Completados 15 dias da morte do policial rodoviário aposentado Fábio Cesar Zortea, 59 anos, durante uma abordagem da Brigada Militar (BM) em Torres, no Litoral Norte, a Polícia Civil avança no inquérito com depoimentos e coleta de imagens de câmeras que possam montar todo o quebra-cabeça da ocorrência da madrugada de 23 de agosto. Um dos principais objetivos da investigação é entender como a abordagem envolvendo os filhos da vítima, Fábio e Luca Zortea, se iniciou, se houve perseguição e de onde partiram as primeiras atitudes violentas.
A polícia segue recebendo vídeos de câmeras de estabelecimentos privados e aguarda outros, de órgãos públicos, que possam ter registrado o começo da abordagem. O delegado Juliano Aguiar também espera por duas perícias nas armas — solicitadas ao Instituto-Geral de Perícias em 28 e 30 de agosto — e outra perícia confronto papiloscópico em uma lata de vodca. O prazo habitual para conclusão dos laudos é de 30 dias, mas, caso a análise seja classificada como urgente, pode sair antes.
Quinze pessoas já foram ouvidas no inquérito. Os depoimentos dos cinco PMs investigados devem ser marcados ainda nesta semana — dois deles têm suas condutas apuradas por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Não há previsão para conclusão do inquérito, mas o delegado espera que seja "o mais célere possível". Dentro do inquérito, os filhos de Zortea, Fábio e Luca, também são considerados investigados.
A abordagem
A abordagem ocorreu no começo da madrugada de 23 de agosto, quando Luca e Fábio estavam a bordo de um Gol branco que foi seguido por uma viatura da BM. Por volta das 2h, o carro parou em frente ao prédio da família, na área central do município do Litoral Norte, e a viatura estacionou atrás. Com arma em punho, os policiais anunciaram a abordagem e começou uma discussão com os irmãos. O pai, Fábio Zortea, a mãe e a irmã ouviram os gritos do apartamento e desceram até a calçada para ver o que estava acontecendo. Na confusão, o pai, que tentou interceder pela defesa dos filhos, acabou baleado no abdômen por um dos policiais e morreu no local. O filho Fábio foi ferido com um tiro na perna. Parte da briga foi filmada por vizinhos, que viraram testemunhas no inquérito.
Os policiais envolvidos na ocorrência estão afastados da BM e entregaram suas armas. Até o momento, a Polícia Civil não revela se representou pela prisão dos policiais e evita falar se irá protocolar este pedido no Judiciário.
O que diz a defesa dos PMs
O advogado Maurício Custódio, que faz a defesa do PM que atirou em Zortea, afirma que seu cliente aguarda em casa para ser chamado a depor e que considera um erro eventual pedido de prisão:
— Ele não oferece nenhum risco de perturbação de prova, ele não gera nenhum risco à ordem pública. Se isso acontecer, será uma decepção jurídica e um pedido pirotécnico, contrariamente ao que é pregado à prisão preventiva, última medida que se adota para preservar integralidade da investigação.
À frente da defesa do segundo PM que aparece nas imagens, José Paulo Schneider afirma que seu cliente não disparou, foi agredido e depois agrediu com um bastão. Segundo ele, a abordagem iniciou de forma normal e se desequilibrou com a reação dos irmãos Zortea. O policial também aguarda em casa ser chamado pela polícia.
— Não houve destruição de provas, meu cliente não disparou e está respondendo por todos os seus atos. Não está interferindo na investigação e não há razão para ser preso. A prisão não traria tranquilidade ao processo — argumentou o advogado.
O que diz o advogado da família
O advogado da família Zortea Ivan Brocca afirma que está sendo feito um abaixo-assinado pedindo a prisão preventiva dos policiais. A reivindicação será protocolada junto à 1ª Vara Criminal de Torres.
— Seguimos mobilizados, no domingo que passou ocorreu nova manifestação por justiça, pois o Zortea não volta mais — disse Brocca.
Paralelamente à investigação da Polícia Civil, a BM abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta dos cinco policiais envolvidos na ocorrência. A apuração é conduzida por um oficial do Litoral Norte e tem prazo de 40 dias a partir da data do crime, podendo ser prorrogado por mais 20. A corporação não adianta detalhes da investigação.