A Polícia Civil deflagrou uma operação em sete Estados após comprovar que a maior facção que atua no país e que foi criada dentro dos presídios de São Paulo está operando em solo gaúcho. As investigações comprovaram lavagem de dinheiro com venda de drogas que movimentava, por mês, R$ 12 milhões, além disso há indícios de que a organização criminosa estaria tentando se instalar definitivamente no Rio Grande do Sul.
Segundo o titular da Delegacia de Lavagem de Dinheiro do Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc), Adriano Nonnenmacher, o dinheiro obtido com a venda de drogas em pontos de tráfico no RS era transferido para mais de cem contas bancárias — em nome de empresas laranjas de outros Estados.
O esquema passa por operadores logísticos e financeiros que moram no Rio Grande do Sul e atuam com as lideranças da facção de SP que estão em casas prisionais. As principais provas dessa relação e da lavagem de dinheiro foram obtidas através de quebras de sigilo bancário e fiscal, análise de documentos, monitoramento policial e fotos de encontros entre os investigados.
A organização nacional — que, inicialmente, havia se associado com gaúchos para fornecer armas e drogas — é investigada desde 2017 por atuar em conjunto com facção que tem base no Vale do Sinos.
A polícia identificou a relação entre um baiano apontado como um dos principais líderes do grupo criminoso de SP com um apenado no RS, que está detido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Juntos, os dois gerenciam um esquema com 45 pessoas responsáveis pelas finanças e logística envolvendo transações de pelo menos R$ 12 milhões por mês com o tráfico de entorpecentes.
A chamada Operação Irmandade contou com 330 agentes no cumprimento de 72 mandados de busca e cinco de prisão preventiva — dois se referem a suspeitos que já estão no sistema penitenciário. Há ainda mandados de apreensão judicial de veículos e imóveis no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Bahia e Pará. Até 8h, havia quatro suspeitos detidos. As 19 prisões temporárias solicitadas foram indeferidas pela Justiça.
O total de bens confiscados, que ainda depende da análise de investimentos feitos na Bolsa de Valores de São Paulo, em criptomoedas, bem como em imóveis no Vale do Sinos, pode chegar a R$ 3,5 milhões.
O elo
Nonnenmacher ressalta que há dezenas de provas sobre a ligação entre o baiano que está detido no Pará e 36 traficantes do RS. O contato teria sido intermediado por um gaúcho que atualmente está na Pasc.
A polícia acredita que, para garantir remessas de drogas e armas para o grupo gaúcho distribuir, baiano exigiu que os traficantes passassem a realizar depósitos bancários com os valores obtidos em pelo menos 200 pontos de venda no RS. As transações foram feitas para pessoas jurídicas e físicas, todas laranjas, indicadas pelo líder da facção de SP. Nonnenmacher ressalta que tudo era gerenciado por três principais operadores financeiros, a mando do detento da Pasc, e usando uma complexa rede de transações bancárias envolvendo inúmeras pessoas.
Os operadores tinham que garantir a distribuição e logística da droga enviada de fora do Estado pela organização paulista e depois ficavam responsáveis por pagar pelos entorpecentes via depósitos bancários em várias unidades federativas, mas também pela lavagem de dinheiro do lucro obtido pela facção gaúcha. O Denarc não está informando nomes devido à Lei de Abuso de Autoridade.
Com o material apreendido, a polícia quer saber a dimensão deste esquema criminoso, se há mais pessoas envolvidas e também os valores das transações financeiras.
Do total de pessoas físicas e jurídicas investigadas, dois são de Foz do Iguaçu (Paraná), um está no Pará, outro em Porto Seguro (Bahia), e o restante é do Rio Grande do Sul. Há ainda empresas no Paraná e no Mato Grosso do Sul.
Logística
A investigação apontou que, entre 2017 e 2019, dois irmãos de São Leopoldo eram os responsáveis por gerenciar a logística de drogas e valores no esquema entre o baiano, da facção de SP, e o gaúcho detido na Pasc. Recentemente, este papel passou para outro gaúcho, de Canoas, que está em prisão domiciliar em Florianópolis, Santa Catarina.
— Conseguimos comprovar que houve uma movimentação, desde 2019, de R$ 16 milhões nas contas bancárias deste último gerente financeiro, repassando para vários outros investigados e fazendo com que estes realizassem pagamentos à célula nacional. As transações bancárias no nosso Estado e nos outros cinco, além de São Paulo, eram estruturadas em pequenas quantias para burlar fiscalizações — diz Nonnenmacher.
O diretor de Investigações do Denarc, delegado Carlos Wendt, ressalta também que as forças de segurança do Estado apreenderam, desde 2017, cinco toneladas de maconha e duas toneladas de cocaína deste esquema criminoso. Também foi comprovado pelo departamento policial que o grupo traficava fuzis.
385 ordens judiciais
Os cerca de 330 policiais, com apoio de um helicóptero, atuaram, principalmente, no Rio Grande do Sul para cumprir as mais de 252 ordens judiciais, não só nas buscas e prisões, mas também apreensões de bens. Contudo, durante a investigação, desde 2019, o total chega a 385 mandados cumpridos.
Uma das cinco prisões preventivas foi cumprida em presídio federal na região metropolitana de Belém e as outras foram em Charqueadas, na Pasc, bem como em Santa Catarina e Paraná. Em relação às 72 buscas, 42 foram no Rio Grande do Sul. Houve ainda bloqueio das cem contas bancárias, sequestro judicial de 21 veículos e dois imóveis, ativos na Bolsa de Valores paulista e criptomoedas, entre outros mandados.
Cidades onde a operação foi deflagrada
No RS
- Porto Alegre, Canoas, Sapucaia do Sul, Cachoeirinha, Estância Velha, Novo Hamburgo, Guaíba, Encruzilhada do Sul, Montenegro, Charqueadas e Quaraí
Santa Catarina
- Florianópolis
Paraná
- Foz do Iguaçu, Londrina e Colombo
Mato Grosso do Sul
- Ponta Porã e Campo Grande
Bahia
- Porto Seguro
Pará
- Região Metropolitana de Belém do Pará
São Paulo
- Na Capital do Estado