Uma operação realizada pela Polícia Civil na quarta-feira (30), nos três Estados do sul do Brasil, desarticulou o mais antigo, e provavelmente mais organizado, esquema de telentrega de drogas atuante na região metropolitana de Porto Alegre. Após investigação que se estendeu por um ano, o Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc) revelou que o grupo era integrado por cerca de 50 pessoas, divididas em núcleos com atuação especializada, de atendimento aos usuários, logística, até setor jurídico e de contabilidade. Todo o esquema seria comandado por um casal. Um homem de 45 e uma mulher de 25 anos, que ostentavam o dinheiro obtido com uma vida de luxo.
A polícia não divulga os nomes, mas a reportagem apurou que os suspeitos são Luana Vasconcellos Casagrande e Marcos Prestes. O casal foi preso em um condomínio luxuoso de Taquara, no Vale do Paranhana. A mulher tinha passagem pela polícia por suspeita de tráfico de drogas e ameaça. O companheiro dela tem antecedentes criminais por tráfico de drogas, lesão corporal, homicídio, ameaça e desobediência.
O titular da 3ª Delegacia do Denarc, delegado Gabriel Borges, diz que obteve provas suficientes da participação dos dois em vários crimes, principalmente imagens e trocas de mensagens. GZH tentou diversas vezes desde a quarta-feira contato com a defesa do casal, mas não teve retorno até esta publicação.
A investigação apurou que empresas de propriedade dos dois eram usadas na lavagem de dinheiro, como uma estética e uma loja de roupas em Taquara. Os estabelecimentos, assim como outros que teriam ligação com o esquema, foram alvos de buscas na quarta.
Os investigados também seriam proprietários de nove veículos de luxo e de mansões em condomínios fechados no Litoral Norte e em Taquara. Vinte e cinco imóveis, assim como os carros, foram apreendidos judicialmente.
Ostentação
Nas mesmas redes sociais pelas quais mantinham contato com os usuários de drogas, os suspeitos ostentavam uma vida luxuosa, que a polícia acredita que era financiada pelo esquema criminoso. Publicações mostram viagens a badalados destinos turísticos do mundo, como o nordeste brasileiro, Las Vegas, Los Angeles e Miami, nos Estados Unidos, Barcelona, na Espanha, e para praias do Caribe.
As benesses da lucrativa organização do tráfico, que movimentava cerca de R$ 4,8 milhões a cada ano, segundo a polícia, se estendiam para além do casal de líderes. Um dos investigados é o proprietário de uma construtora, inativa na junta comercial de Cachoeirinha desde 2017, mas que ainda era usada na lavagem de dinheiro do grupo. A companheira deste homem fazia publicações nas redes, segundo o Denarc, com fotos em clubes luxuosos, praias, restaurantes caros e festas realizadas em marinas, com direito a passeios de lancha.
Uma mulher, apontada como contadora da organização criminosa, em um dos áudios obtidos durante a investigação, fala de gastos e revela a origem dos recursos:
— Agora a gente é traficante, né, amiga, a gente tem dinheiro.
A mesma suspeita, segundo a polícia, revela, em outra conversa interceptada, que o esquema de telentrega de drogas funcionava há 10 anos:
Embora as lideranças tenham sido identificadas e presas, a investigação da 3ª Delegacia do Denarc continua. O delegado Borges busca identificar mais suspeitos e contabilizar o total em dinheiro movimentado pelo grupo.