Apesar da operação dos bombeiros em busca do menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, a Polícia Civil entende que já possui provas suficientes para indicar a mãe e a madrasta do garoto por homicídio. A localização do corpo, para o delegado Antônio Carlos Ractz Júnior, não é necessária para a responsabilização.
— Não seria a primeira vez que a não localização de um corpo, um cadáver em si, pode ensejar a responsabilização do crime de homicídio. Teríamos provas, que não o cadáver, para demonstrar que a criança foi morta. Temos, inclusive, casos conhecidos na mídia —afirmou o delegado.
A principal prova que a polícia possui é a própria confissão das duas mulheres presas — a mãe, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26, e a companheira, Bruna Porto da Rosa, 23.
— As duas admitem, na presença de advogados, que atiraram a criança nas águas do rio Tramandaí, o que teria sido feito pela mãe. E que ele teria morrido em razão de toda aquela conduta que vinha aplicando a ele, ou seja, o menino era mantido sem comida e foi, nos últimos dias, muito agredido, o que resultou em sua morte — complementou o policial, em entrevista a GZH.
Ainda assim, a polícia segue na expectativa do encontro do corpo, o que é importante para esclarecer outros pontos do crime. Além das buscas na água, bombeiros, orientados pela investigação, também fazem buscas em terrenos baldios e outros locais próximos da casa onde o garoto morava, em Imbé.
A partir desta sexta-feira (6), os bombeiros usarão cães farejadores para fazer as buscas ao menino. Dois binômios — cães e humanos — atuarão nas proximidades da casa onde o garoto morava. Os cães são da raça pastor alemão e boiadeiro australiano.
—Eles são cães treinados para cadáver e encontrar pessoas vivas — afirma o comandante do canil da Companhia Estadual de Busca e Salvamento (CEBS), tenente Fernando Dutra.
Situação da investigação
A investigação aguarda, agora, o retorno de laudos periciais após a análise da casa onde o garoto residia e de uma outra, em que a família morou anteriormente. A análise inicial, segundo o delegado, comprova a suspeita da polícia:
— Confirmamos que nos locais que o Miguel era mantido em cárcere privado, trancado, dentro do roupeiro e de um outro cômodo.
A polícia também solicitou a reprodução simulada dos fatos, conhecida como reconstituição do crime, para o Instituto-Geral de Perícias. O órgão ainda não informou uma data para a realização do procedimento.
Além disso, na noite de quarta-feira (4), a investigação recebeu a extração dos dados dos dois celulares apreendidos com as mulheres presas. Os arquivos foram retirados pelo Gabinete de Inteligência e Estratégia (GIE) da Polícia Civil. Devido a quantidade de arquivos, o Ministério Público auxilia na análise do conteúdo.
Ainda são colhidos depoimentos de vizinhos de Miguel e outras pessoas que moravam próximo, com o objetivo de traçar o perfil de como a criança era tratada. As buscas ao menino Miguel chegam ao oitavo dia nesta quinta-feira (5).
Transferidas
Bruna Nathiele Porto da Rosa, madrasta de Miguel, foi transferida na quarta-feira (4) para o Instituto Psiquiátrico Forense, em Porto Alegre, que recebe criminosos com doenças mentais que cumprem medida de segurança. Ainda é feita uma análise por um psiquiatra para saber se ela pode responder pelos seus atos, tendo em vista alegada doença mental.
Já a mãe da criança, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, está recolhida na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana. Inicialmente, ela havia sido mandada para o presídio em Torres, mas também foi transferida.
Contrapontos
Uma nova equipe assumiu a defesa de Yasmin nessa quarta-feira (4). O advogado Jean Severo, que passa a atuar no caso, informou que só irá se manifestar após analisar o inquérito.
— Tem algumas informações que foram dadas da acusada para defesa que não estão batendo. Então a gente vai analisar muita coisa — disse.
As advogadas Josiane Silvano, Fernanda Ferreira da Silva e Helena Von Wurmb, que representam Bruna, enviaram uma nota para GZH. Confira na íntegra:
Estivemos em contato com a Bruna na data de ontem (04/08) no Instituto Psiquiátrico Forense e apenas confirmamos aquilo que já havíamos constatado analisando o Inquérito Policial, ou seja, as informações trazidas a público estão sendo veiculadas de maneira distorcida. Bruna sofria violência física e psicológica constantemente desde o início de seu relacionamento com Yasmin, não tendo participação nos maus tratos e homicídio do menino Miguel, sendo que é uma das pessoas mais abaladas emocionalmente pela sua morte. Isso irá ser comprovado no transcurso do processo, bem como as condições de sua saúde mental.