O esquema de telentrega de drogas que funcionava há uma década na região metropolitana de Porto Alegre e foi desbaratado na manhã desta quarta-feira (30) pelo Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc) tinha envolvimento de policiais civis. A revelação surgiu ao longo das investigações, que culminaram nas prisões de 43 pessoas, numa das maiores operações deste ano pela Polícia Civil gaúcha. A ação policial transcorreu em três Estados.
Os agentes da Polícia Civil foram presos em 2018, quando a investigação sobre telentrega de maconha, cocaína e ecstasy para pessoas de classe média e alta ainda era embrionária. Dois dos policiais, ambos comissários, atuavam no Denarc (um deles na investigação, outro como plantonista). O terceiro agente detido era da 3ª DP de Porto Alegre, uma delegacia do bairro Floresta.
Os policiais do Denarc que foram presos eram ligados à outra gestão. Desde então, as equipes do departamento foram trocadas e os procedimentos, reformulados.
Conforme apontaram as investigações do Ministério Público e da Corregedoria-Geral da Polícia Civil em 2018, os agentes mantinham conversas por aplicativo de celular com um dos chefes da telentrega (que foi preso nesta quarta-feira). O esquema envolveria 6,4 mil clientes, com repasse de drogas via motoboys e carros, para bairros como Auxiliadora e Moinhos de Vento. Um dos policiais do Denarc que foi preso guardava, no porta-malas da viatura policial que utilizava, uma pistola e um revólver com numeração raspada e mais de 40 porções de cocaína. O comissário foi condenado, apesar de dizer que a droga era para consumo próprio, porque ele seria dependente químico. Os outros dois agentes foram absolvidos.
A nota cômica na operação do Denarc desta semana é que um dos presos, que estava nos EUA, ao desembarcar em Porto Alegre perguntou aos policiais onde fica o xadrez de primeira classe..."O bom filho à casa retorna", emendou o trafiante. Há humor, também, no submundo.