Duas pessoas foram sentenciadas nesta quarta-feira (21) pelo crime de extorsão mediante sequestro no caso que envolveu a médica Tamires Regina Gemelli da Silva Mignoni, ocorrido em outubro de 2020 em Erechim, no norte do Estado. Wilson Roberto Kintof, considerado o mentor da ação, foi condenado a 17 anos de reclusão, enquanto a pena de Cirene dos Santos Moraes ficou em 15 anos. Ambos em regime fechado, inicialmente. O juiz da 1ª Vara Criminal da Comarca de Erechim, Marcos Luís Agostini negou um pedido de liberdade dos réus, presos desde o início das investigações.
Tamires foi sequestrada às 11h30min de 16 de outubro, na saída da unidade de saúde onde trabalhava, em Erechim. Após ser abordada por um casal, a médica foi vendada, amarrada e transportada, inclusive em porta-malas de veículos. Passou por dois cativeiros. O primeiro em Itá, Santa Catarina, e o segundo em Cantagalo, no Paraná, a 400 quilômetros da cidade gaúcha. O último era um cubículo, num corredor de dois metros quadrados, cercado de cinco portas trancadas. A polícia localizou o cativeiro, e o resgate ocorreu cerca de 130 horas após o sequestro.
_ Pode-se concluir com segurança que os réus sequestraram a vítima, mantendo-a em cativeiro pelo período de seis dias, com a finalidade de obter, para si ou para outrem, vantagem econômica consistente em R$ 2 milhões, a título de condição ou preço do resgate _ afirmou o magistrado Agostini na sentença.
Wilson Kintof foi apontado pelo juiz como idealizador do crime, executor e responsável por realizar as ligações telefônicas para extorquir a quantia do pai da vítima. Ainda segundo o magistrado, Cirene Moraes ajudou o parceiro observando a vítima e limpando o primeiro cativeiro em Santa Catarina para tentar eliminar provas, por exemplo. O magistrado negou a alegação da defesa de que Cirene não soubesse da extorsão.
Contraponto
O advogado de ambos os réus, Éverton da Silva, afirma que vai recorrer da decisão. Em nota, diz que o processo está "maculado pela espetacularização do caso pelos agentes públicos, e que isso pesou no julgamento e, principalmente, na pena aplicada aos constituintes".
Confira a nota da defesa na íntegra:
"Foi realizado ontem (21/7), pela 1ª Vara Criminal de Erechim, o julgamento em Primeira Instância de Wilson Roberto Kintof e Cirene dos Santos Moraes. Recebo com serenidade a decisão provisória que condenou meus constituintes. Sei da pressão que circunda este caso, mas é meu trabalho garantir um julgamento justo. Informo que serão interpostos todos os recursos cabíveis junto ao Tribunal de Justiça Gaúcho, bem como aos Tribunais Superiores.
Afirmo ainda que, no exercício da ampla defesa, apresentei provas da tortura policial sofrida principalmente por Wilson, que foi obrigado, por razões obscuras, a confessar em sede policial. Tanto é que o próprio magistrado de primeiro grau ordenou o envio das referidas provas para apuração de eventual responsabilidade funcional e criminal dos servidores públicos, às Corregedorias de Polícia dos Estados do Rio Grande do Sul e do Paraná, e ao Ministério Público de Erechim.
A defesa está convencida de que o processo está cheio de vícios, maculado pela espetacularização do caso pelos agentes públicos, e que isso pesou no julgamento e, principalmente, na pena aplicada aos constituintes.
Por fim, com a firme convicção de que a justiça se faz nos tribunais, a defesa lutará incansavelmente para que Wilson Roberto Kintof e Cirene dos Santos Moraes aguardem o trânsito em julgado em liberdade."