O comércio do entorno da esquina da Avenida Osvaldo Aranha com a Rua General João Telles, no Bairro Bom Fim, em Porto Alegre, reabriu na noite deste sábado (4), horas depois do assassinato de Linton Ferreira, 46 anos. Ele foi morto durante uma briga na última madrugada, e a violência do autor do crime chamou atenção dos comerciantes que presenciaram o ocorrido.
O dono de um estabelecimento próximo ressaltou que o suspeito já estava no local horas antes da morte de Ferreira, "querendo arrumar confusão". Ele relatou que o homem se mostrava muito alterado, implicando com as pessoas que circulavam por ali e se jogando em cima do capô dos carros. Por volta da 1h deste sábado, ele "acabou conseguindo começar uma briga", que culminaria com o assassinato de seu oponente três horas depois.
— Eu não conhecia nenhum dos dois. Não eram daqui. Eu nunca vi — garantiu.
De acordo com outra testemunha, gerente de um comércio próximo, depois do embate entre os dois ter durado bastante tempo, com as pessoas ao redor separando e, logo em seguida eles voltando a brigar, bem na esquina da Osvaldo com a João Telles, Ferreira foi derrubado, inconsciente, mas ainda se mexendo, pelo autor do crime. Este, na sequência, arrancou a orelha da vítima com os dentes e caminhou em direção a pessoas próximas, segurando o órgão.
— Ele cuspiu a orelha na mão, saiu mostrando para as pessoas e dizendo "tá aqui a orelha". Depois, pegou e jogou no poste. Eu gelei na hora. Ele, daí, voltou e deu dois chutes na cabeça do cara e acho que foi aí que ele morreu — explicou.
Segundo o relato do gerente, a Brigada Militar foi acionada horas antes do assassinato, mas nenhuma viatura se deslocou até o local a tempo.
— Isso que revolta, tem um posto da polícia aqui pertinho. E eles só vieram depois que o cara já estava morto. O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), quando chegou, já não adiantava mais. E quem matou estava subindo a rua, todo ensanguentado, mas a Brigada não foi atrás. Se tivesse ido, com certeza teria pego ele — diz o gerente.
Apesar da violência do crime, a noite de sábado estava com o movimento normal, segundo os comerciantes do local. Com todos os bares abertos e com um público condizente para o dia — e com expectativa de ter ainda mais, devido ao show da banda Blitz no Auditório Araujo Vianna, do outro lado da Osvaldo Aranha.
Tumulto na rua
Uma comerciante que estava trabalhando ao lado do ocorrido relatou que nunca tinha visto uma briga como aquela por ali, mesmo estando há mais de 10 anos em seu ponto. De acordo com ela, os dois envolvidos na briga estavam querendo confusão, mas ela nunca imaginou que resultaria em morte.
Segundo ela, a violência começou a crescer no local seguindo a tendência de movimento da João Telles, que acaba sendo tomada por pessoas durante a madrugada — "gente que não é do bairro", conta. Assim, a rua quase fecha entre o final da noite e o começo da madrugada devido ao fluxo intenso de pedestres e ambulantes. Este movimento, diz a comerciante, começou pouco antes da pandemia e, cada vez mais, vem aumentando, gerando episódios de agressão como este.
— Sorte a nossa que foi com a mão. Imagina se o homem estivesse com uma arma, teria atirado para tudo que é direção. A gente não merece esse tipo de coisa. O bairro não é disso. Espero que isso não nos prejudique — disse ela.
O gerente do estabelecimento citado acima contou ainda que os comerciantes do entorno acionam as autoridades, pedindo controle do local, devido ao movimento intenso nas noites, principalmente às sextas-feiras, mas nunca são atendidos:
— A gente já vinha cantando essa pedra há tempos: isso vai acabar em morte. É muito tumulto e de gente que não é daqui. Mas a Guarda Municipal vem quando tudo já acabou, no dia seguinte, na outra semana. E aconteceu. Só espero que não isso não respingue na gente, porque sempre respinga.
A responsável pelo caso é a delegada Roberta Bertoldo, que comanda a 2ª Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (2ª DPHPP) de Porto Alegre. Até o fechamento desta matéria, o autor do crime não tinha sido identificado. Quem tiver informações sobre o ocorrido pode repassá-las à polícia, mesmo que sob anonimato, pelo telefone 0800 642 0121.
O que disse Marcelo do Nascimento, comandante da Guarda Municipal:
Não houve registros de chamados para esta região para a Guarda Municipal. Porém, a operação Esforço Concentrado visa, além da fiscalização, aumentar a segurança de forma integrada com os outros órgãos de segurança nos bairros boêmios. Com os relatos apontados na reportagem, vamos incluir a área na operação que já atua rotineiramente nos bairros Cidade Baixa, Centro histórico e orlas. Denúncias podem ser feitas também para o telefone 153.