A Polícia Civil deflagrou operação, na manhã desta segunda-feira (12), para desarticular um esquema que criou um "consórcio" entre facções para trazer maconha do Paraguai para o Rio Grande do Sul. Durante o cumprimento de mandados, foram apreendidas esmeraldas, em quantia avaliada em R$ 300 mil.
— As esmeraldas foram encontradas na cidade de Esteio, na residência de um dos operadores financeiros. A quadrilha se utilizava dele para ocultação de veículos, bem como para passagem de dinheiro pelo sistema financeiro — disse o delegado Adriano Nonnenmacher, da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro (DRLD), para quem as pedras preciosas eram uma "moeda de troca" que as facções utilizavam no esquema.
Também foram apreendidos carros de luxo e dinheiro em espécie. Até as 11h15min, 15 pessoas haviam sido presas.
Conforme a investigação, a movimentação financeira do esquema, cuja facção responsável tem base no Vale do Sinos — mas com os líderes do consórcio sendo de Gravataí e Cachoeirinha —, foi de pelo menos R$ 100 milhões desde o final de 2020. Para lavar o dinheiro obtido com a distribuição da droga, teriam sido usadas mais de 90 contas bancárias, adquiridos carros de luxo e imóveis, além de investimentos na bolsa de valores e em empresas.
Um dos alvos — preso em Santa Catarina durante a investigação — teve aproximadamente R$ 1,8 milhão em carros de luxo apreendidos. Ele seria, segundo a polícia, um intermediador do esquema, e usava os veículos para pagamento das drogas.
Lavagem de dinheiro
O trabalho de investigação do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc) foi dividido em duas partes. Uma delas teve início há dois anos, no combate à venda de maconha, e a outra, que começou há um ano, é a de lavagem de dinheiro.
Entre os envolvidos na lavagem de dinheiro estão os integrantes de um dos núcleos do grupo composto por mais de 90 pessoas, mas também laranjas que deram seus nomes para que contas e empresas de fachada fossem abertas.
O delegado Nonnenmacher afirma que o núcleo identificado na lavagem de capitais tinha atuação em várias cidades gaúchas, mas conexões nos outros dois Estados do Sul, por isso foram cumpridos mandados no Paraná e em Santa Catarina. Os investigados, segundo apurou a polícia, utilizavam diversas técnicas para dificultar o rastreio do dinheiro.
Além de fracionar os valores entre diversos agentes e laranjas, eles trocavam cheques com cifras milionárias.
— Eles utilizavam muitos cheques para pagamentos e descontos com outro operador financeiro de vulto da quadrilha, um empresário identificado também em outra operação policial, na "Erga Omnes". Atualmente, este empresário está preso — diz Nonnenmacher.
Empresas envolvidas
Em alguns casos, como a movimentação financeira do esquema era grande, os suspeitos passaram a cooptar comerciantes. Eles injetavam o dinheiro do crime nas empresas e depois retiravam os supostos lucros. Notas frias eram utilizadas. Os empresários envolvidos também ficavam com uma parte, uma espécie de comissão.
Operação Consortium
Cerca de 500 agentes cumpriram 375 ordens judiciais. São dois mandados de prisões preventivas e 18 temporárias, 96 mandados de busca, 21 restrições impostas a veículos, sendo um imóvel e oito carros apreendidos, além do bloqueio de 93 contas bancárias, 99 afastamentos de sigilos bancário, fiscal, financeiro e de investimentos na bolsa de valores.
A ação ocorreu em Porto Alegre, Gravataí, Cachoeirinha, Esteio, Estância Velha, Novo Hamburgo, Tramandaí, Viamão, Canoas, Soledade, Pelotas, Passo Fundo e Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, além de municípios de Santa Catarina e Paraná. O trabalho teve apoio de outras instituições, como a Brigada Militar e Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).