Os debates do segundo júri pelo assassinato de Paola Avaly Corrêa, 18 anos, começaram na tarde desta quinta-feira (2). O promotor Eugênio Paes Amorim deu início às argumentações da acusação às 14h06min. O representante do Ministério Público sustentou que todos os réus tiveram participação essencial no crime e que devem ser condenados.
Estão sendo julgados Nathan Sirangelo, 27 anos, que é ex-namorado da vítima e apontado como mandante do crime, Thais Cristina dos Santos, 24, e Bruno Cardoso Oliveira, 28. Outros três já foram condenados no primeiro julgamento na terça-feira (28).
— Não há nenhuma possibilidade de sairmos hoje com a sensação de justiça sem condenar os três réus. Se algum deles for absolvido, não terá sido feita Justiça. (...) No processo, há provas da culpa dos três — disse Amorim.
O promotor buscou detalhar a participação de cada um no crime, usando um quadro para mostrar a hierarquia entre eles. Durante o júri, a ré Thais admitiu ter gravado a execução, e disse ter sido coagida por outro réu, Vinicius Matheus da Silva, 25, que foi condenado no primeiro julgamento. Na mesma linha de Vinicius, Thais também inocentou os demais em seu interrogatório. O promotor buscou rechaçar essa versão.
— Acima do Vinicius, o matador, e acima da Thais, a moça que ajudou a matar e não só filmar, temos o Bruno. Thais e Vinícius vendiam drogas na boca de fumo, que era gerenciada por Bruno — detalhou o promotor.
Nathan e Bruno, segundo Amorim, integravam a mesma facção criminosa, mas chefiavam diferentes regiões de Porto Alegre.
— Nathan precisava matar Paola no território da Lomba do Pinheiro, que pertencia a Bruno. Hoje ele disse, o Bruno, que conhecia o Nathan do pátio. Não precisava ter dito isso porque eles conversam por telefone. Eles mandam matar de dentro da cadeia, ameaçam pessoas de dentro da cadeia, fazem golpes, extorsões — explicou o promotor.
Na sequência, Amorim lembrou que foi um dos réus, Vinicius, quem indicou o local onde estava o corpo de Paola, e que naquele momento relatou que o mandante do crime era o namorado da vítima, Nathan, que estava preso.
— O namorado dela que está aqui, é o Nathan — disse o promotor, sendo interrompido pelo criminalista Rafael Keller.
— Então ele não é o ex? — questionou o advogado que defende o réu.
— Não posso terminar com alguém que não namorei. Para ser ex tem que ter sido namorado — rebateu Amorim.
Sobre a confissão de Vinicius, o promotor voltou a afirmar que se trata de uma tentativa de inocentar os outros membros da facção criminosa.
— O Vinicius foi escolhido como boi de piranha para enganá-los — atacou Amorim.
Ao falar de Thais, Amorim buscou mostrar que ela atuou diretamente no crime, mantendo contato com os mandantes por telefone. Disse que ela chegou, inclusive, a comer pizza enquanto Paola era mantida em cárcere, antes de ser morta.
— A interrogada tomou café e banho. Comeu uma pizza. A senhora come uma pizza enquanto está subindo para matar a vítima. Mas vão para o inferno, que gente não respeita, que não tem nenhuma senibilidade. Aquela coisinha mimosa, que está ali (se referindo a Thais), uma psicopata — esbravejou.
Segundo o promotor, Thais e Vinicius escolheram o local onde Paola seria morta. A vítima teria chegado a falar por telefone com Nathan, pedindo perdão e dizendo que a postagem era brincadeira. Amorim enfatizou ainda que Paola não acreditava que seria morta e pensava que cortariam seu cabelo como forma de represália. Por volta das 16h, após horas de cárcere, teria sido recebida a ordem de executar Paola. Um revólver de calibre 38 foi usado para disparar contra a jovem.
— Me emociono toda vez que vejo aquele vídeo. É um crime tão terrível — disse Amorim.
Mandante
Sobre Nathan, o promotor afirmou que a motivação para o crime foi a insatisfação com o fato de ter sido ofendido por Paola nas redes sociais e chamado de "corno". A mensagem foi publicada na madrugada anterior ao desaparecimento e morte da jovem.
