O soldado Raul Veras Pedroso foi o terceiro e último dos réus a depor nesta quarta-feira (19) na Justiça Militar, em Porto Alegre, no caso da morte de Gabriel Marques Cavalheiro. Ele era um dos três policiais militares que abordaram a vítima, em São Gabriel, na Fronteira Oeste, em agosto do ano passado. Uma semana depois, o jovem de 18 anos foi encontrado morto no interior do município, dentro de um açude.
Em depoimento, Pedroso afirmou que a Brigada Militar foi acionada pela proprietária de uma casa, que teria dito que o jovem estaria forçando seu portão. Conforme o soldado, Gabriel tinha sinais de embriaguez e, em um primeiro momento, negou-se a deixar o local. Ao ser informado que a abordagem foi motivada pelo chamado da moradora da casa, ele teria aceitado se retirar, sem resistir. Gabriel disse que visitaria duas amigas na casa.
Pedroso argumentou, assim como os demais interrogados, que Gabriel pediu para ser deixado pela viatura na localidade de Lava Pé, onde foi encontrado morto na semana seguinte.
— Ele que deu o ponto (onde queria parar), passando o coleginho — disse o soldado.
Ainda de acordo com Pedroso, Gabriel foi algemado porque oferecia risco à própria segurança e à segurança dos policiais.
— Ele estava agitado — argumentou Pedroso.
O policial também disse que não conversou com os colegas sobre a redação do boletim de atendimento e que só teve conhecimento do conteúdo durante o inquérito. A informação de que Gabriel foi deixado em Lava Pé não constava no documento.
Depois de ver notícias nas redes sociais, Pedroso afirmou que trocou mensagens com o outro soldado, Cleber Renato Ramos de Lima, que também é réu pela morte de Gabriel. Eles teriam discutido sobre as possíveis causas da morte do jovem. Lima chegou a cogitar que a vítima poderia ter "caído em um açude", segundo os autos do processo.
Pedro garantiu ainda que nunca tinha ido na área na qual o corpo foi encontrado e comentou acreditar que a pessoa que matou Gabriel conhecia "muito bem" aquela região.
— Se tivesse feito alguma coisa (contra Gabriel), não faria um BA (boletim de atendimento) — afirmou o soldado.
Os depoimentos começaram pouco depois das 13h e se estenderam até por volta das 19h. Além de Raul Veras Pedroso, depuseram o soldado Cleber Renato Ramos de Lima e o sargento Arleu Júnior Cardoso Jacobsen. Após os interrogatórios, os policiais retornaram ao Presídio Militar da Capital.
Todos são réus na Justiça Militar por ocultação de cadáver e falsidade ideológica. Na Justiça comum, tramita o processo por homicídio doloso triplamente qualificado (motivo fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima).
Próximos passos
A sentença será proferida nesta quinta-feira (20), em audiência no mesmo local, o plenário da 1ª Auditoria Militar da Justiça Militar em Porto Alegre. As partes abriram mão da entrega dos memoriais e farão a sustentação oral das teses de acusação e defesa. Depois, os integrantes do Conselho Permanente de Justiça Militar votarão.
O Conselho Permanente tem cinco integrantes. Neste caso, a presidente do conselho é a juíza de Direito Viviane de Freitas Pereira. Ela será a primeira a manifestar o seu voto pela condenação ou absolvição. Na sequência, os demais integrantes, um oficial superior, neste caso um major, e outros três oficiais (capitães), proferem as suas decisões seguindo uma ordem do menor posto ou antiguidade até o voto do oficial mais graduado. A maioria dos votos decide o resultado. A sentença é proferida logo na sequência.
Relembre o caso
Gabriel desapareceu após abordagem da BM no dia 12 de agosto de 2022. Ele teria sido colocado por policiais dentro de uma viatura, após ser agredido. O corpo foi encontrado, uma semana depois, dentro de um açude.
Registros de GPS apontam que a viatura em que o jovem foi colocado esteve perto do açude, logo após a abordagem. A perícia determinou que ele morreu em decorrência de golpe por objeto contundente.