A Polícia Civil aguarda o resultado de exames periciais para determinar as circunstâncias das mortes de Rogério da Cruz de Lima, 26 anos, e Caroline Maria Bohrer de Lima, 23, nesta quinta-feira (4), em Ijuí, no noroeste do Estado. A mulher teria sido morta a facadas pelo companheiro que, por sua vez, foi alvejado por brigadianos pois teria reagido contra a tentativa de contenção pelos agentes de segurança pública.
Conforme o titular da 26ª Delegacia Regional de Polícia, delegado Ricardo Blum Miron, o inquérito que está sob responsabilidade da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) também busca ouvir familiares de ambos para tentar compreender os fatos que antecederam as mortes.
— Pessoas estão sendo chamadas para prestar depoimentos, pelos quais pretendemos compreender o tipo de relação e de comportamento do casal. A polícia também espera o resultado de exames toxicológicos para verificar eventuais indícios do uso de álcool e drogas por ambos — aponta o delegado.
De acordo com a investigação, Rogério e Caroline estariam em meio a uma discussão severa e a intensidade das falas teria levado vizinhos a chamarem a Brigada Militar. O chamado para a ocorrência foi encaminhado à corporação por telefone no início da madrugada.
O alerta, segundo Miron, indicava um possível caso de agressões de homem contra a companheira, no apartamento térreo de condomínio popular localizado no bairro Tancredo Neves.
— Em seu relato, os policiais militares disseram ter chegado ao local e constatado indicativos de uma grave discussão entre o casal, com gritos e o que pareciam, segundo ele, ameaças e pedidos de socorro — descreve Miron.
O delegado conta que os policiais militares bateram à porta do imóvel, que estava fechada, mas não foram atendidos. Os brigadianos teriam decidido arrombar a porta e ingressaram no apartamento.
— Eles (policiais militares) disseram que, ao acessar a moradia, avistaram Rogério em plena ação de ataque com uma faca contra Caroline. Utilizaram, inicialmente, uma arma de choque elétrico para contê-lo, mas ele teria se levantado e partido em direção aos policiais com a faca em punho — informa o delegado.
Miron diz que, diante do entendimento de um cenário de resistência com ameaça, os agentes de segurança pública optaram por utilizar armamento letal.
— Um policial militar atirou quatro vezes, e o outro atirou duas vezes. Foram necessários seis tiros para deter o suspeito. Por esta razão, consideramos que o exame toxicológico poderá ajudar a compreender o motivo de uma reação tão intensa e os atos que a antecederam — explica o delegado regional.
Ricardo Miron afirma que havia uma queixa de ameaça, registrada em 2018 por Caroline. Na época, conforme o delegado, não houve a indicação do desejo de representar judicialmente e o caso não teve prosseguimento. Rogério não possuía antecedentes e tinha histórico de trabalhador como auxiliar de serviços gerais em empresas da região, embora atualmente estivesse desempregado.
Filha do casal testemunhou as mortes
De acordo com a apuração policial, a filha de Rogério e Caroline, uma menina de dois anos e nove meses, estava na mesma cama onde a mãe foi esfaqueada pelo pai. A criança foi socorrida, levada a uma unidade de saúde para exames físicos e não sofreu ferimentos decorrentes da briga entre os pais.
A tentativa de proteção à integridade física da menina, destaca o delegado Ricardo Miron, teria sido um dos fatores motivadores da ação dos brigadianos. Segundo a investigação, ao ser atingido pela arma de choque elétrico, Rogério teria projetado a menina para fora da cama.
— Os policiais militares informaram ter avaliado que ainda havia risco de dano físico contra a criança. Teriam exigido que o homem se entregasse, mas isso não ocorreu. Pelo contrário, o suspeito teria partido para cima dos brigadianos, que decidiram, ambos, atirar — diz Miron.
Durante a tentativa de socorro para a mulher e para o homem feridos, a criança foi resgatada e o Conselho Tutelar foi acionado para identificar familiar capacitado para prestar amparo à menina. Ela, por fim, foi colocada sob a guarda provisória de uma tia materna.
PMs estão afastados do policiamento até avaliações
O comandante do 29º Batalhão de Policia Militar de Ijuí, capitão Gilmar Bischoff, diz que os dois policiais militares que atuaram na ocorrência permanecerão afastados do serviço de policiamento ostensivo até que sejam submetidos a avaliação psicossocial.
— São dois excelentes policiais, que atuam na nossa Força Tática e no serviço de policiamento comunitário da cidade. Um inquérito policial militar foi instaurado para apurar as condutas adotadas nesta situação — informa o oficial da Brigada Militar.
Bischoff também destaca que as armas utilizadas no atendimento à ocorrência foram apreendidas pelo Batalhão para serem remetidas a exames no Instituto-Geral de Perícias.