A Polícia Civil indiciou nessa quarta-feira (22) por racismo qualificado o jovem que gravou um áudio com ofensas racistas contra uma policial militar em Porto Alegre. O arquivo com xingamento racista, machista e gordofóbico circula pelas redes sociais e aplicativos de mensagens desde o dia 8 de junho.
Na gravação, de cerca de dois minutos, o estudante diz ter sido parado em uma blitz na Rua Luciana de Abreu, bairro Moinhos de Vento e discutido com uma policial, que segundo o estudante, teria sugerido que ele estava embriagado. Conforme a delegada Andréa Mattos, da Delegacia de Combate à Intolerância da Capital, o indiciado tem 20 anos, foi ouvido e confessou ser o autor dos áudios. No entanto, ele alega que o conteúdo foi descontextualizado e que seria uma representação teatralizada.
— Ele disse que foi uma teatralização. Que a abordagem não ocorreu e que ele teria outros áudios mostrando a brincadeira. Entretanto, ele não apresentou esses arquivos soba justificativa de que trocou de celular — afirma a delegada.
O inquérito com o indiciamento foi encaminhado à Justiça. Cabe ao Ministério Público decidir se arquiva ou oferece denúncia. Não há um prazo para isso ocorrer.
A delegada esclarece que a policial referida nos áudios não foi identificada, mas que, como o crime de racismo atinge a coletividade, decidiu abrir uma instauração de ofício. Isso ocorre quando a autoridade policial inicia a investigação com as provas que tem, sem que a vítima precise registrar ocorrência. Andréa Mattos diz que, se condenado, o jovem pode pegar de dois a cinco anos de prisão.
— As provas que temos foram suficientes para instauração de ofício — concluiu.
A polícia teve acesso a prints de conversas em grupos de amigos do estudante onde ele fala sobre a abordagem, quando inclusive o pai foi chamado para resolver a situação. Em depoimento à polícia, o pai nega que tenha ido até o local.
O advogado Samir Assif, que defende o indiciado, reafirma o que o jovem disse em depoimento. A defesa reitera que o áudio foi maliciosamente descontextualizado. Diz ainda que referida blitz não existiu e, que se o jovem tivesse agido da forma narrada, teria sido preso em flagrante por desacato.
A polícia apurou que no dia em que os áudios foram gravados, a Brigada Militar encerrou uma aglomeração de cerca de 400 pessoas na Rua Luciana de Abreu. Porém, a Corregedoria da Brigada, através do PROGRAMA PM VÍTIMA, ainda apura os fatos e afirma que restam pessoas a serem ouvidas.
A polícia não pediu a prisão do estudante e não divulgou a identidade. No entanto, a reportagem apurou que se trata de Gabriel Bastos, 20 anos. Ele já tem um antecedente criminal por violência psicológica contra uma ex-namorada. Essa jovem, inclusive, prestou depoimento e negou que tivesse sido responsável por divulgar os áudios pelo Whatsapp, conforme o indiciado chegou a dizer em depoimento.
Manifestação da defesa
A nossa manifestação tem sido no mesmo sentido desde o começo da investigação:
A defesa reitera o depoimento de Gabriel no sentido de que o áudio foi maliciosamente descontextualizado. Conforme apurou a investigação, a referida blitz não existiu e, tivesse ele agido da forma narrada, teria sido preso em flagrante por desacato. Não há registro algum desta natureza em nome de Gabriel, que provará sua inocência no transcorrer do processo, se caso oferecida denúncia.
Samir Nassif