O promotor leu e comentou o texto da jovem, no qual ela se refere ao ex como "otário", "piá" e afirma que era agredida por ele. Amorim rebateu a possibilidade de que a vítima pudesse manter relacionamento com outro detento.
— De quem ela apanhava? Ela apanhava quando ia visitá-lo na cadeia. Como ela namorava outro presídiário sem visitar? É amor platônico. A única pessoa que ela visitava era o Nathan — afirmou.
O advogado de Nathan pediu aparte e afirmou que o cliente só foi apontado como mandante após a investigação constatar que Paola costumava visitá-lo no Presídio Central.
— Nathan foi condenado neste momento.
Enquanto Amorim lia a publicação de Paola, o réu Nathan interrompeu.
— Doutor, eu posso fazer uma pergunta para o senhor?
— Não.
— Não pode se manifestar Nathan — disse Keller.
— Veja só, "otário", "corno". Se isso ia passar impune ao olho de Hórus — disse o promotor, referindo-se a uma tatuagem do réu.
Amorim provocou a defesa, pedindo a Keller que explicasse porque uma familiar de Nathan escreveu em mensagem que Paola iria "dançar rapidinho".
— Não tergiverse. O que significa "conhecendo meu irmão vai dançar rapidinho"?
O advogado respondeu que seria irresponsável de tentar explicar, que só quem escreveu poderia fazer isso.
— A irmã conhece o irmão sabe que ele é bandido e vingativo — rebateu Amorim.
— Quantos crimes contra a vida possui o Nathan? — indagou Keller.
— Não sei.
— Nenhum — disse o criminalista.
— Sabemos que Al Capone nunca respondeu por um crime contra a vida. Não responder por um crime não significa nunca ter cometido. Ainda mais no contexto do tráfico de drogas, onde as pessoas são apavoradas. Não há menor possibilidade de se absolver qualquer um dos três réus. (...) Os réus se condenaram quando decidiram matar a menina — disse Amorim.
Contrapontos
O que diz a defesa de Nathan
O criminalista Rafael Keller, que defende Nathan, sustenta que o motivo de ele ser apontado como mandante do crime é o fato de que a vítima visitava o réu frequentemente na Cadeia Pública de Porto Alegre (o Presídio Central).
— Não há nenhuma prova produzida em audiência judicial que aponte Nathan como mandante do crime. Toda prova apontada pela acusação advém de depoimentos que supostamente foram prestados na fase de inquérito policial. Interrogados em juízo, os réus alegaram que os depoimentos que constam no inquérito não condizem com o que realmente foi dito por eles na delegacia de polícia — afirma o advogado.
Keller diz ainda que as acusações sustentadas pelo Ministério Público, de que Nathan seria o mandante do crime, "não passam de suposições".
— A tese defensiva demonstrará, de forma firme e coesa, baseado em provas já produzidas nos autos, que Nathan Sirangelo não teve qualquer participação nos fatos narrados na denúncia, o que fora confirmado, diante da confissão da autoria do homicídio pelo corréu Vinicius — diz o criminalista.
O que diz a defesa de Bruno
As advogadas Viviane Dias Sodré e Gabriela Goulart de Souza se manifestaram ainda na terça-feira (28), por meio de nota, na qual negam as acusações. No texto, ressaltam a versão dada por Vinicius, de que teria apontado Bruno como envolvido no crime em razão de desavenças entre eles. Confira o texto:
"Conforme possível visualizar nos depoimentos prestados na data de hoje (terça), nenhum policial responsável pela investigação apontou Bruno como mandante do crime. Além disso, o corréu que admitiu a sua participação esclareceu que inicialmente apontou Bruno por possuir desavenças anteriores com o mesmo. Assim, conforme será exposto no próximo dia 02, a defesa acredita e confia nos jurados para que absolvam Bruno de todas as acusações".
O que diz a defesa de Thais
A advogada Gisela Almeida, uma das responsáveis pela defesa de Thais, informou que pretende se manifestar somente no julgamento. No júri, Thais admitiu ter gravado a execução, mas alegou ter sido coagida.