O comércio clandestino de cigarros sofreu um duro golpe nesta terça-feira (19). Operação conjunta da Polícia Federal (PF) e Receita Federal resultou na apreensão de 20 mil caixas com 10 milhões de maços. Foram cumpridos 96 mandados do prisão e de busca e apreensão em 20 municípios do Rio Grande do Sul, quatro de São Paulo e um do Paraná. Segundo as corporações, é a maior apreensão desse tipo de produto da história no RS e uma das maiores do Brasil. O esquema abastecia, além do RS, outros Estados brasileiros e o Uruguai. O grupo seria responsável pela circulação de 50% de todo o cigarro ilegal em território gaúcho.
O superintendente da PF no Rio Grande do Sul, delegado Aldronei Pacheco Rodrigues, disse que além do contrabando de cigarros do Paraguai, a organização criminosa fabricava o produto no Estado.
— É uma operação que desarticula uma importante organização criminosa que se dedicava à fabricação ilegal de cigarros, à comercialização desses cigarros, além de crimes adjacentes — avaliou o superintendente em entrevista coletiva na sede da instituição, em Porto Alegre.
Também foram expedidos mandados para bloqueio de 13 imóveis e valores em contas vinculadas a 23 pessoas físicas e jurídicas, até o valor de R$ 600 milhões, e apreensão de 56 veículos, alguns deles levados para a sede da PF. Até o momento, 24 pessoas foram presas. Grandes quantidades de dinheiro em malas foram apreendidas.
Conforme Aldronei, os criminosos utilizavam máquinas descartadas pela indústria legalizada de cigarros para fabricação do produto clandestino.
— São máquinas descartadas, que não são destruídas e que acabam nas mãos de organizações criminosas. Isso é frequente, temos apreensões no Brasil inteiro. Se houvesse a cautela necessária para o descarte desses equipamentos, esse seria um crime impossível no Brasil — acrescentou o delegado.
A importância da operação no cenário nacional fez com que estivesse presente no Rio Grande do Sul o coordenador-geral de Polícia Fazendária da Polícia Federal. O delegado Cléo Matusiak Mazzotti disse que esse tipo de esquema acaba provocando uma série de outros crimes:
— Não é apenas contrabando e descaminho de cigarros, mas são crimes ambientais, possível trabalho escravo, crime de uso de menores, é obtenção de lucro para participação em outras modalidades criminosas — destacou Mazzotti, ao ressaltar que o combate ao contrabando e descaminho de cigarros está entre as prioridades da Polícia Federal.
— Essa operação é um marco para nossa coordenação e para a Polícia Federal, exatamente porque desarticula uma organização criminosa de alto poder organizacional que fabricava cigarros e praticava diversos outros delitos - complementou.
Superintendente da Receita Federal no Rio Grande do sul, Luiz Bernardi ressaltou o modelo cooperativo entre as instituições para combater esse tipo de crime.
— Esse tipo de negócio ilícito causa um dano à empresa brasileira, à indústria nacional e um dano à Fazenda Pública — disse Bernardi.
Conforme o delegado Wilson Klippel Cicognani, responsável pela investigação, as primeiras informações apuradas davam conta do crime de contrabando de cigarros. Posteriormente, se verificou que a organização criminosa também fabricava o produto. Segundo o delegado, foi verificado que havia trabalhadores paraguaios que eram usados no esquema clandestino, além de corrupção de menores. Um dos principais membros da organização era um adolescente de 17 anos.
— Eles operavam em ciclos, o que dificultava a atuação repressiva do Estado. Quando um ciclo se inicia, esses trabalhadores são recebidos pelos membros dessa organização, são levados ao local de fabricação e lá permanecem até o fim desse ciclo — explicou o delegado, ao dizer que os ciclos de operação duravam entre seis e oito meses.
O delegado conta que todo o dejeto oriundo da fabricação do cigarro clandestino era lançado no meio ambiente. Também está sendo investigada a lavagem de dinheiro pelos criminosos.
— Os ativos estão sendo buscados para que a organização seja descapitalizada — acrescentou Klippel.
Chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita Federal no Rio Grande do Sul, Francisco Velter disse que essas 20 mil caixas de cigarros apreendidas representam em valor de mercado R$ 50 milhões, sendo que somente em tributos federais gerariam R$ 30 milhões.
— Essas fábricas operavam e circulavam esses produtos diariamente. O cigarro é de alta rotatividade. Já faz um ano que estamos nessa ação, fazendo apreensões esporádicas para chegar a essa operação — explicou.
Velter reforçou o que disse o superintendente da PF sobre as máquinas usadas pelos criminosos para fabricação, sugerindo que esses equipamentos sejam destruídos para não acabarem nas mãos de quadrilhas.
A Operação Tavares teve esse nome porque foi descoberto inicialmente um depósito de cigarros que ficava na Estrada dos Tavares, em Cachoeirinha. Participaram 250 policiais federais e 60 servidores da Receita Federal. Também teve o apoio da Brigada Militar e o acompanhamento do Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho e do Ministério do Trabalho e Previdência Social.