A Polícia Civil indiciou um dentista de Canoas, na Região Metropolitana, por crimes sexuais contra pacientes. A investigação apurou que Fabrício da Costa Fortes teria estuprado uma mulher e cometido atentado violento ao pudor contra outra durante as consultas entre 2005 e 2011.
— Referente a esse caso que ocorreu em 2005, ele foi indiciado por atentado violento ao pudor. E com relação ao fato que ocorreu em 2011, esse foi caracterizado como estupro de vulnerável — explica o delegado Maurício Arruda, responsável pelo inquérito.
Na época, segundo a polícia, as vítimas dos abusos tinham 10 e 11 anos.
— Essas vítimas menores, em regra, iam nessas consultas acompanhadas dos seus pais. Ele realizava tratamentos ortodônticos e, quando essas vítimas entravam na sala desacompanhadas dos seus pais, é quando os abusos relatados teriam ocorrido — complementa o delegado.
Elissa Seadi, hoje com 22 anos, é a menina apontada como vítima do dentista quando tinha 10 anos. A RBS TV, ela contou que foi levada ao consultório dele em 2011 para colocar aparelho ortodôntico. A jovem lembra que, no início, não havia nada de estranho no comportamento do profissional. Foi com o passar tempo que os abusos começaram e duraram três anos.
— No meio de conversas, ele começou a perguntar se eu tava com marquinha de biquíni, se ele podia ver. Ele já ia passando a mão por dentro da minha roupa, já ia levantando a minha roupa pra ver a marquinha de biquíni. E aí, conforme iam passando os anos, os verões, ia piorando, sabe? Num verão, ele só levantava a minha blusa e olhava. No outro, ele pegava e levantava toda ela pra cima e fazia eu ficar com os peitos de fora. No outro verão, ia passando a mão nas minhas partes íntimas, enquanto tava mexendo no meu aparelho — relata Elissa.
Em 8 de março deste ano, Elissa procurou a polícia para relatar o que havia acontecido anos antes. O registro juntou-se a outra investigação contra Fortes, de um boletim de ocorrência registrado em 2019, por uma universitária de 29 anos. Ela afirma ter sido abusada pelo mesmo dentista em 2005.
— Colocou a mão por dentro da minha blusa, por dentro da minha calça. Por mais que eu entendesse que aquilo estava acontecendo, que não devia estar acontecendo, não conseguia ter uma reação de tirar a mão dele ou, enfim, gritar, xingar — diz a jovem, que preferiu não ser identificada.
Condenação anterior
Essa não é a primeira vez que Fortes é alvo de investigação. Ele havia sido condenado, em 2014, a oito anos de prisão em um caso envolvendo uma menina de 11 anos. Hoje com 21 anos, a vítima lembra que na época contou para os pais o que havia acontecido durante a consulta e a família procurou a polícia
— Foi um dia que ele disse para mim: "Hoje, vou te dar um castigo". Enfiou a mão por dentro da minha calça e aquilo eu me lembro que eu fiquei paralisada. Eu não sabia se eu gritava, se eu dizia "não" e eu não sabia como reagir com aquilo, né? A partir daquele dia, eu comecei a tomar banho, banho, eu me sentia muito suja. Parecia que estava imunda. E eu chorava, chorava na escola — relembra.
Fortes recebeu, no ano passado, o benefício da liberdade condicional e cumpre o restante da pena, de sete meses, solto.
Em 2018, o Conselho Regional de Odontologia (CRO) cassou o registro profissional do dentista, mas, dois anos depois, o Conselho Federal de Odontologia (CFO) converteu a cassação em suspensão por 30 dias. O CFO foi contatado, mas a instituição preferiu não se manifestar.
Contraponto
A reportagem da RBS TV tentou contato por telefone com o dentista e também com os advogados que representam ele no caso, mas não obteve retorno.