Imagens que mostram o vendedor ambulante Wagner de Oliveira Lovato, 40 anos, levando socos e pontapés na noite do último sábado (2) em uma casa de carnes em Alvorada, na Região Metropolitana, estão sendo analisadas pela Polícia Civil. Em seguida, o proprietário do Shopping das Carnes será ouvido pelo delegado Edimar Machado. O dono não estava no estabelecimento no momento do crime. Testemunhas ouvidas pela Delegacia Homicídios de Alvorada contam que Wagner já estava no chão, desacordado, e seguia recebendo agressões na cabeça.
O crime aconteceu por volta das 20h de sábado e a morte do vendedor foi confirmada na noite de domingo (3). Lovato foi ao estabelecimento após encerrar o dia de trabalho. Ao sair, passou a ser agredido pelo gerente e por um amigo dele. Ambos foram presos em flagrante no sábado.
Segundo o Shopping das Carnes, o funcionário não estava trabalhando no sábado e foi afastado da empresa. A investigação tenta entender o motivo pelo qual Wagner foi agredido até desfalecer. O vendedor era conhecido na área da parada 46 da Avenida Getúlio Vargas, onde vendia salgados e pães, e morava em uma rua que faz esquina com a avenida.
Por seis anos, foi dono de uma agropecuária no mesmo endereço, que faliu durante a pandemia, e chegou a trabalhar como taxista, também nesta região. Já o Shopping das Carnes foi inaugurado há três meses. A diretora do Departamento de Homicídios, Vanessa Pitrez, afirma que os depoimentos das testemunhas não revelam o teor da discussão.
— Por enquanto não se sabe se havia um histórico de desentendimentos. As pessoas contam que ouviram a discussão mas não conseguiram identificar o que era, nem sabem se existia alguma animosidade anterior.
GZH teve acesso ao relato de quatro pessoas ouvidas pela Polícia Civil, todas elas confirmam a mesma dinâmica de fatos. Uma das testemunhas, que estava no açougue com um amigo no mesmo momento que Wagner, disse em depoimento que o vendedor estava olhando o balcão e que saiu em direção à porta, quando foi abordado pelo gerente, que também se diz responsável pela segurança do local. De acordo com o relato dessa pessoa, os dois começaram a conversar até que o gerente passou a ficar agressivo e ameaçou Wagner de agressão, com gestos. Na sequência, um segundo homem, que afirma ser amigo do gerente, saiu de dentro do açougue e foi até a porta em direção ao vendedor. Na versão da testemunha, este homem colocou a mão por cima do ombro de Wagner, o retirou do açougue e o conduziu para calçada.
Na calçada, iniciou-se a discussão e a testemunha viu Wagner andar para trás "como se estivesse tentando evitar uma agressão por parte do outro". O amigo do gerente deu um soco no vendedor, que caiu no chão inconsciente. Conforme o relato, "o homem de camiseta listrada começou a pisar na cabeça da vítima. Logo em seguida, surgiu o segurança/gerente e foi direto desferindo chute na cabeça do Wagner."
A testemunha conta que foi até o gerente para tentar segurá-lo, mas relata que ele "estava agressivo e tentou agredir outras pessoas ao redor." O amigo desta testemunha diz que foi até Wagner e tentou protegê-lo com o corpo para evitar mais agressões, pois o vendedor já estava desacordado. Pessoas próximas chegaram ao local para tentar conter a agressão até a Brigada Militar chegar e prender o gerente e o amigo em flagrante.
Uma outra testemunha conta que estava chegando de carro quando viu Wagner tombando já no primeiro soco. Segundo seu relato, o vendedor estava em agonia, inconsciente e perdendo muito sangue. "A vítima no momento da agressão não tentou revidar e a princípio não teve tempo para reagir porque caiu imediatamente no chão", disse à polícia.
Quando a BM chegou ao local, encontrou um dos homens que agrediu Wagner com a mão sangrando. O gerente foi localizado pelos policiais dentro do açougue "visivelmente embriagado e extremamente alterado em suas ações", segundo o relato de um dos soldados em depoimento.
Wagner foi socorrido pelo Samu e levado até o hospital de Alvorada. Devido a gravidade do quatro, uma hora depois, foi transferido para o Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre. A morte cerebral foi confirma no domingo, às 20h.
Contraponto do Shopping das Carnes
"Nós, do Shopping das Carnes, lamentamos profundamente a morte de Wagner de Oliveira Lovato, confirmada ontem, dia 3 de outubro. Estamos adotando todas as medidas possíveis para auxiliar as autoridades na apuração das responsabilidades neste ato criminoso em frente ao estabelecimento em Alvorada. O funcionário envolvido neste episódio inaceitável, que não estava em atividade de trabalho no momento do crime, foi afastado pela empresa e está sob custódia da polícia.
Desde o ocorrido, estamos buscando contato com a família da vítima para dar o suporte necessário. Compreendemos o momento de dor e de reserva e respeitamos o tempo dos familiares. Estamos à disposição para que esse diálogo aconteça. Em respeito a Wagner de Oliveira Lovato e a sua família, a loja estará fechada nesta segunda-feira (04/10).
O Shopping das Carnes abriu as portas há apenas três meses e emprega 32 funcionários instruídos a atender com respeito e atenção ao cliente. Estamos profundamente consternados com este episódio inexplicável. Não toleramos, nem admitimos, nenhum tipo de violência."