Na tarde desta quinta-feira (2), ocorreu a fase de debates entre defesas e Ministério Público do júri sobre a morte de Paola Avaly Corrêa, 18 anos, ocorrida em 2018. A jovem foi obrigada a deitar em uma cova feita num matagal antes de ser baleada e morta, em Porto Alegre. A ação foi registrada em vídeo e divulgada na internet, o que gerou indignação na época. O júri deve se encerrar nas próximas horas, por volta da meia-noite de sexta-feira (3). Na terça (28), outros três réus foram condenados pelo assassinato.
De acordo com o Ministério Público, o assassinato ocorreu a mando do ex-namorado da jovem, Nathan Sirangelo, 27, que não aceitava o fim do relacionamento e teria se incomodado com uma postagem de Paola nas redes sociais. Ele é um dos réus desta quinta. Junto dele, são julgados Thais Cristina dos Santos, 24, e Bruno Cardoso Oliveira, 28.
Conforme o MP, Bruno chefiava o tráfico de drogas na Vila Tamanca, na Lomba do Pinheiro, onde a jovem foi morta, enquanto Nathan era responsável pelo bairro Bom Jesus. Por isso, o ex de Paola teria pedido ao comparsa de facção para que o crime ocorresse na área dele. Thais teria sido a responsável por participar do sequestro da vítima e depois mantê-la em sua casa, além de gravar a execução.
Durante a etapa de debates, o primeiro dos advogados a falar foi o criminalista Rafael Keller, que defende Nathan. Ele nega participação do réu no caso, e afirma que outro ex-companheiro de Paola seria responsável pelo feminicídio.
— Me causa muita estranheza de estarem acusando o Nathan de mandante deste crime. Paola teria um ex-namorado em outra galeria do Central. Dizem que Nathan era um dos líderes de uma facção. Que líder é esse que tem uma mãe que mora em uma casa caindo aos pedaços? Que dorme no corredor de uma galeria, na prisão, como ele nos contou? — questionou Keller.
O advogado também mostrou um vídeo do júri realizado na terça, em que outro réu do caso, Vinicius Matheus da Silva, 25, admitiu o crime durante a sessão. Em frente ao júri, Vinicius apresentou uma versão diferente da anterior e alegou que decidiu matar a jovem por ciúme. Ele disse que a postagem realizada por Paola no Facebook seria direcionada a ele, e não a Nathan. O MP, no entanto, sustenta que essa foi uma tentativa de livrar os demais réus do crime.
Keller afirmou ainda que os hematomas, vistos por pessoas próximas a Paola, no corpo da vítima, não foram causados por agressões feitas pelo réu. Ele mostrou um boletim de ocorrência feito pela jovem, em que ela relatava ter sido atacada e esfaqueada por outra mulher. A agressão teria ocorrido porque a mulher acreditava que Paola estaria se envolvendo com seu companheiro. No boletim, a jovem afirmou que não conhecia o homem. Nas redes sociais, Paola havia relatado que era agredida por Nathan durante visitas que fazia a ele no cadeia.
Depois, foi a vez da advogada de Bruno defendê-lo. A defesa é feitas pelas advogadas Viviane Dias Sodré e Gabriela Goulart de Souza. O réu também afirma que não teve envolvimento na morte. A defesa afirma que não há provas de que Bruno tenha participado da execução.
— Ele não teve envolvimento. Se tivesse, eu falaria para confessar, como já fiz em outros casos. O que se tem aqui, contra o Bruno, é somente o depoimento de uma pessoa mentirosa que liga ele ao caso — disse Viviane durante a defesa.
Por fim, falou a advogada Gisela Almeida, que representa Thaís. Ela afirma que a ré fez a filmagem da execução porque foi ameaçada de morte. Também afirmou que Thaís tem depressão e episódios de automutilação na cadeia, por ter sido presa por um crime que não teria cometido.
— Ao longo desses anos todos, ela é a única que nunca mentiu, ela não mudou sua versão. Sempre admitiu que fez a filmagem. Ela toma remédios para depressão, chora, sofre com isso. Quem mata não sofre dessa forma. Ela não aguenta mais estar presa por algo que não fez — disse Gisela.
A advogada também mencionou a confissão do réu Vinícius, na terça.
— Ele mesmo diz que ela foi coagida por ele. Por que ela ia ajudar em um homicídio de alguém que ela nem conhecia? Porque foi obrigada. O que vocês fariam (se estivessem) com uma arma na cabeça? "Ou grava ou morre." Ela não tinha opção. Condenar a Thaís por homicídio dessa forma é injusto.
Previsão de término
Por volta das 19h, começou a etapa de réplica, em que o MP retoma a fala. A expectativa é que o júri se encerre por volta da 0h.