Dois dos criminosos que agiram, conforme a Polícia Civil, diretamente no ataque ao carro-forte da TBForte Segurança e Transporte de Valores, ocorrido no dia 29 de dezembro de 2021, em Guaíba, deveriam estar em casa cumprindo prisão domiciliar. Ambos estavam fora da cadeia para serem monitorados por tornozeleira eletrônica.
Maurício da Silva, o Mauricinho ou Uca, 40 anos, preso durante operação nesta quarta-feira (25), estava com a tornozeleira sem sinal desde abril de 2021 e teve fuga efetivamente registrada nos sistemas de segurança em julho. Já Márcio Vargas, o Papa-Léguas, 55, que segue foragido, estava com o equipamento ativo até as 5h do dia do assalto.
Depois desse horário, o sinal foi interrompido. Mas, no dia seguinte ao ataque, a tornozeleira emitiu bipes na Ilha do Pavão, entre Guaíba e Porto Alegre.
A polícia ainda não sabe como Silva e Vargas escaparam da ilha. O embarque de um homem sem camisa em uma Fiesta, no Cais do Porto da Capital, é uma das possibilidades investigadas. A possível fuga foi gravada por câmeras de segurança.
A Polícia Civil aponta Silva como o mentor do assalto em Guaíba. Com pena total de 38 anos por roubos, tráfico e porte de arma, ele ainda tem a cumprir 24 anos e oito meses.
Ele foi baleado em confronto com agentes da Delegacia de Roubos em 2015, quando foi encontrado em uma casa com outros criminosos e onde foi apreendido material usado para assaltos: munição, armas de grosso calibre, explosivos, toucas e roupas de uso policial, além de miguelitos.
Investigação apontou que o grupo atacaria um carro-forte na região da Serra. Em 2020, ele passou a ser investigado pelo ataque em um sítio em Igrejinha.
Já Márcio Vargas, frequentador do sistema penitenciário desde 1990, é especializado em assaltos a banco e recebeu condenação total de 78 anos de prisão por roubos, homicídio e porte de arma. Em agosto de 2020, foi liberado da prisão por conta da pandemia de covid-19 para ser monitorado por tornozeleira.
Apenas três meses depois — em novembro daquele ano — é que o Estado teve o equipamento para instalar em uma das pernas de Vargas. Na época, o criminoso ainda tinha 53 anos de condenação por cumprir.
Foi a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) que avisou as polícias, em 30 de dezembro de 2021, que o sinal da tornozeleira do assaltante estava dando como localização dele a Ilha do Pavão. O criminoso deveria estar recolhido em casa, na Vila Bom Jesus, em Porto Alegre, mas constava estar a exatos 300 metros da sede do clube Grêmio Náutico União.
Já era naquela região da ilha que estava concentrado o cerco para tentar capturar os envolvidos no roubo ao carro-forte. Com a localização mais precisa, as buscas se intensificaram. A tornozeleira havia emitido três bipes na região, ou seja, três coordenadas diferentes, em pontos próximos, mostrando que o homem estava em deslocamento.
As buscas reforçadas, inclusive com apoio de cão farejador, levaram os policiais ao local em que provavelmente o foragido esteve. Naquele ponto, foram achados pedaços de papel laminado (usado justamente para impedir a emissão de sinais da tornozeleira eletrônica), roupas, um boné e uma bandoleira de arma longa. Mas o criminoso não foi achado, e o sinal do equipamento de monitoramento silenciou.
Outro episódio reforçou as suspeitas contra Vargas. A mulher dele foi ao necrotério, na Capital, acreditando ser do companheiro o corpo encontrado às margens da ilha com sinais de afogamento. Surpresa por não ser ele, ela, inclusive, comentou saber que o companheiro tinha participação no caso de Guaíba.