Nos últimos meses, os pais do menino Fernando dos Santos Lopes, nove anos, tentam se equilibrar entre dar suporte aos outros dois filhos e enfrentar a perda trágica do caçula. O garoto de sorriso constante, que vivia em São Leopoldo, no Vale do Sinos, foi alvejado por um tiro na cabeça, enquanto voltava para casa de carona com um familiar. O crime aconteceu em outubro do ano passado, quando o carro em que ele estava ficou na linha de um tiroteio no bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo. Até hoje, a família segue na espera por um desfecho e que os autores sejam responsabilizados.
Em 16 de outubro, Fernando estava no banco de trás do veículo, quando criminosos acabaram efetuando disparos nas proximidades. Atingido na cabeça por uma bala perdida, o menino chegou a ser socorrido, mas não resistiu. O Prisma de onde partiram os disparos foi localizado queimado na Avenida Floresta, Vila Palmeira, também Novo Hamburgo. O carro, segundo a polícia, havia sido roubado no dia 8 de outubro.
Filho mais novo do casal, o garoto era carinhoso, adorava distribuir abraços e repetir palavras afetuosas. O caçula era apegado ao irmão, de quem tinha cerca de três anos de diferença. Os dois saíam juntos de casa pela manhã para ir ao colégio — Fernando estava no 4º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Edgard Coelho, no bairro Santos Dumont. Os irmãos retornavam de ônibus e almoçavam com a avó. À tarde, participavam de atividades complementares, como natação e computação, nas proximidades de casa.
— Os dois estavam sempre juntos. É muito difícil. Aprender a me acostumar com a falta do Fernando. A falta que ele está fazendo para todo mundo. Não atingiu só a mim, minha esposa, meus filhos. Atingiu toda a família. Não foi só a perda do Fernando, perdemos as nossas vidas. Levanto para trabalhar todos os dias porque preciso — desabafa o pai, o pedreiro Edison de Souza Lopes, que completou 36 anos no dia 1º.
Em datas como essas, segundo pai, os dias têm sido ainda mais difíceis. É quando voltam as lembranças de que o menino costumava ser o primeiro a despertar em casa, ansioso, correr e abraçar a todos. Os pais agora precisam conviver com essa falta.
— Era para ser datas comemorativas, mas foram dias horríveis. Na Páscoa, nós fazíamos os chocolates em casa. Ele estava sempre ali, disposto a ajudar. Ele adorava fazer. É muito complicado. As lembranças dele estão por toda a parte — diz o pai.
Na última semana, quando quatro crianças foram assassinadas e outras cinco feridas dentro de uma escola infantil em Blumenau, Santa Catarina, por um criminoso que invadiu o local, os pais de Fernando tiveram dificuldade para acompanhar as notícias do caso. Pensando nas famílias que passam por essa dor, reviveram os traumas da perda precoce do menino.
— Vem tudo à tona de novo — desabafa o pai.
Quando Fernando era bebê, os pais tiveram receio de perdê-lo, já que o menino nasceu prematuro. O temor se concretizou horas após o menino ser baleado. Por vezes, Edison acompanha a esposa até o cemitério, onde ela visita a sepultura do filho todas as semanas, mas o pai tem dificuldade em fazer isso.
— Não consigo aceitar que aquela criança feliz, brincalhona está ali — relata.
Sobre o caso, a família espera que os autores sejam identificados e responsabilizados pelo crime. Edison diz que isso não trará o filho de volta, mas ressalta a gravidade do crime. No momento em que alvejaram o veículo onde estava Fernando, havia ainda mais pessoas na rua, que poderiam ter sido atingidas. O pai entra frequentemente em contato com a polícia na expectativa de uma resposta.
— Esperamos que eles ao menos sejam presos. Casos como esses, envolvendo crianças, deveriam dar pena perpétua. Não tem como aceitar. Alguém tirar a vida de uma criança assim, uma brutalidade — lamenta.
Investigação
O assassinato de Fernando segue sendo investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Novo Hamburgo. Segundo a Polícia Civil, o Gol onde o garoto estava na carona não era o alvo dos disparos dos criminosos. Os bandidos atiravam contra o ocupante de um Peugeot na Rua Valparaíso, quando o tiro acertou o outro veículo, transfixou o vidro e atingiu o garoto. Fernando foi encaminhado ao Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, e morreu na manhã seguinte.
Segundo a polícia, ainda são realizadas diligências para desvendar o caso. Até o momento, ninguém foi preso. Um homem, que seria o verdadeiro alvo dos criminosos, foi ouvido pela investigação, mas não chegou a apontar quem seriam os autores dos disparos.
— As investigações estão em andamento, é um caso bastante complexo, mas a Polícia Civil tem uma linha investigativa que pode ter desdobramentos — afirma a delegada Clarissa Demartini.