Ao cruzar pelo Mercado Público, no Largo Glênio Peres, um dos cartões postais de Porto Alegre, Maíra Santana, 29 anos, aperta o passo e segura a mochila, que carrega presa em frente ao corpo. Por duas vezes, ela já teve o celular levado por criminosos. Em razão disso, passou a circular mais atenta. Na Zona Norte, onde mora, também evita se descuidar, especialmente à noite.
— Em Porto Alegre, não me sinto segura — confidencia.
No primeiro semestre deste ano, a Capital teve ligeira redução nos assaltos a pedestres — queda de 5,5% no comparativo com o mesmo período do ano passado. Mas a média ainda é de 34 casos por dia, o que gera a sensação de insegurança como a relatada por Maíra. Quando comparamos os dados da Secretaria de Segurança Pública com anos anteriores, percebe-se que o cenário é bem mais favorável atualmente. Em 2019, por exemplo, essa média era de 63 assaltos por dia.
Também no Centro Histórico, perto dali, no meio da Praça da Alfândega, Jussara Barbosa, 44, usa o celular para fazer um vídeo e enviar a uma amiga que reside em Santa Catarina.
— Viu, amiga, como é lindo aqui — gira com o celular na mão.
A enfermeira, que mora em Cachoeirinha e passa todos os dias pelo centro da Capital a caminho do trabalho, garante que costuma se precaver, mas admite que se sente mais segura nessa região, por ser uma área mais aberta e pela circulação do policiamento. A enfermeira diz que nunca foi assaltada, o que considera "sorte", pois já presenciou outros pedestres sendo atacados, e costuma alertar as pessoas para não se colocarem em risco. Jussara diz que muda de postura quando ingressa em vias mais estreitas, como a Rua Uruguai, onde embarca todos os dias no ônibus para o trabalho.
— Vou guardar o celular e ficar de olho. Uso esse aqui mais antigo, que ninguém quer — brinca.
Os smartphones ainda são, realmente, os produtos mais visados pelos ladrões, que costumam se aproveitar de locais ou horários de grande fluxo de pessoas para atacar. No Centro Histórico, por exemplo, é comum ver pedestres com os aparelhos na mão, trocando mensagens ou em ligações. O bairro concentra a maior parte dos casos de roubos desse tipo na Capital.
— Hoje em dia, ninguém anda com dinheiro, mas um celular vale muito. Quem mais comete o roubo a pedestre é o desocupado, foragido, usuário de drogas, muitas vezes com arma branca (faca, por exemplo), para sustentar o vício. Nossa preocupação constante é que esses indivíduos estão sob efeito de drogas, e esse crime pode eventualmente evoluir para um latrocínio (roubo com morte) — diz o diretor da Delegacia de Polícia Regional de Porto Alegre, delegado Cléber Lima.
Presos e apreensões
No primeiro semestre deste ano, foram presos em Porto Alegre, segundo a Brigada Militar, 152 suspeitos de envolvimento em casos de roubos a pedestres. A maior parte deles, 82, foi detida na região central da Capital. À frente do Comando de Policiamento da Capital, o coronel Luciano Moritz Bueno cita ainda a análise criminal, que permite identificar os locais onde acontecem os delitos, e o emprego de policiamento nessas áreas como fatores que auxiliam a coibir os casos, impactando nos indicadores.
— A Brigada Militar atua de forma ostensiva, com pontos e locais estratégicos. Além disso, realiza diversas operações em busca de receptadores. Sabe-se que o objeto mais roubado é o telefone celular — afirma o comandante.
No último dia 5, a BM descobriu numa sala no último andar de um prédio um depósito de celulares e acessórios sem procedência, na Rua Voluntários da Pátria, no centro de Porto Alegre. Foram localizados 241 celulares, 19 tablets, dois notebooks, sete relógios uma arma de fogo falsa, uma televisão, cerca de 400 películas de smartphones, 110 capinhas, peças de cerca de 400 aparelhos, 2,4 mil pilhas e 20 acessórios, como carregadores e cabos. A apreensão de eletrônicos foi a maior realizada na região central.
Os PMs do 9º Batalhão de Polícia Militar foram até o local após receberem informações sobre a movimentação suspeita no prédio. Flagraram o porteiro com seis celulares ligados, todos sem procedência. Ao conferir o aparelho que ele usava, descobriram que havia sido furtado. O homem de 27 anos foi preso em flagrante. A ação foi realizada em sequência à Operação Mobile, que busca justamente identificar receptadores de celulares roubados.
Em muitos casos, segundo a Polícia Civil, os aparelhos são recuperados com quem adquiriu os produtos, após serem rastreados.
— A polícia vem trabalhando na identificação e prisão dos autores de roubos, mas também em operações específicas no combate à receptação. Se alguém comprar um celular roubado ou furtado, a polícia vai poder chegar nele. Um Iphone de R$ 8 mil não vai ser vendido por R$ 3 mil. Já temos uma redução histórica, fruto do trabalho de todos, mas temos feito grande esforço para manter abaixo dessa média — diz o delegado Lima.
Dicas
- Não manuseie aparelhos celulares em locais de grande concentração de pessoas. Isso faz com que a própria vítima perca atenção ao seu redor e também desperta a atenção dos bandidos.
- Se precisar utilizar o celular na rua, procure ingressar em algum comércio, como uma loja.
- Evite deixar expostos itens como joias ou relógios, que podem despertar o interesse dos criminosos.
- Cuide para que bolsas e mochilas permaneçam fechadas e no seu campo de visão.
- Evite permanecer sozinho em paradas de ônibus, especialmente à noite.
- Quando estiver caminhando pela rua, fique atento a quem está ao seu redor. Se possível, evite trechos com pouco movimento ou baixa iluminação.
- Se for vítima de roubo, tente manter a calma, e evite reagir. Procure a Brigada Militar ou a Polícia Civil e registre o fato.
Fonte: Polícia Civil-RS e Brigada Militar