O terceiro dia de júri do caso Becker, nesta quinta-feira (29), começou com os depoimentos de duas testemunhas de acusação. O primeiro a depor foi o médico Fernando Weber Matos, que falou por cerca de uma hora e meia.
Questionamentos de defesa e acusação seguiram principalmente sobre como funciona o processo de cassação no Conselho Regional de Medicina (Cremers), que Matos integra desde a época do assassinato do então vice-presidente da entidade, Marco Antônio Becker, em 2008.
Perguntado pela defesa, a testemunha respondeu que o registro do médico Bayard Olle Fischer dos Santos — um dos réus no caso, acusado de ser o mandante do crime — foi cassado devido à colocação de uma prótese desnecessária em um jovem. Ele também reconheceu que Becker e Bayard possuíam uma desavença pública e que o então vice-presidente do Cremers se declarava impedido para julgar processos éticos de Bayard.
O tema foi levantado porque a tese de acusação é de que Becker foi morto por uma vingança arquitetada por Bayard, devido a uma suposta influência dele no processo de cassação. Matos também foi perguntado se houve algum episódio em que Bayard supostamente teria o ameaçado com uma arma, o que foi negado pelo médico.
A segunda testemunha a depor foi o major da Brigada Militar Márcio Batista Nunes Homem, que integrou o 19º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela área onde está o Campo da Tuca, local de origem de Juraci Oliveira da Silva, o Jura, outro réu no processo. O oficial era responsável pela área de inteligência e monitorava o celular de Jura na época do crime.
Foi neste depoimento que houve o primeiro momento de tensão entre as partes. Ao falar sobre a vinculação de Jura com o tráfico de drogas e execuções na região da Tuca, o advogado Jean Severo protestou, dizendo que não estava relacionado ao caso.
O juiz permitiu que a acusação continuasse com o questionamento, por entender que as ordens de execução do tráfico estão no mesmo contexto da morte de Becker. Sobre o réu Michael Noroaldo Garcia Câmara, o major afirmou:
— Era um faz-tudo, recebia ordens. Em uma interceptação, também falou que tinha armas em casa — disse o oficial.
Ao ser questionado pela defesa diretamente sobre o caso Becker, se em algum momento ouviu alguma ordem expressa para execução do médico, o major afirmou que não.
O turno da tarde será iniciado com o depoimento da última testemunha de acusação, o perito Marco Antônio Zatta, que vai depor por videoconferência em Brasília. Em seguida, será ouvida a primeira testemunha de defesa, o também perito Joel Ribeiro Fernandes, aposentado do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
Nesses depoimentos, as defesas devem explorar as divergências entre os laudos dos dois profissionais.