Uma operação realizada pela Polícia Civil, na manhã desta quinta-feira (22), teve como objetivo combater uma quadrilha especializada em clonagem de veículos e falsificação de documentos. Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão em municípios gaúchos e em São Paulo.
Conforme a apuração, os investigados eram responsáveis por clonar veículos roubados principalmente em Porto Alegre, adulterando placas e documentos. A ação contou com cerca de 50 policiais civis e começou por volta das 6h.
Foram 12 mandados no RS: na Capital e em Alvorada, Viamão, Gravataí, Parobé e São Francisco de Paula. As outras duas ordens judiciais foram cumpridas na cidade de São Paulo, com o apoio de equipes daquele Estado.
Os mandados foram cumpridos nas residências dos investigados que, segundo a polícia, forneceriam placas e documentos falsificados para clonar os veículos roubados. Até as 8h, o balanço da operação contabilizava apreensão de celulares, impressora e documentos de carros sem procedência, além de uma quantia de cerca de R$ 15 mil em espécie.
A ação combate crimes de associação criminosa, falsificação de documentos públicos, adulteração de sinais identificadores e receptação de carros roubados. O trabalho foi comandado pela Delegacia Especializada na Repressão aos Crimes de Roubos de Veículos do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DRV/Deic), e teve apoio da Corregedoria-Geral do Detran.
De acordo com o delegado Rafael Liedtke, à frente da ofensiva, as investigações começaram em abril, quando dois homens foram presos ao fabricar placas falsificadas, que seriam depois utilizadas para a clonagem. A prisão ocorreu no bairro Viamópolis, em Viamão.
Na ocasião, no local, as equipes descobriram uma fábrica clandestina que produzia as placas. A produção era feita em uma casa alugada.
A partir da prisão, o grupo — que agia principalmente na Capital — passou a ser investigado. Segundo a polícia, chamou atenção das equipes que os criminosos tinham "fortes conexões" com grupos do Estado de São Paulo.
A investigação aponta que boa parte do material usado para clonagem, especialmente as placas em branco, eram desviadas da capital paulista e enviadas por correio para os criminosos do RS. Eram falsificadas tanto placas do modelo antigo quanto do novo, do Mercosul.
— Foram dezenas de prisões feitas desde o começo da investigação, de pessoas que eram responsáveis por roubar, à mão armada, os veículos em Porto Alegre. Hoje, a operação visou combater o grupo que ficava responsável pela clonagem dos veículos, fazendo desde a alteração de placas até a documentação falsificada — explica Liedtke.
Segundo a polícia, a quadrilha visava roubo e clonagem de veículos maiores, como caminhonetes e SUVs. Depois da clonagem, na maior parte das vezes, os veículos seriam usados por outras quadrilhas para cometer delitos ainda mais graves, como roubo a banco e homicídios.
— Em alguns casos, mais raros, os carros são usados normalmente, desde que a clonagem seja bem feita, para não chamar atenção das polícias nas ruas, e é nisso que esses grupos têm se especializado. Algumas vezes também são enviados a cidades ou Estados vizinhos. Mas a grande maioria é utilizada para cometer crimes.
Conforme Liedtke, os criminosos conseguem adulterar desde o número do chassi, dados do motor, a placa e também a documentação.
— Era um esquema organizado, uma verdadeira associação criminosa. A gente sabe que hoje a grande parte dos carros roubados à mão armada na Capital tem como destino a clonagem. Antigamente, eles eram desmanchados. Atualmente, como se organizou a clonagem, a alteração, se formaram quadrilhas especializadas nisso, que atuam em fábricas clandestinas.
De acordo com dados da Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP), o roubo de veículos no RS teve alta de 15,5% em agosto deste ano na comparação com o mesmo período de 2021. A Capital também registrou aumento, de 46,8%, nos roubos de veículos: foram registrados 160 ocorrências do tipo em agosto, frente às 109 no mesmo mês do ano passado.
Denúncias podem ser enviadas a polícia pelo disque-denúncia, no telefone 0800-510-2828 ou pelo Whatsapp e Telegram (51) 98418-7814.
Como funciona a clonagem de veículos
O crime consiste em "duplicar" informações de um veículo. Em um carro de situação irregular, normalmente roubado ou furtado, criminosos colocam placas de um veículo que esteja regularizado, dentro das leis de trânsito. Além da placa, as quadrilhas também falsificam a documentação, o número do chassi e o dos vidros, por exemplo, para evitar levantar suspeitas.
A clonagem é feita, em geral, para colocar o veículo à venda como se não tivesse irregularidades (aplicando golpes nos compradores) ou burlar a fiscalização de trânsito (o que facilita o deslocamento de grupos criminosos nas ruas).
Dicas para se prevenir:
- Nunca feche negócio sem verificar todas as informações do veículo;
- Pesquise sobre a reputação da loja ou do comprador que está anunciando o carro;
- Desconfie de preços muito abaixo do mercado;
- Fique atento a indícios de pintura recente no veículo e de alteração do chassi e números gravados nos vidros;
- Se tomar tomar conhecimento de um carro clonado, informe o Detran e registre boletim na delegacia de polícia.