Quinta testemunha a depor no novo júri de Leandro Boldrini, em Três Passos, a psicóloga Ariane Schmitt descreveu ao Ministério Público (MP) como eram as sessões de terapia com o menino Bernardo Boldrini. A profissional é a última testemunha de acusação a falar em plenário e pediu para depor sem a presença do réu — que está no fórum, mas não deve acompanhar os trabalhos ao longo do dia.
Bernardo foi encaminhado pela escola para atendimento da psicóloga, a partir de 2011. Questionada sobre como era a relação da criança com o pai, Ariane descreveu:
— (Bernardo) Era órfão de pai vivo, órfão de uma família ausente. Isso é mais triste do que a perda, porque a orfandade é sentida no dia a dia, quando você chega com o trabalhinho escolar, você vai contar uma novidade pro papai e pra mamãe e eles estão ocupados — contou.
Ariane relatou que, em uma consulta, pediu para Bernardo dizer com qual personagem infantil ele se identificava, com a intenção de ouvir algo como "O patinho feio", pela rejeição sofrida. A resposta do menino foi ainda mais chocante, segundo ela.
— Ele me disse: "Tia, não sou personagem algum, ninguém conta histórias para mim".
E completou dizendo que Bernardo era "louco pelo pai" e queria ser médico como ele.
— Ele era um excelente cirurgião, excelente médico. E é chocante essa diferença entre o profissional e o pai omisso.
Boldrini é acusado de ter sido o mentor intelectual da morte do filho. O réu havia sido condenado, em 2019, a 33 anos e oito meses de prisão em regime fechado, mas a decisão foi anulada em 2021 — fazendo com que ele seja submetido a novo julgamento.