O programa Conversas Cruzadas desta segunda-feira (6) abordou a relação entre liberdade de expressão e a defesa de ditaduras. Em meio à comoção nacional pela vitória de Fernanda Torres como melhor atriz em drama no Globo de Ouro, pela atuação em Ainda Estou Aqui, o debate também destacou o impacto do filme para reavaliar o período da ditadura militar no Brasil.
A discussão no programa, apresentado por Léo Saballa Jr, foi motivada por declaração do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que, em seu discurso de posse, ocorrida na última quarta-feira (1º), afirmou:
— Que qualquer um possa dizer que defende a ditadura, porque isso é liberdade de expressão. Qualquer um pode defender o socialismo e ser contra a democracia liberal, porque isso é liberdade de expressão — disse Melo, provocando vaias de vereadores da oposição.
Com esse cenário, o convidado do programa, José Carlos Moreira da Silva Filho, doutor em Direito e vice-presidente da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania citou a vitória de Fernanda pela atuação no filme que, segundo ele, contribui para dimensionar o período da ditadura no Brasil.
Ele também afirmou que há riscos em relativizar o conceito de liberdade de expressão:
— É curioso e preocupante invocar a liberdade de expressão para defender algo que acabe com a própria liberdade de expressão — afirmou.
O filme
Ainda Estou Aqui narra a história de Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, e sua luta por respostas sobre o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva, durante a ditadura militar, que ocorreu de 1964 a 1985. Baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho do casal, o longa mistura drama pessoal e denúncia histórica.
Rubens Paiva, deputado federal pelo MDB e crítico do regime, foi preso, torturado e morto em 1971. A história é uma entre centenas de casos documentados por órgãos como a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão de Anistia, como lembrou Moreira:
— Não estamos falando de qualquer ditadura, mas de um regime civil-militar que cerceou liberdades públicas e cometeu crimes contra mulheres, crianças e outras pessoas indefesas sob a responsabilidade do Estado — destacou.
Prêmio inédito para o Brasil
A atuação de Fernanda Torres como Eunice Paiva foi amplamente elogiada e rendeu à atriz o Globo de Ouro de melhor atriz em drama, concorrendo com nomes como Nicole Kidman e Kate Winslet.
Foi a primeira vitória do Brasil na premiação desde 1999, quando Central do Brasil venceu na categoria de melhor filme estrangeiro.