Um funcionário do Shopping das Carnes que presenciou a discussão que culminou nas agressões e na morte do vendedor ambulante Wagner de Oliveira Lovato, 40 anos, disse à Polícia Civil que ouviu a vítima falar que a carne estava muito cara e, por esse motivo, não levaria nada. Para o delegado Edimar Machado, esse pode ter sido o motivo que desencadeou o desentendimento na noite do último sábado (2) em um açougue em Alvorada, na Região Metropolitana. Wagner foi agredido por dois homens na calçada do estabelecimento e acabou morrendo na noite de domingo (3) devido a gravidade dos ferimentos na cabeça.
A Polícia Civil divulgou na manhã desta quarta-feira (6) os vídeos que mostram Wagner, de camiseta cinza e com sacola verde, entrando no açougue, indo até o balcão e conversando com um dos atendentes. O vendedor logo sai e, na porta do estabelecimento, é parado pelo gerente do açougue, Luciano Monteiro, que está de colete verde. Naquele dia, Monteiro estava de folga, havia ido participar de uma confraternização e, por ter esquecido uma chave, tinha ido até a loja com um amigo, Luciano Ribeiro, que nas imagens aparece de roupa listrada.
A gravação mostra que Wagner e o gerente conversam por um tempo na porta do estabelecimento. Em depoimento, Monteiro diz que parou Wagner para entender porque ele não havia comprado nada e se havia algum problema no atendimento ou na qualidade dos produtos. Em um segundo momento, Wagner, que está segurando uma sacola verde, deixa o acessório no chão e continua conversando.
Uma terceira pessoa, um funcionário do açougue de camiseta vermelha, aparece na porta tentando apartar a discussão. O diálogo segue até que Ribeiro sai com Wagner do açougue, com a mão em seu ombro e o leva para a calçada da Avenida Presidente Getúlio Vargas. Ali, continuam conversando, sob o olhar de Monteiro, que está na porta do Shopping das Carnes, até que este também vai a calçada e a briga começa, com empurrões.
Ribeiro dá o primeiro soco e, no segundo, Wagner se desequilibra e cai de costas na calçada, batendo a cabeça. Monteiro tenta chutar a cabeça do vendedor, mas também se desequilibra e dá um pisão na cabeça de Wagner, já caído. Outras pessoas saem do açougue e tentam socorrer a vítima. Ouvindo funcionários e clientes do açougue, a investigação tenta reconstituir como foi a discussão que antecedeu as agressões:
— Parece que foi algo tão banal que ninguém memorizou o que o Wagner disse. Ele reclamou de algo, mas foi algo tão bobo no momento que os outros funcionários não gravaram. Não lembram — afirma o delegado.
Para tentar mais detalhes do conteúdo do desentendimento, a polícia vai ouvir mais dois funcionários do Shopping das Carnes. Ribeiro e Monteiro foram presos em flagrante na noite de sábado, são investigados por homicídio, e a polícia avalia se cabe responsabilizá-los com a qualificadora de motivo fútil.
Na terça-feira (5), o dono do Shopping das Carnes, que cedeu às imagens à polícia, e a viúva de Wagner foram ouvidos. Conforme o delegado, o relato da esposa não traz nenhum indício de que o vendedor tinha alguma animosidade anterior com o açougue. Wagner morava no bairro Bela Vista, em Alvorada, a cinco minutos a pé do Shopping das Carnes, aberto há três meses.
Wagner foi dono de uma agropecuária por seis anos na região da parada 46, mas o negócio faliu na pandemia. Também trabalhou como taxista e, por último, vendia salgados feitos pela esposa. Wagner deixa esposa e três filhos, uma jovem 21 anos e dois meninos, de quatro anos e de dois meses.
A família de Wagner está organizando uma passeata para o próximo sábado (9) para pedir justiça pela morte do vendedor. A caminhada partirá da frente da prefeitura de Alvorada, às 10h, e irá se deslocar até o Shopping das Carnes.
Contrapontos
O que diz Luciano Monteiro
O advogado Gilson D'Ávila Machado afirma que em nenhum momento houve intenção de matar a vítima. "Foi uma briga, uma discussão que não se sabe o real motivo. Meu cliente estava embriagado. É notório, não tem como dizer que não. O andar dele na gravação demonstra isso. Ele nem sabe dizer porque se deu essa discussão." A defesa confirma que ele não estava trabalhando e não estava uniformizado e afirma que, por ele estar bêbado, perguntou ao Wagner porque ele saiu do açougue sem comprar nada. "Ele não se lembra nem porque começou a discutir. O que aconteceu foi uma fatalidade e ninguém espera que um soco vai matar uma pessoa. Em nenhum momento existe a vontade de matar. Foi discussão e briga que, infelizmente, levou ao óbito do Wagner. E sentimos muito por isso", afirma Machado.
O que diz Luciano Ribeiro
O advogado Eduardo Andreis se manifestou por meio de nota:
"Primeiramente, lamentamos profundamente o resultado fatal vitimando o Sr. Wagner, o que nunca foi desejado em nenhuma hipótese. Lamentamos sobretudo pela família deste trabalhador. Tratou-se de uma fatalidade derivada de uma discussão, cujo desfecho foi um acidente fatal. Nunca imaginou que de um soco pudesse resultar o falecimento de outro ser humano. Ao ver a gravidade, Luciano tentou acudir Wagner, inclusive sendo agredido pelas testemunhas a socos e pontapés. Ficou para prestar seus esclarecimentos às autoridades policiais e judiciárias, sem fugir de sua responsabilidade culposa. Deseja o esclarecimento total e a realização da Justiça."
Shopping das Carnes
"Nós, do Shopping das Carnes, lamentamos profundamente a morte de Wagner de Oliveira Lovato, confirmada ontem, dia 3 de outubro. Estamos adotando todas as medidas possíveis para auxiliar as autoridades na apuração das responsabilidades neste ato criminoso em frente ao estabelecimento em Alvorada. O funcionário envolvido neste episódio inaceitável, que não estava em atividade de trabalho no momento do crime, foi afastado pela empresa e está sob custódia da polícia.
Desde o ocorrido, estamos buscando contato com a família da vítima para dar o suporte necessário. Compreendemos o momento de dor e de reserva e respeitamos o tempo dos familiares. Estamos à disposição para que esse diálogo aconteça. Em respeito a Wagner de Oliveira Lovato e a sua família, a loja foi nesta segunda-feira (04/10).
O Shopping das Carnes abriu as portas há apenas três meses e emprega 32 funcionários instruídos a atender com respeito e atenção ao cliente. Estamos profundamente consternados com este episódio inexplicável. Não toleramos, nem admitimos, nenhum tipo de violência."