Risco para o trânsito e prejuízos para os cofres públicos. Estes são o resultado das supostas irregularidades cometidas há um ano por um despachante que atua em Novo Hamburgo em conluio com um ex-vistoriador do Centro de Registro de Veículos Automotores (CRVA) de São Leopoldo.
Os dois são investigados por corrupção ativa e passiva. Ambos são suspeitos de adulterar documentos e liberar automóveis que não poderiam circular. Após denúncia encaminhada pela Corregedoria do Detran, que participa de uma operação nesta quarta-feira (14), a Polícia Civil cumpre dois mandados de busca e dois de prisão.
Conforme o titular da 2ª Delegacia de Combate à Corrupção do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Augusto Zenon, o ex-vistoriador do Detran foi preso em São Leopoldo e o despachante, que atua em Novo Hamburgo, na cidade de Esteio. Na casa do ex-funcionário foram apreendidos R$ 10 mil e duas armas.
Houve cumprimento de ordens judiciais também no CRVA. Zenon diz que as irregularidades eram basicamente — após acerto entre despachante e o ex- funcionário — realizar vistorias de carros e apresentar resultados falsos, liberando veículos que tiveram problemas não resolvidos. Por exemplo, problemas no motor, chassi, entre outras condições gerais dos automóveis, bem como falhas na documentação.
A polícia constatou 10 casos de fraude, mas não descarta outros. Isso porque o despachante, em 12 meses, encaminhou 57 procedimentos para o CRVA de São Leopoldo que ficaram sob os cuidados do ex-funcionário. O delegado diz que há outros 45 pedidos enviados para outros servidores que também serão investigados.
Prejuízos
Zenon afirma que a sociedade como um todo é prejudicada por dois motivos. Primeiro porque algum motorista pode se deparar com veículo com problemas, se colocando em risco pelo fato de que há condutores com carros com defeitos circulando como se estivessem regularizados. Outro prejuízo é financeiro uma vez que o Estado deixa de recolher algumas taxas via Detran.
O despachante, em conluio com o ex-vistoriador suspeito, cobrava por fora valores que variavam de R$ 500 a R$ 1 mil, conforme o caso. Depois dividia com o comparsa, não descartando, segundo a polícia, outros envolvidos no esquema de corrupção. Houve a identificação de menções dos envolvidos sobre uma conta conjunta deles no valor de R$ 70 mil. Fato que será apurado.
— Donos de veículos que utilizavam o serviço do despachante suspeito eram favorecidos na medida em que se beneficiavam das alterações nos sistemas . Vamos entrar em contato com os responsáveis por 10 veículos que confirmamos a irregularidade e com outros que, por ventura, aparecerem na investigação — explica Zenon.
A polícia acredita ainda que o ex-vistoriador do CRVA de São Leopoldo, além de receber propina, aliciava colegas para participarem do esquema. Há suspeita de outros dois funcionários, responsáveis por inserir no sistema do Detran informações falsas dos veículos apresentados pelo despachante e vistoriadores pelo ex-vistoriador preso hoje.
Investigação
A investigação teve início há três meses por uma denúncia encaminhada pela Corregedoria do Detran ao Deic. Uma vítima do Paraná adquiriu um automóvel que era de um proprietário do Rio Grande do Sul. Ao dar entrada no processo de transferência, foi orientado pelo Detran paranaense a procurar o órgão gaúcho devido a problemas no documento de origem do carro.
Com o intuito de realizar a correção, o comprador procurou o vendedor que é de Novo Hamburgo. Ambos tentaram realizar uma vistoria em CRVA do bairro Lomba Grande, na cidade, mas não conseguiram. Segundo o delegado Zenon, o despachante investigado entrou em ação e cobrou um “adicional de valores” para corrigir os problemas no CRVA de São Leopoldo.
Segundo a polícia, esse adicional era a cobrança por fora para adulterar documentos e informações e liberar o veículo como regularizado, mesmo com problemas. O valor seria dividido com o ex-vistoriador do Centro. Este caso gerou uma primeira ação do Deic, que, há alguns meses, cumpriu mandados de busca na casa e no escritório do despachante.
Os agentes apreenderam um celular do investigado que continha diversas mensagens de áudio e texto entre ele o ex-vistoriador do Detran. O conteúdo era sobre valores, cuidados para ambos não se exporem, bem como pagamentos via Pix entre os dois suspeitos. Como apareceram contas bancárias de familiares dos dois suspeitos, a polícia ainda vai apurar provável lavagem de dinheiro.
A investigação continua e os nomes dos presos não foram divulgados.