Pelo segundo mês consecutivo, o Rio Grande do Sul teve redução no número de golpes registrados no Estado. Em março, foram 6.975 casos de estelionatos, o que representa 15,7% a menos do que no mesmo período do ano passado. Ainda assim, a média foi de 225 trapaças comunicadas por dia à polícia. Fevereiro já havia apresentado ligeira diminuição (-3,4%) em relação aos dados de 2021.
Esta queda nos números se mostra após um longo período de crescimento, que iniciou há cerca de dois anos. Quando comparamos março de 2022 com o mesmo período em 2020, por exemplo, percebemos que este indicador mais do que dobrou. Tinham sido 3.312 registros de estelionato em março de 2020 – naquele período a média era de 106 por dia. Especialmente ao longo da pandemia, que levou ao distanciamento social e adesão a modelos de trabalho e estudo remoto, os crimes pela internet tiveram salto, entre eles, os golpes.
Das trapaças praticadas pela internet aparece entre as mais cometidas atualmente aquela na qual criminosos capturam a conta de Instagram de alguém e usam esse perfil para fazer falsos anúncios de eletrodomésticos ou smartphones, por exemplo. Com isso, conseguem enganar os seguidores dessa pessoa, que adquirem mercadorias que não existem. Mesmo neste cenário de redução, o golpe dos nudes, que tem como alvo homens de meia idade, extorquidos após trocarem fotos íntimas na internet, também segue bastante aplicado, segundo a polícia.
À frente da Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos e Defraudações, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), o delegado André Anicet acredita que três fatores levam à essa diminuição pelo segundo mês seguido. O primeiro deles é a prevenção, já que ao longo dos últimos anos foram intensificadas ações para tentar alertar as possíveis vítimas de golpes.
— Tivemos o lançamento do aplicativo da Polícia Civil (PC Alerta) e passamos a falar desse assunto cada vez mais, a divulgar — afirma o delegado.
A prevenção é considerada ponto chave para tentar evitar esse tipo de crime, já que conseguir recuperar os valores perdidos pelas vítimas é algo raro. Os golpes costumam envolver um esquema, no qual a quantia é logo repassada para terceiros, impedindo sua localização. Entre as medidas adotadas pela polícia está também a de focar em grupos organizados que estejam por trás de série de golpes. Dessa forma, é possível identificar criminosos e evitar que um número elevado de pessoas seja lesado.
No fim de março deste ano, um grupo foi identificado e preso em São Paulo, por aplicar golpes em Santa Maria, na Região Central. Foram cumpridos 33 mandados de prisão preventiva e 64 de busca e apreensão em cidades como Guarulhos, Agudos, Itaquaquecetuba e Cajamar. Todos os alvos são investigados por integrar esse esquema e aplicar o chamado golpe do motoboy.
Nesse tipo de trapaça, as vítimas são convencidas por telefone de que tiveram o cartão do banco clonado. Por fim, acabam entregando para um motoboy o cartão e senha, acreditando que estão enviando para a agência. Ao longo de 10 meses de investigação, a polícia gaúcha identificou pelo menos 30 idosos lesados em cerca de R$ 1,5 milhão. Os policiais chegaram aos suspeitos de integrarem esse grupo especializado nesse tipo de golpe.
Subnotificação
Ainda que ações de prevenção e repressão incidam para frear os casos de estelionato, existe outro fator que também impacta nas estatísticas: a subnotificação. E ela pode acontecer de duas formas. Há casos em que as pessoas simplesmente deixam de registrar o fato, seja porque não acreditam que terão o valor restituído ou porque nem chegam a serem lesadas financeiramente.
Mas também há casos em que a vítima demora algum tempo para comunicar o crime à polícia. Isso faz com que as estatísticas apresentem mudanças ao longo do ano. Por exemplo, quando os indicadores de janeiro foram divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) havia 5,8 mil estelionatos registrados naquele mês. No entanto, atualmente, o número atualizado de golpes comunicados em janeiro deste ano é de 6,8 mil.
— Às vezes vemos que as vítimas não acreditam que tenham caído em golpe. Fazem contato com as pessoas (golpistas), para ver se ainda vão receber a mercadoria, por exemplo. Ou fazem a compra e tempos depois a mercadoria não é entregue. É aí que elas registram, embora o golpe tenha acontecido bem antes. Ou em casos de golpes bancários tentam fazer com que o banco restitua os valores. Acabam registrando somente depois para que a polícia faça alguma coisa, para tentar recuperar valor e responsabilizar criminosos — explica Anicet.
Em todos os casos, ainda que seja com atraso, a orientação da polícia é registrar o crime.
Como se proteger de alguns golpes
- Golpistas, em geral, oferecem vantagens para atrair a vítima e têm pressa para obter lucro. Fique atento a isso
- Não envie dados pessoais ou cópias de documentos para desconhecidos
- Se estiver acertando qualquer tipo de aluguel, seja por temporada ou permanente, visite o imóvel antes de fechar o negócio
- Na hora de comprar algo pela internet, desconfie se o site só aceitar pagamento por boleto ou transferência, se tiver falhas ou erros na página e se o único contato for por WhatsApp.
- Desconfie de publicações na internet que ofereçam serviços e bens por um valor abaixo do preço de mercado
- Não adquira produtos pela internet sem antes se certificar de quem está vendendo. Mesmo que seja um perfil conhecido, só efetue o pagamento após conversar diretamente com a pessoa
- No momento do pagamento, seja por Pix ou transferência, confira se o nome do destinatário é o mesmo de quem está adquirindo o produto
- Não repasse códigos recebidos no celular, por exemplo. Essa é uma das principais estratégias usadas para hackear contas no WhatsApp e no Instagram
- Certifique-se de que a pessoa com quem você está conversando, por WhatsApp por exemplo, é ela mesma. Para isso, uma dica é telefonar para a pessoa
- Desconfie de ligações de desconhecidos e nunca repasse informações pessoais
- Durante a venda de item, só entregue o produto após o dinheiro entrar na conta ou receber o valor. Não confie em comprovantes de transferência porque eles podem ser falsificados
- Se tiver um familiar idoso, oriente a pessoa sobre os golpes mais comuns e como se prevenir deles
- Caso seja vítima, registre a ocorrência. É possível utilizar a Delegacia Online. Reúna todas as informações que podem servir como provas, como dados bancários, conversas por mensagens e fotografias
Fonte: Polícia Civil do RS.