Bate-boca acalorado entre integrantes do Ministério Público Federal (MPF), advogados de defesa e uma testemunha de acusação fez com que fosse suspensa temporariamente a sessão que julga os acusados pelo assassinato do oftalmologista Marco Antônio Becker, em Porto Alegre. Depois de conversa do juiz com as partes, o julgamento foi retomado.
Na tarde desta quarta-feira (28), segundo dia de júri dos quatro réus pelo crime, o advogado Jean Severo, que defende o réu Juraci Oliveira da Silva fazia perguntas a testemunha de acusação, o delegado Gustavo Fleury, que atuou no caso na época, quando houve a confusão.
Quando Severo afirmou que a Polícia Civil teria perdido o prazo para pedir acesso a mensagens a uma operadora de telefonia, o delegado e integrantes do MPF passaram a discutir com ele. O policial negava que havia deixado passar o prazo (assista acima).
Os ânimos se alteraram e o juiz federal Roberto Schaan Ferreira interveio, suspendendo a sessão. O magistrado ainda afirmou que tiraria Severo do local, caso seguisse com a discussão.
— Então me retira, porque eu tô trabalhando. A testemunha é que ficou nervosinha — rebateu Jean.
Mesmo após o juiz suspender a sessão, as partes seguiram trocando ofensas no auditório onde ocorre o júri, na 11ª Vara da Justiça Federal. Insultos como "babaca" e "descompensado" foram ouvidos em meio a discussão.
— Vai andar com a tua turma — gritou para Severo um dos representantes do MPF.
Depois disso, todas as partes se reuniram com o magistrado em uma sala ao lado do auditório. Ficaram ali por cerca de 10 minutos.
A sessão foi retomada às 17h48min, depois que o juiz teve conversas com defesas e MPF, e também com a testemunha, o delegado Fleury. Ao retomar o júri, pediu colaboração das partes:
— Todos nos convencemos de que precisamos diminuir a tensão. Estamos recém na fase de inquirição de testemunhas. Para bem dos nossos trabalhos, peço mais serenidade.
O julgamento dos quatro réus
O júri começou na terça-feira (27). São réus o ex-andrologista Bayard Olle Fischer dos Santos, acusado de ser o mandante do crime; um ex-assistente dele, Moisés Gugel, que teria intermediado negociações para matar Becker; Juraci Oliveira da Silva, o Jura, acusado de planejar o assassinato; e Michael Noroaldo Garcia Câmara, que teria sido contratado para executar o homicídio. As defesas dos quatro negam envolvimento no caso.
Conforme a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Bayard teria ordenado a morte de Becker por vingança, pelo fato de a vítima ter sido responsável pela cassação do diploma de médico do réu. A previsão é de que o júri se estenda até sexta (30).
Atualmente, apenas Juraci está preso, mas por outros crimes relacionados ao tráfico de drogas. Ele está detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC).
Os outros três réus respondem a esse processo em liberdade. Bayard e Moisés chegaram a ser presos, mas estão soltos desde 14 de abril de 2011. Michael esteve preso por outro crime até 25 de junho de 2021, quando foi colocado em liberdade.
Como foi o crime
O oftalmologista Marco Antônio Becker saiu de um restaurante em um ponto boêmio e conhecido de Porto Alegre e embarcou em seu carro, um Gol que estava estacionado na esquina da Rua Ramiro Barcelos com a Avenida Cristóvão Colombo. Antes de arrancar, foi atingido por ao menos quatro tiros disparados contra o vidro do motorista. Morreu na calçada do movimentado bairro Floresta.