O laudo pericial, solicitado pela Polícia Civil do Paraná, aponta que foram apagados os históricos de acessos às imagens das câmeras de segurança do local onde o agente penal Jorge Guaranho assassinou o guarda municipal e tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), Marcelo Arruda, em Foz do Iguaçu, no Paraná. O laudo, anexado na última terça-feira (2), apura que em 11 de julho, dois dias após o crime, o material foi deletado.
Guaranho é réu pelo assassinato do tesoureiro do PT e responde por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e por colocar em risco a vida de outras pessoas.
"Ao analisar as configurações do equipamento, identificou-se que o serviço de acesso remoto P2P estava ativado e que às 8h57min2seg do dia 11 de julho ocorreu um evento de 'Limpar' que apagou todos os registros de eventos do aparelho anteriores a esta data. Logo, pela análise dos logs presentes, não foi possível afirmar se houve acesso às imagens no dia 9 (data do crime)", diz um trecho do laudo.
Os peritos também concluíram que não foram encontrados indícios de adulterações nas gravações das câmeras. O registro de acesso às imagens é um fator importante na investigação para descobrir quem teria mostrado ao autor do crime que na Associação Recreativa Esportiva Segurança Física de Itaipu (Aresf) ocorria uma festa com temática do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 9 de julho.
Procurado pela reportagem, o presidente da Aresf, Antonio Marcos Borges de Souza, informou que não sabia sobre o registro de acesso ter sido apagado. "Não tinha conhecimento desta situação, mas estamos à disposição da Justiça para mais esclarecimentos, caso necessário", respondeu, por mensagem.
Segundo a presidência da Aresf, somente integrantes da diretoria do clube possuem acesso às câmeras e Guaranho deixou a diretoria em janeiro deste ano, mantendo-se apenas como sócio.
A defesa da família da vítima aguarda a perícia nos telefones celulares de Guaranho e dos integrantes da diretoria da Aresf que estavam com Guaranho em um churrasco na Associação de Empregados da Itaipu Binacional (Assemib), onde o agente penal teria tido conhecimento sobre a festa de Arruda.
Outro aparelho que passa por perícia é o celular de integrante da Divisão de Segurança da Central da Itaipu Binacional. Ele caiu de um viaduto na BR-277, em Medianeira, no Paraná. Segundo a presidência da Aresf, ele tinha acesso às imagens das câmeras e era integrante da diretoria da associação. No dia do assassinato, ele estava em serviço pela Itaipu.
O crime
Arruda foi morto na noite de 9 de julho, durante a própria festa de aniversário de 50 anos, realizada na sede da Associação Recreativa e Esportiva Saúde Física (Aresf). A festa estava decorada com as cores do PT e bandeiras do ex-presidente Lula.
O agente penal Guaranho é sócio da Aresf e assumidamente apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo a Polícia Civil, ele teria ido até o local com o intuito de provocar os participantes da festa, gritando palavras como "mito" e "aqui é Bolsonaro". Ninguém na festa conhecia Guaranho. Para o Ministério Público, o crime se deu em razão das divergências políticas entre os dois.
Arruda chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos dos dois tiros que recebeu e morreu na madrugada de 10 de julho. Guaranho segue internado em uma ala de enfermaria no Hospital Costa Cavalcanti, em Foz do Iguaçu. Ele está consciente e sob custódia policial, pois teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.
Guaranho levou quatro tiros disparados por Arruda ao revidar o ataque. Além disso, também foi atingido por chutes na cabeça e em outras partes do corpo por convidados da festa que retornaram ao salão após o fim do tiroteio. Essas pessoas estão sendo investigadas em um inquérito à parte.