Um homem de 26 anos, morador de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, foi indiciado pela Polícia Civil nesta terça-feira (21) por racismo qualificado e por ameaças a um ativista brasileiro — que combate a homofobia — que mora nos Estados Unidos justamente por questões de segurança. A investigação aponta existem indícios de que o suspeito tenha participado de um grupo que faz apologia ao nazismo na internet e por outras ameaças, no caso ao ator da Globo e ex-integrante do BBB 22, Douglas Silva. A defesa do investigado desconhece, até o momento, o resultado do inquérito e afirma que seu cliente não cometeu atos ilícitos.
A titular da Delegacia de Combate à Intolerância de Porto Alegre, Andrea Mattos, diz que foram encontradas provas do crime de racismo na chamada Deep Web, o lado obscuro da internet. A estratégia é adotada pelos criminosos para evitar, por exemplo, possíveis rastreamentos. Os indícios são de que ele participava de um grupo com mais de mil pessoas, sendo 40 delas do Rio Grande do Sul, que fazia apologia ao nazismo. Foram identificadas ainda ameaças ao ativista Antônio Isupério. Neste caso, a vítima procurou o vereador de Porto Alegre, Leonel Radde (PT) para fazer um dossiê e entregar a delegada Andrea.
Os crimes atribuídos ao investigado no inquérito são referentes ao artigo 20 do Código Penal, que é praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A pena prevista é de reclusão de um a três anos e multa.
Ele também está sendo indiciado por delitos referentes ao artigo 147, que é ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, causando mal injusto e grave. A pena é de detenção de um a seis meses ou multa. A polícia não divulgou nome do indiciado, mas GZH apurou que se trata de Aristides Braga.
Outras investigações
A delegada Andrea diz que há outras investigações contra o indiciado. Uma delas, conforme um outro dossiê realizado pelo vereador Radde e averiguações da polícia, é a respeito de ameaças ao ator Douglas Silva e a sua família. São atos racistas e ameaças de morte encaminhados a parentes do ator da Globo.
Outra suspeita é de que Braga fazia parte de um grupo na internet apontado por ser palco de vários delitos. O grupo foi criado por um homem de Goiânia, capital de Goiás, e os participantes instigavam outros integrantes a cometer crimes ao vivo pela rede mundial de computadores. Sete dos cerca de 40 gaúchos foram apontados em inquéritos policiais, entre eles, o morador de Novo Hamburgo indiciado nesta terça-feira.
Outros dois integrantes são um adolescente de Lindolfo Collor, no Vale do Sinos, que espancou, matou e esquartejou um cachorro no final do ano passado. Ele foi apreendido e cumpre medida socioeducativa de três anos de apreensão, com acompanhamento psicológico. No caso de Braga, que responde ao inquérito em liberdade, a polícia também apura — inclusive remeteu o procedimento à Justiça com imagens e mensagens suspeitas — a participação dele nesse grupo na Deep Web.
— No dia em que cumprimos mandado de busca na casa do investigado, apreendemos celular e computador, mas lamentamos que houve destruição de provas no computador, como se estivesse nos esperando. Encontramos diversas pesquisas com nomes e práticas nazistas, mas não foi possível apurar ainda o contexto destas palavras. A perícia nos confirmou ainda que existia um outro dispositivo de armazenamento e que foi retirado antes da polícia ter acesso a ele — explica Andrea.
A delegada também lembra que o investigado disse ter sido vítima de um ataque hacker. De fato, ela diz que foi comprovado — após os supostos delitos — que ele teve o material apagado das redes e também foi ameaçado. Mas, conforme depoimento, o investigado alega que antes disso já havia sido atacado e que hackers fizeram postagens preconceituosas. Até mesmo uma foto dele, feita para usar em documento, foi utilizada para fazer apologia nazista. Por fim, Andrea diz que o suspeito também alegou não entender muito de computadores e que apenas gosta de jogos online.
Outro suspeito de integrar este grupo na internet é Israel Soares, 22 anos, de Tramandaí. Ele foi preso no dia 30 de janeiro deste ano, mesmo dia em que o suspeito de Novo Hamburgo foi alvo de busca e apreensão em sua casa. Soares foi indiciado por ameaças ao mesmo ativista brasileiro, por ameaças também a vereadores de Porto Alegre e Niterói, no Rio de Janeiro. Em outubro do ano passado, ele gravou um vídeo usando um capacete da Legião Hitlerista utilizado na 2ª Guerra Mundial. Ele publicou vídeos no canal do YouTube “Führer Brasileiro” usando este equipamento, quase sempre mencionando saudações como “Sieg Heil” — “Salve a Vitória”.
Contraponto
O advogado André Von Berg defende Aristides Braga. Em nota à imprensa, desconhece a conclusão do inquérito policial e que não foi informado sobre o fato. Segundo ele, seu cliente está à disposição das autoridades e, como já informado anteriormente, nega qualquer ato ilícito. A nota, na íntegra:
“Na condição de defensor do Sr. Aristides informou desconhecer que o Inquérito Policial tenha sido concluído bem como seu resultado, tendo em vista que não fomos intimados assim como não foi o nosso constituinte. Não há nenhum outro elemento que possa assegurar um mínimo de indício de autoria e materialidade no cometimento de qualquer ilícito. O Sr. Aristides compareceu perante a Autoridade Policial esclarecendo todos os fatos; permanece à disposição para prestar qualquer esclarecimento complementar que for solicitado. De lá para cá, não houve (ao menos não foi informado) de nenhum outro encaminhamento feito pela Autoridade Policial.
Afirma categoricamente que NÃO praticou nenhum ato ilícito, e, confia na Justiça, em que restará absolvido. Reitera estar de consciência absolutamente tranquila, por ser sabedor da sua inocência. Ademais, estranhamos o fato (de um possível indiciamento) ser publicizado sendo que até o momento as partes supostamente envolvidas NÃO foram intimadas.
Ainda mais tratando-se de expediente, como se sabe, que tramita em “segredo de Justiça”. Sem emitir qualquer juízo de valor, mas, parece que estão querendo fazer uma campanha para destruir a imagem do Aristides requentando fatos já ultrapassados. Temos que ter cautela antes de “condenar” qualquer pessoa sem que tenha sido julgada pela Justiça, em processo que tenham sido observados o contraditório e a ampla defesa (predicados assegurados pela Magna Carta)”.