Uma ação contra o grupo que cometeu roubos e agressões após marcar falsos encontros, por meio de um aplicativo de relacionamento voltado à comunidade LGBT+, resultou na apreensão de 10 celulares em Porto Alegre. A ofensiva ocorreu na manhã desta terça-feira (14) e cumpriu dois mandados de busca e apreensão em duas residências, nos bairros Partenon, na Zona Leste, e Belém Novo, na zona sul da Capital.
Segundo a polícia, o grupo fez ao menos seis vítimas, que foram brutalmente agredidas e ameaçadas durante o suposto encontro. Elas também tiveram quantias em dinheiro levadas pelos criminosos. A operação foi realizada por 10 agentes da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância.
Dois suspeitos, que estavam nos endereços alvo das buscas, foram levados até a delegacia para depoimento. O homem de 22 anos e a mulher de 21 negaram envolvimento no crime. O nome deles não foi divulgado. A polícia também pediu a prisão temporária da dupla, que foi negada pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJ). Procurado, o TJ afirmou que "não foram preenchidos os critérios, estabelecidos pelo STF, para justificar a decretação da temporária"(leia nota abaixo).
Ao menos seis casos, todos contra homens, foram registrados em Porto Alegre desde setembro do ano passado. Conforme a investigação, o grupo agia por meio do aplicativo de relacionamento Grindr, direcionado para a comunidade LGBT+.
Na plataforma, mantinham um perfil de casal, de dois homens que diziam buscar encontros casuais. Eles iniciavam conversas com as vítimas e, depois, marcavam encontro na casa delas. Ao chegarem no local, anunciavam o assalto.
As vítimas eram amarradas, sofriam diversos tipos de agressões e eram obrigadas a fazer transferências bancárias, de seus celulares, para a conta de um terceiro. Em três casos, os criminosos causaram prejuízo de cerca de R$ 30 mil. Eles também levavam eletrônicos e objetos de valor das casas.
De acordo com a delegada Andrea Mattos, o principal objetivo da operação, denominada Moedor, era apreender celulares, que podem indicar trocas de mensagens entre integrantes do grupo criminoso e também com as vítimas. Os 10 aparelhos apreendidos serão enviados para a perícia. O conteúdo pode ajudar também a identificar demais suspeitos da ação.
Segundo Andrea, os dois suspeitos não são os executores dos roubos, mas cumpriam outras funções no grupo. A mulher seria responsável por ficar em contato, pelo telefone, com a dupla que realizava o suposto encontro, repassando orientações. Já o homem, conforme a apuração, cuidava das transações financeiras do grupo. Nas duas residências, não foram localizados objetos roubados das vítimas, como televisões e caixas de som. A polícia acredita que os pertences tenham sido colocados à venda.
Conforme a delegada, esta foi a primeira etapa da ação que investiga os casos.
— Nós seguimos investigando os crimes. Sabemos que se trata de uma associação criminosa, há mais pessoas envolvidas. Temos seis inquéritos em aberto e mais alguns relatos feitos de forma anônima. Todos levam ao mesmo grupo, porque são ações muito semelhantes, é o mesmo modus operandi.
Andrea acredita que o s criminosos tenham feito mais vítimas, que não procuraram a polícia por medo ou vergonha. Ela pede que pessoas que passaram pela mesma ação ou que tenham informações sobre o caso procurem as equipes. O contato pode ser feito de anônima na Delegacia de Combate a Intolência ou pelo WhatsApp, no (51) 98595-5034.
Ofensas homofóbicas
A polícia acredita que o grupo tenha como foco pessoas da comunidade LGBT+ em razão de homofobia. Nos relatos, homens que foram vítimas afirmam terem recebido ofensas homofóbicas durante a ação.
— Esse tipo de aplicativo, independente de ser voltado ao público LGBT+ ou não, traz uma facilidade de encontrar pessoas desconhecidas. Mas além disso também identificamos que há uma questão de intolerância, porque as vítimas relatam que ouviram xingamentos por sua orientação sexual. A questão do roubo está aliada à do preconceito — avalia Andrea.
O que dizem
GZH vem tentando contato, por e-mail, com o aplicativo Grindr, desde o dia 10 de outubro do ano passado, mas não recebeu nenhum retorno até o momento.
Procurada por GZH para entender a razão de as prisões temporárias não terem sido deferidas, a assessoria do TJ enviou a seguinte nota:
Conforme informado pela 16ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca de Porto Alegre, no caso em específico, não foram preenchidos os critérios, estabelecidos pelo STF, para justificar a decretação da temporária, especialmente no que se refere à demonstrada necessidade da prisão temporária para a continuidade da investigação.
Além disso, a prisão temporária possui prazo exíguo, não sendo medida eficaz. Nada impede que a autoridade policial ou o Ministério Público, ao reunir elementos de prova, fundamente pedido de prisão preventiva.