A Polícia Civil realiza nesta quinta-feira (23) uma grande operação em 10 municípios gaúchos, a maioria no Vale do Sinos. São 450 agentes cumprindo 36 mandados de prisão, sendo quatro deles em presídios, e outros 77 de busca. O objetivo é coibir o tráfico de drogas e armas. Os alvos seriam ligados a uma facção criminosa.
A ação é sequência de outra operação, realizada no fim de 2021, quando 26 suspeitos foram detidos por tráfico de drogas sintéticas. A investigação da 1ª Delegacia de São Leopoldo continuou e descobriu que o grupo se reorganizou e até ampliou a atuação. Por isso, desta vez também estão sendo atacadas as finanças dos traficantes, por meio do bloqueio de contas bancárias e apreensão de bens.
No total, 28 suspeitos foram presos. Os nomes deles não estão sendo divulgados porque a ação continua.
O trabalho nesta manhã é conduzido pela delegada Cibeli Savi. Ela diz que, há pouco mais de um ano, 11 pessoas foram indiciadas por tráfico de drogas e associação para o tráfico.
A apreensão do celular de um destes indiciados, preso em Novo Hamburgo, levou a informações que embasaram um novo inquérito. Cibeli revela que foi descoberta uma ampla rede de fornecimento de entorpecentes, se estendendo ainda para distribuição de armamentos.
— As armas, dos mais variados calibres, eram negociadas entre várias quadrilhas via redes sociais ou repassadas para integrantes do mesmo grupo. Já as drogas serviam para abastecer pontos de tráfico da facção ou eram distribuídas em grandes festas de acesso ao público, além de casas de shows e eventos sociais — revela a delegada.
Em um condomínio no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, os traficantes ocuparam um apartamento para armazenar drogas e distribuir para pontos de venda. No local, foram cumpridos quatro mandados de prisão e de busca.
Finanças e ostentação
Para tentar descapitalizar a quadrilha, a delegada Cibeli obteve da Justiça a apreensão de 19 veículos e o bloqueio de 36 contas bancárias. Os carros, segundo apurou a 1ª Delegacia de São Leopoldo, eram uma forma de lavar o dinheiro do crime, pois eram comprados em nome de laranjas.
A polícia ainda verifica o total de valores depositados em bancos. Com isso, tentará ter uma dimensão da movimentação financeira do grupo.
A delegada ainda ressalta que, enquanto alguns criminosos ostentavam uma vida de luxo e até divulgam fotos com armas nas redes sociais, outros eram mais discretos, mas utilizavam carros de alto valor e faziam viagens para pontos turísticos no país.
Cibeli apurou que o grupo realizava entre integrantes e consumidores uma espécie de rifa de drogas sintéticas. Uma cartela com números e fotos dos narcóticos era divulgada por aplicativos de mensagem.
— Foram 15 meses de investigações e ações de inteligência que possibilitaram reunir provas robustas sobre o funcionamento de associação criminosa atuante no Vale do Sinos. A investigação identificou os integrantes do grupo e individualizou condutas. Importante salientar que além da prisão de integrantes, a investigação identificou e atacou a estrutura financeira, fator que dificulta eventual reorganização — relata o diretor da 3ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Eduardo Hartz.
Operação Concierge
A operação recebeu o nome de Concierge, devido ao suspeito preso em 2021. Com a apreensão do celular dele, a polícia descobriu que ele atuava na intermediação da venda de drogas e armas, recebendo percentual de lucros decorrente desse “agenciamento” e, portanto, funcionando como um concierge — responsável por atender hóspedes de hotel, prestando informações sobre eventos e restaurantes, além de controlar entrada e saída de clientes.
— Este suspeito operava na quadrilha como um verdadeiro concierge, verificando se os integrantes precisavam de armamentos, se a qualidade da droga era boa, bem como valores pagos e recebidos entre eles, garantindo ainda a lavagem de dinheiro. A agenda do celular dele foi fundamental para chegarmos na forma de operação e nos nomes de quase 40 criminosos — destaca Cibeli.
A operação com 450 policiais, que tiveram de ser reunidos ainda na madrugada e na Unisinos, em São Leopoldo, foi realizada em 10 municípios, incluindo as principais cidades do Vale dos Sinos, além de Sapucaia do Sul, Gravataí e Porto Alegre, na Região Metropolitana, Parobé, no Vale do Paranhana, e Imbé, no Litoral Norte.