Na última sexta-feira (4), a Polícia Civil obteve mandado de prisão preventiva contra um homem de 23 anos, em Canoas, na Região Metropolitana, em razão de série de descumprimentos de medidas protetivas. A ex-companheira dele, uma mulher de 26 anos, havia procurado ajuda em dezembro, após encerrar o relacionamento e passar a receber ameaças. Na manhã desta segunda-feira (7), ela foi morta a tiros na frente do condomínio onde residia. Os nomes dos envolvidos não foram divulgados pela polícia.
Segundo a delegada Clarissa Demartini, da Delegacia da Mulher de Canoas, logo após procurar a polícia no início de dezembro, a mulher obteve medida protetiva, que determinava que o ex não poderia se aproximar dela. Essa medida ainda estava em vigor até hoje, quando ela foi vítima do crime. Ao longo desse período, o ex teria seguido tentando fazer contato, de diferentes formas, inclusive pela internet.
— Cumprimos três mandados de busca e apreensão nos endereços dele porque a vítima informava que ele teria acesso a arma de fogo. Por três vezes, representamos pela prisão preventiva dele. Em dois momentos, o pedido foi negado, em dezembro e janeiro. Na semana passada, na sexta-feira, fiz novo pedido porque ele tinha enviado e-mail para ela, com ameaças, e, no início da noite, foi aceito. Hoje, enquanto realizávamos diligências tentando localizá-lo, soubemos do feminicídio. A sensação é de que essa vítima nos escorreu por entre os dedos — diz a delegada.
O suspeito do crime, de 23 anos, é alguém já conhecido dos policiais da Delegacia da Mulher. Em outro episódio anterior, o homem teria mantido uma companheira em cárcere privado.
— Quando voltou a ter registro envolvendo a mesma pessoa, nos acendeu o alerta pelo grau de violência que ele já tinha cometido. Ele criava perfis nas redes sociais, ameaçava a vítima, mandava e-mail. Chegou a invadir a casa da mãe dela, fazer ameaça. Embora tivesse ordem para não se aproximar, ele fazia, nem que fosse por meio eletrônico — diz a delegada.
A polícia ainda não sabe o motivo pelo qual a vítima teria saído para a área em frente ao condomínio. Aos familiares, a mulher disse que iria receber uma intimação de um oficial de Justiça. Ela desceu para o acesso ao residencial, com o celular na mão.
— Ainda não sabemos se não foi ele que criou uma emboscada para ela. Ela vai até a portaria, chega até a parte externa do prédio e, ao vê-lo, retorna correndo. Mas, como são grades na frente, mesmo do lado de fora, ele consegue atirar na direção dela. Os populares ouviram pelo menos quatro disparos, que são condizentes com as lesões — diz Clarissa.
Após atirar contra a ex, que foi atingida na cabeça, nos braços e no pescoço, o homem ainda roubou um Peugeot de um outro morador, que chegava ao local. A polícia passou a fazer buscas pelo foragido, mas, até o fim da tarde desta segunda-feira, ele não havia sido localizado. Apesar do desfecho trágico do caso, a delegada pede que o episódio não desestimule outras mulheres, vítimas de violência doméstica, a buscarem ajuda.
— Sempre que noticiamos que uma mulher que tinha medida é vítima, dá essa sensação de que não adianta. Mas existia um aparato trabalhando por essa mulher, ela não era só um número. No momento em que aconteceu, estávamos na rua, tentando prendê-lo. Infelizmente, não conseguimos chegar antes dele. É importante que as mulheres sigam denunciando, registrando — afirma.
O que diz o Juizado da Violência Doméstica da Comarca de Canoas
Confira a nota na íntegra:
"A vítima e a mãe possuíam medida protetiva desde dezembro, quando ela relatava ter terminado o relacionamento e haver ameaças em razão disso. Na última sexta-feira havia sido decretada a prisão do acusado. A prisão foi decretada por descumprimento das medidas.
Houve pedido de prisão anterior indeferido, quando o processo foi encaminhado para DPE para contato com as vítimas, que referiram não haver novos contatos pelo acusado, sendo orientadas a informar qualquer novo contato. Quando veio nova informação de contato, foi decretada a prisão."