dele, não foram mais registrados roubos do tipo nessa região — relata Vanessa Pitrez.
Dois casos em um mês na Capital
Em Porto Alegre, dois roubos a joalherias recentes, registrados no intervalo de um mês, chamaram atenção: ocorreram à luz do dia, dentro de shopping centers, diante de corredores movimentados. Por terem ocorrido entre julho e agosto, eles não estão contabilizados no balanço destacado acima.
Apesar da alta na comparação anual e destes registros nas últimas semanas, o delegado João Paulo de Abreu, que investiga ocorrências do tipo em Porto Alegre, não vê uma "onda" deste crime na Capital.
— Apesar destes dois casos recentes na cidade, não vejo um aumento significativo de delitos do tipo, uma onda que esteja ocorrendo. Mas, é claro, queremos solucionar o quanto antes esses episódios registrados em Porto Alegre, para que os indivíduos sejam presos e não continuem a praticar esses roubos — analisa Abreu, titular da 1ª delegacia de Repressão a Roubos do Deic.
Para não comprometer o trabalho das equipes, o delegado prefere não fornecer detalhes do inquérito e evita falar sobre uma possível ligação entre os episódios antes de aprofundar a apuração. Ele, afirma, no entanto, que a investigação está avançada:
— Já descobrimos muita coisa, mas a divulgação das informações neste momento pode prejudicar o trabalho.
Um dos casos ocorreu na manhã de 5 de agosto, quando dois homens assaltaram uma joalheria no Shopping Total, no bairro Floresta. Conforme a Brigada Militar, eles chegaram à loja anunciando o roubo e dizendo estar armados. A dupla fugiu levando cerca de 20 peças do mostruário, avaliadas em R$ 170 mil, segundo a BM. Ninguém ficou ferido.
No crime anterior, registrado em 8 de julho, também uma manhã de sábado, dois homens roubaram uma joalheria dentro do shopping Bourbon Wallig, na zona norte de Porto Alegre. A dupla rendeu um segurança do shopping, exigiu a abertura de um cofre e levou joias e dinheiro. Na sequência, os dois fugiram. Ninguém ficou ferido.
Denúncias e informações que possam levar à elucidação dos casos podem ser repassadas ao Deic pelo telefone 0800 510 2828.
"Audácia"
O titular da 1ª delegacia de Repressão a Roubos do Deic, João Paulo de Abreu, afirma que esse tipo de crime é cometido, em geral, por indivíduos com passagens anteriores por roubos e furtos, mas não costumam envolver, por exemplo, grupos do crime organizado.
— Não costuma haver uma grande organização para a prática desses roubos. Ainda assim, é um fato grave, sem dúvidas, que normalmente tem empenho de arma de fogo e ameaças às vítimas. É uma ação considerada de média complexidade, e é ousada, praticada à luz do dia, em shoppings, locais com movimento. Esses criminosos agem com audácia — avalia.
A maior preocupação, segundo o delegado, é a possibilidade de uma reação, seja por parte de funcionários das lojas ou pessoas que estejam circulando pelo shopping, que podem acabar em confronto com os criminosos.
— Para nós, isso significa um perigo concreto. O assalto pode levar a uma reação de quem o sofre ou assiste, até de algum segurança do local, o que pode resultar em pessoas feridas — comenta.
Policial frustra roubo em Passo Fundo
Também recentemente, já após o fim do primeiro semestre, mais um caso foi registrado em Passo Fundo. Em 20 de julho, câmeras de monitoramento flagraram a ação de dois homens em uma joalheria. Nas imagens, é possível ver a dupla entrar no local e anunciar o assalto.
Uma policial militar da reserva, que passava perto da joalheria, suspeitou da movimentação e entrou no local de arma em punho. Ela conseguiu render um dos assaltantes e colocá-lo no chão. O outro, no entanto, conseguiu empurrá-la e os dois escaparam, sem levar qualquer produto.
Contraponto
GZH procurou a Brigada Militar e a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para que comentassem a alta dos casos, mas as duas instituições preferiram não se manifestar.