— Procura!
Basta uma palavra do bombeiro Juliano Sodré ao pastor alemão Odin, um dos cães farejadores da Companhia Estadual de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros, para que o animal dispare em busca de vestígios.
Com faro aguçado e treinamento rigoroso, o cão de um ano e cinco meses reforçou nesta sexta-feira (6) as buscas pelo menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, em Imbé, no Litoral Norte. A operação chega ao nono dia de procura pelo garoto, após a mãe confessar ter arremessado o corpo dele no Rio Tramandaí.
Depois de dias de buscas nas águas nos últimos dias e na orla, a atuação dos cães foi direcionada para a terra. Com intuito de entender se o cadáver da criança pode ter sido depositado em outro local, os bombeiros decidiram colocar em ação a equipe que consegue encontrar mesmo o que não está visível aos olhos. Dois bombeiros, com dois cães – cada dupla é chamada de binômio – foram encaminhados para o litoral. Odin, um cão certificado pelos bombeiros e especializado em buscar pessoas mortas, acabou empregado no terreno.
Logo no início da manhã, foi o animal quem ingressou no apartamento onde o menino vivia com a mãe e a madrasta na área central de Imbé, em uma pousada. Assim que entrou no imóvel, o cão ficou inquieto, buscando por algo, sem parar. Sodré explica que esse comportamento indica que ali pode ter permanecido uma pessoa morta. Como não consegue localizá-la, o cão não para de procurar.
É neste local que Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26 anos, afirma ter espancado o filho Miguel. Depois disso, diz ter dopado o garoto com medicamentos, colocado dentro de uma mala e arremessado no rio. A madrasta Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23, afirma que o menino já estava morto quando foi colocado na mala – ela nega ter participado do crime. O comportamento de Odin reforça a hipótese de que o menino tenha morrido ainda no local.
— Quando ele chega num ambiente nulo de odor, entra, dispersa, volta em mim e senta na minha volta. Quando entra num ambiente onde houve um corpo, que liberou odores ali, o cão demonstra que está sentindo cheiro de algo. Ele entende que ali esteve algo e fica procurando, procurando, e não para. Essa é a mudança comportamental — detalha o soldado Sodré.
Após deixarem a pousada, os bombeiros seguiram com os cães pelas ruas próximas do imóvel. A intenção era descobrir se o corpo do menino não poderia ter sido abandonado em outro local, já que as buscas pela água até o momento não surtiram efeito. Em um trapiche, na beira da Lagoa do Armazém, Odin recebeu novo comando para procurar. O cão circulou pelo local, mas não indicou a presença de nada suspeito.
— Ele busca aquilo que eu quero, de acordo com meu comando. Se quero que busque um corpo é uma, se quero que encontre uma pessoa viva são comandos diferentes — afirma Sodré sobre o cachorro, que começou a ser treinado com 45 dias de vida.
Na sequência, os bombeiros ingressaram em uma área que pertence ao Centro de Estudos Costeiros Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), da UFRGS. Embora o acesso ao terreno seja cercado, havia uma abertura em um dos pontos da tela. Por ali, as equipes ingressaram novamente com o cão, para que ele vasculhasse uma área de mato. Odin percorreu o terreno, ingressou em um prédio vazio, passou por uma clareira, mas não apontou nada.
O passo seguinte foi ir até a área na Barra de Imbé, onde a mãe afirma ter arremessado o corpo do filho, onde o cão percorreu o entorno do rio. Logo depois, decidiram ir até um terreno baldio que já havia sido verificado pelos bombeiros na última quarta-feira, quando eles refizeram o trajeto que Yasmin diz ter seguido transportando o corpo do menino. Ali, novamente Odin se mostrou diferente. Assim que recebeu o comando para procurar, disparou até um dos cantos da área e começou a cavar.
Neste local, a ação do cão despertou a curiosidade dos moradores, que começaram a acompanhar das esquinas o trabalho dos bombeiros.
— Será que está aqui tão perto da gente? — conjecturava uma das moradoras, enquanto os bombeiros pediam o apoio de maquinário para vasculhar o terreno.
Uma retroescavadeira foi levada até o local e revirou o terreno. Logo depois, Odin, que aguardava dentro da viatura, voltou a fazer a buscas na área e encontrou uma camiseta de adulto. O cão é treinado para diferenciar e descartar odores relacionados a restos de animais, por exemplo.
— Tudo que envolve material genético humano ele fareja — explica o soldado Sodré.
Como o terreno vem passando por limpeza e parte do material removido dali nos últimos dias havia sido levado para um aterro sanitário, a equipe decidiu ampliar as buscas até o local. Em uma área afastada da cidade, mais uma vez deixaram que Odin fizesse a procura no terreno. Mas, desta vez, o animal não indicou nenhum vestígio.
— Todas as possibilidades de locais mapeados onde ela poderia ter depositado esse corpo estão sendo averiguados. Não descartamos nenhuma hipótese — explica o tenente Elísio Lucrécio, comandante dos bombeiros de Tramandaí.
Além da procura com os cães, os bombeiros seguem em varredura pela orla, num trecho de cerca de 90 quilômetros entre Tramandaí e Torres. Um drone também é utilizado para ampliar a busca nessas áreas. Quatorze militares são empregados na operação, que não tem prazo para ser encerrada.
Contrapontos
O que diz a defesa de Yasmin
Uma nova equipe assumiu a defesa de Yasmin nessa quarta-feira (4). O advogado Jean Severo, que passa a atuar no caso, afirma que nesta sexta-feira esteve em contato com a cliente e que ela nega ter cometido o crime.
— Ela se declara inocente. Que ela foi coagida na delegacia a falar aquilo. Ela não vai participar de nenhuma simulação do caso (reprodução simulada dos fatos) e de nenhum outro interrogatório. Ela só vai falar o que realmente aconteceu na frente do magistrado.
O que diz a defesa de Bruna
As advogadas Josiane Silvano, Fernanda Ferreira da Silva e Helena Von Wurmb, que representam Bruna, enviaram uma nota para GZH onde afirmam que a cliente sofria violência física e psicológica. Sobre o vídeo, no qual Bruna aparece ameaçando o menino, as advogadas emitiram outra nota, onde também afirmam que ela era manipulada e coagida.
Confira na íntegra:
“Estivemos em contato com a Bruna na data de ontem (04/08) no Instituto Psiquiátrico Forense e apenas confirmamos aquilo que já havíamos constatado analisando o Inquérito Policial, ou seja, as informações trazidas a público estão sendo veiculadas de maneira distorcida. Bruna sofria violência física e psicológica constantemente desde o início de seu relacionamento com Yasmin, não tendo participação nos maus tratos e homicídio do menino Miguel, sendo que é uma das pessoas mais abaladas emocionalmente pela sua morte. Isso irá ser comprovado no transcurso do processo, bem como as condições de sua saúde mental.”
Nota sobre o vídeo:
“Como já referimos a Bruna era constantemente manipulada e coagida por Yasmin, que tinha conhecimento que Bruna é portadora de problemas psiquiátricos. A Bruna foi usada como uma tentativa de obrigar a avó do menino a buscá-lo uma vez que a mãe não queria mais ficar com ele, portanto foi gravado exclusivamente com esse intuito, tanto que no Inquérito Yasmin isenta Bruna de qualquer ato contra o menino Miguel.”