A Polícia Civil pretende ouvir ao longo desta semana a mãe de quatro crianças assassinadas em Alvorada, na Região Metropolitana. Três meninas e um menino, com idades entre três e 11 anos, foram achados mortos dentro da casa do pai, no bairro Piratini. Na última quarta-feira (14), David da Silva Lemos, 28 anos, foi preso por suspeita de ter matado os filhos.
O depoimento da mãe das crianças, uma jovem de 24 anos que está separada há alguns meses de Lemos, é considerado importante pela polícia para esclarecer alguns pontos. Até agora, a investigação só conseguiu obter de familiares e amigos da jovem relatos sobre como era a relação com o ex e sobre possíveis ameaças que ela já estaria recebendo.
A polícia optou por esperar para ouvir a mãe, em razão do abalo psicológico gerado pela perda dos filhos. A data do depoimento ainda não foi confirmada.
O que se sabe até o momento é que a mulher, que residia em Porto Alegre com os filhos, possuía desde o fim de setembro medida protetiva, após ser vítima de violência doméstica. Em razão disso, o ex não poderia se aproximar dela. No entanto, a decisão judicial, válida até o fim de março do ano que vem, não se aplicava aos filhos. As crianças passavam o fim de semana na casa do pai quando o crime aconteceu.
A suspeita é de que o crime tenha acontecido no fim da tarde da segunda-feira (12), há uma semana. Yasmin, 11 anos, Donavan, oito, Giovanna, seis, e Kimberly, três, foram achados mortos dentro de casa. Os três mais velhos foram assassinados a facadas e a caçula tinha sinais de asfixia. A causa das mortes, no entanto, deve ser confirmada pela perícia.
Interrogatório
Após ouvir a mãe, a equipe da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Alvorada pretende interrogar novamente o suspeito. Lemos foi preso naquela madrugada pela Brigada Militar, na recepção de um hotel nas proximidades da rodoviária de Porto Alegre.
Levado ao Palácio da Polícia, o homem não quis prestar depoimento, mas informalmente disse aos policiais que teria assassinado os filhos como forma de atingir a ex. Ele não aceitava o fim do relacionamento. O homem também narrou como teria se dado o crime. Segundo a polícia, Lemos disse que agiu sozinho e que usou um chá para fazer os filhos dormirem antes de cometer o crime.
A perícia toxicológica realizada nos corpos das crianças deve apontar se houve consumo de alguma substância sedativa, seja um chá ou mesmo algum remédio. Segundo o Instituto-Geral de Perícias (IGP), este exame é considerado prioridade e os laudos do caso devem ser concluídos em até 30 dias.
A polícia tenta elucidar ainda se o crime foi planejado. Por isso, além dos depoimentos, apreendeu celulares, que devem ser analisados. São três aparelhos, dois deles encontrados com o suspeito, e um que foi entregue aos investigadores pelo funcionário de um bar na Orla. O suspeito teria estado no local após o crime, consumido bebida alcoólica, e teria esquecido o telefone e os documentos ao deixar o estabelecimento. Questionado pelos policiais se fazia uso de entorpecentes, o que havia sido mencionado por familiares, Lemos alegou que só utilizava medicamentos controlados.
Além dos celulares, também foi apreendida uma faca, que se suspeita que tenha sido usada no crime. Embora a polícia pretenda realizar o novo interrogatório, o investigado pode optar por permanecer em silêncio.
O caso
No fim da tarde de terça-feira (13), um familiar encontrou os corpos das quatro crianças dentro da casa do pai. A moradia fica no mesmo pátio onde reside a avó paterna. Três vítimas foram localizados num cômodo e a caçula num outro quarto. Os filhos estavam com o pai para passar o fim de semana, mas segundo familiares ele teria se recusado a devolver as crianças no domingo (11), como havia sido acertado.
Durante a segunda-feira (12), moradores da Rua Hermes Pereira de Souza ainda viram as crianças brincando em frente à casa. A suspeita é de que o crime tenha acontecido no fim daquela tarde. Os pais estavam separados e havia histórico de violência doméstica contra a mãe das crianças.
Na manhã da última quinta-feira (15), familiares se despediram das quatro crianças no cemitério Jardim da Paz, em Porto Alegre. GZH entrou em contato com a família, que optou por não se manifestar neste momento. Nas redes sociais, parentes e amigos têm publicado mensagens pedindo justiça pelo crime e apoio à mãe.
Contraponto
GZH entrou em contato com a Defensoria Pública do Estado, que confirmou que segue atuando na defesa de Lemos. O homem teve a prisão convertida em preventiva pela Justiça ainda na semana passada.
Sobre o caso, a Defensoria manteve o posicionamento encaminhado anteriormente, de que acompanhou a audiência de custódia realizada na quarta-feira (14), com intuito de "garantir a ampla defesa" e que só se manifestará nos autos do processo.