A quadrilha que sofreu uma ofensiva na manhã desta quinta-feira (22) agia de forma violenta durante o roubo dos veículos, que depois eram clonados e revendidos, de acordo com a investigação. Após a adulteração, os carros eram repassados a outros grupos, que cometiam crimes como assaltos a banco e homicídios, ou eram vendidos a compradores, como se estivessem em situação regular.
Em operação nesta quinta, foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão no RS — em Porto Alegre, Alvorada, Viamão, Gravataí, Parobé e São Francisco de Paula — e dois na cidade de São Paulo, com o apoio de equipes daquele Estado. As ordens judiciais foram cumpridas nas residências dos investigados. As equipes apreenderam celulares, impressora, placas de veículos e documentos de carros sem procedência, além de uma quantia de cerca de R$ 15 mil.
Conforme a Polícia Civil, a investigação começou em abril, após a prisão de dois homens que produziam placas falsificadas, que depois seriam utilizadas em veículos roubados. A prisão ocorreu no bairro Viamópolis, em Viamão. No local, as equipes descobriram uma fábrica clandestina, que produzia as placas, em uma casa alugada.
Conforme o delegado Rafael Liedtke, responsável pela investigação, a partir daí se descobriu que alguns integrantes do grupo ficavam responsáveis por cometer os roubos de veículos e outros com a clonagem.
— Agiam de forma bastante violenta. Os assaltantes costumavam agir no final do dia, ao cair da noite, e atacavam especialmente a região da Zona Norte e bairros nobres da Capital. Estavam sempre em duas pessoas, no mínimo, e faziam os roubos à mão armada, impondo medo e ameaças às vítimas. O grupo dava preferência a carros com maior valor agregado, com motores mais fortes, como SUVs e carros sedan — diz Liedtke.
Segundo o delegado, os criminosos que faziam os assaltos foram presos durante a investigação. A polícia não indicou quantas prisões foram feitas, mas afirma que ao menos 10 criminosos foram detidos. Nesta quinta, a operação visou combater o grupo que ficava responsável pela clonagem dos veículos.
A polícia apurou que depois dos roubos, os carros eram adulterados. O grupo alterava desde as placas dos carros até o número do chassi e dos vidros, dados do motor e a documentação, que era falsificada.
Conforme Liedtke, a quadrilha também tinha "fortes conexões" com um grupo de São Paulo, que fornecia placas em branco para serem adulteradas — tanto placas do modelo antigo quanto do novo, do Mercosul, eram produzidas.
A investigação aponta que boa parte do material usado na clonagem, especialmente as placas em branco, eram desviadas da capital paulista e enviadas pelos Correios aos criminosos do RS. Na operação desta quinta, durante o cumprimento dos mandados em São Paulo, algumas placas foram localizadas na casa de um despachante.
— Faziam uma clonagem integral e muito bem feita do veículo, tinham se especializado nisso. Só olhando o carro, a gente não consegue perceber que são clonados. Antigamente, os carros roubados eram desmanchados. Hoje, como os criminosos conseguem fazer adulterações bem feitas, são clonados. Por isso também que preferem carro com motores mais potentes e de maior valor agregado, porque serão repassados, não desmanchados.
Depois da adulteração, segundo a polícia, os criminosos revendiam os veículos. A maioria era repassada a outros grupos criminosos, que cometem delitos como roubos a banco e de cargas e homicídios. Em outros casos, os veículos clonados eram revendidos a compradores, como se estivessem em situação regular.
— Antes da clonagem, o simples carro roubado vale cerca de mil reais. Depois de uma adulteração bem feita, como o grupo fazia, e com o documentos falsos, esses veículos chegam a R$ 40 mil ou R$ 50 mil. Isso para vender para outras quadrilhas. Quando anunciam para consumidores, tentando aplicar um estelionato, colocam o preço cheio, às vezes com algum desconto, para não despertar suspeita da vítima. Se vale R$ 140 mil, pedem R$ 130 mil, 135 mil. Aí a vítima compra e quando vai passar para o nome dela, na vistoria do Detran, descobre que o veículo é roubado e clonado. Só que ela já pagou o valor, de boa fé.
Liedtke afirma que os carros eram anunciados em sites de compra e venda.
A ação nesta quinta-feira contou com cerca de 50 policiais civis. A ação combateu crimes de associação criminosa, falsificação de documentos públicos, adulteração de sinais identificadores e receptação de carros roubados. O trabalho foi comandado pela Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes de Roubos de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DRV/Deic), e teve apoio da Corregedoria-Geral do Detran.
Dicas para se prevenir:
- Nunca feche negócio sem verificar todas as informações do veículo
- Pesquise sobre a reputação da loja ou do comprador que está anunciando o carro
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado
- Fique atento a indícios de pintura recente no veículo e de alteração do chassi e números gravados nos vidros
- Se tomar tomar conhecimento de um carro clonado, informe o Detran e registre boletim na delegacia de polícia