Policiais gaúchos estão usando cada vez mais a tecnologia para chegar a carregamentos de drogas. O trabalho conjunto das polícias Rodoviária Federal (PRF), Federal (PF), Civil (PC) e Brigada Militar (BM) também tem sido fundamental para a realização de grandes apreensões. Os mecanismos não serão divulgados aqui para não comprometer futuras ações. Foi por meio da inteligência, por exemplo, que a PRF conseguiu interceptar na última sexta-feira (2) uma carga de 3,6 toneladas de maconha que estava escondida em fundo falso de um caminhão usado para transportar porcos na BR-116, em São Leopoldo.
— Os policiais tinham informações do serviço de inteligência de que esse caminhão poderia esta transportando ilícitos e chegando na Região Metropolitana — relata Felipe Barth, chefe da comunicação social da PRF no Rio Grande do Sul.
Quando o motorista do caminhão viu as viaturas da PRF, decidiu estacionar num posto de combustível às margens da rodovia e tentar se esconder. Mas era tarde demais. Os policiais fizeram a abordagem e então decidiram revistar o caminhão. O cheiro forte de fezes de porcos era uma tentativa de disfarçar o cheiro da droga escondida.
— Inicialmente, ele alegava que recém havia feito uma entrega de porcos e que estava voltando para o Paraná, onde mora. A gente decidiu usar os nossos cães farejadores, que indicaram possíveis locais onde poderia haver droga na carroceria — conta Barth.
Pela indicação dos animais, a droga estava escondida em fundo falso, o que acabou se confirmando. Eram três andares para transporte de animais e nos três havia droga no piso com fundo falso.
— Conseguimos usar um pé-de-cabra e vimos que tinha alguma coisa. Foi então que os policiais passaram a serra no metal e acharam a droga — descreve o agente.
A maconha estava em grandes pacotes, de cerca de 20 quilos, cada um deles com vários tabletes de um quilo. Quando a droga foi encontrada, o motorista disse que tinha sido pago para fazer o transporte. E que seria escoltado até um depósito para descarregar o entorpecente. O veículo estava em nome dele e o preso não tinha passagem pela polícia. O caso foi encaminhado para a PF porque a PRF entendeu que se tratava de tráfico entre os Estados, o que define a competência federal.
Os números da PRF indicam aumento no número de apreensões e no volume de drogas durante a pandemia. No caso da cocaína, o aumento entre 2019 (ano pré-pandemia) e 2020 (primeiro ano da pandemia) foi de 149,6%. Considerando-se maconha, 99,16%.
Cocaína (em quilos)
2019: 916,454
2020: 2.287,669
2021 (até 4/7): 545,858
Maconha (em quilos)
2019: 14.149,549
2020: 28.180,499
2021 (até 4/7): 18.949,413
Ecstasy (em unidades)
2019: 608
2020: 246
2021: 1.151
Crack (em quilos)
2019: 379,848
2020: 308,856
2021: 133,702
Em relação à apreensão de 3,6 toneladas de maconha na última sexta-feira, a PF informa que instaurou inquérito para aprofundar as investigações. Conforme o delegado Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF no Rio Grande do Sul, Daniel Mostardeiro Cola, toda a apreensão é importante, pois reduz a oferta ao usuário e os danos sociais causados pelo uso de drogas.
É necessário avançar nas investigações para identificar as lideranças das organizações criminosas que estão por trás desses carregamentos
DANIEL MOSTARDEIRO COLA
Delegado Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF no RS
— Porém, é necessário avançar nas investigações para identificar as lideranças das organizações criminosas que estão por trás desses carregamentos e buscar a descapitalização dos grupos através da apreensão de bens, valores e a desestruturação de toda a logística do tráfico. Essa tem sido a estratégia da Polícia Federal no enfrentamento ao narcotráfico, além da integração com todas as forças policiais — destaca o delegado.
Diretor da Divisão de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil, o delegado Carlos Wendt também reforça que o uso das tecnologias pelas instituições têm ajudado cada vez mais a chegar nos traficantes e em suas cargas.
— As apreensões vêm aumentando. Por parte do Denarc, tivemos apreensões históricas de drogas sintéticas, por exemplo. Isso ocorre muito em razão da troca de informações entre as instituições — relata.
O monitoramento dos movimentos das grandes facções criminosas é constante, segundo o delegado. Com isso, é possível saber os principais destinos das drogas e suas rotas para transporte.
As facções agora estão fazendo uma espécie de consórcio
DELEGADO CARLOS WENDT
Diretor da Divisão de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil
— As facções agora estão fazendo uma espécie de consórcio. As grandes lideranças se unem, compram drogas em maior quantidade e estabelecem a logística para distribuição. Por isso, vocês veem cada vez mais grandes apreensões — conta Wendt.
Tão importante quanto as apreensões, está a prisão dos chamados “barões das drogas” e não apenas das “mulas”, como são chamadas as pessoas que fazem o transporte. Assim como na PF, outro trabalho que vem sendo intensificado pelo Denarc, segundo o delegado, é a retirada de capital das quadrilhas.
— Nós estamos intensificando as investigações sobre a lavagem de dinheiro feita pelo tráfico. A aquisição de patrimônio sem origem, por exemplo. É preciso responsabilizar as lideranças e retirar esse patrimônio delas — ressalta o delegado.
Pela BM, o coronel Cláudio dos Santos Feoli, subcomandante-geral da corporação, diz que além da união entre as polícias, a parceria com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) tem ajudado para se chegar aos traficantes.
Temos informações importantes do meio prisional para que possamos montar operações
CORONEL CLÁUDIO DOS SANTOS FEOLI
Subcomandante-geral da BM
— Essa comunhão de esforços é fundamental. Pela Susepe, temos informações importantes do meio prisional para que possamos montar operações — observa o coronel.
Feoli lembra que por meio do programa RS Seguro, do governo do Estado, que une órgãos de segurança, é possível mapear os locais de maior incidência de crimes e, com isso, realizar intervenções mais assertivas.