Há meia década se sabe que a principal facção criminosa brasileira, o Primeiro Comando da Capital (PCC), tenta se enraizar no Rio Grande do Sul. O mais completo levantamento a respeito, feito por promotores de Justiça paulistas, mostra que mais de 700 bandidos gaúchos são afiliados à facção, que nasceu em São Paulo no anos 1990 (em reação ao massacre do Carandiru) e se espalhou pelos principais Estados brasileiros.
Só que os gaúchos já contam com pelo menos seis facções criminosas, três delas na Região Metropolitana. O PCC nunca encontrou espaço para se implantar territorialmente. Resolveu isso montando uma “joint-venture” com alguns integrantes da principal facção gaúcha, Os Manos, cuja origem é o Vale do Sinos.
A forma de atuação das duas, empresarial, e os lemas (Paz, Justiça e Liberdade), são similares. Isso propicia que, quando algum gaúcho desse agrupamento cai preso em outro Estado, o Partido do Crime (apelido do PCC) lhe dê abrigo. E vice-versa: paulistas e outros forasteiros, quando presos no Rio Grande do Sul, ficam em alas de Os Manos. A convivência de detentos gaúchos enviados a penitenciárias de segurança máxima federais, com lideranças nacionais do crime, também ajuda nessa troca de favores.
Só que o Departamento de Investigações do Narcotráfico (Denarc) da Polícia Civil acaba de comprovar que é muito mais do que uma aliança de presos. O PCC decidiu usar o território gaúcho como corredor de exportação de drogas para Argentina, Uruguai e, quiçá, Europa (via Rio Grande). Não por acaso, grandes quantias de cocaína foram apreendidas recentemente no porto daquela cidade, o principal do sul do país.
Para isso, conta com colaboração de alguns integrantes da facção do Vale do Sinos. Possivelmente, não todos, já que é um agrupamento horizontalizado – uma associação de quadrilhas, como o nome induz, não um bando com chefia verticalizada.
A investigação do Denarc detectou nessa união de facções uma triangulação de drogas e dinheiro numa complexa operação de lavagem (disfarce de lucros), que inclui estrangeiros (europeus e paraguaios). E que passa pelo nordeste, centro-oeste, sudeste do país, além do Sul. Tudo indica que armamento também entra no pacote de ilegalidades.
Um dos maiores patrões do tráfico em Porto Alegre, com área de domínio no Campo da Tuca, compra drogas dessa joint-venture, apontam as suspeitas. Uma curiosidade: ele já andou foragido no Paraguai.
É possível apostar que as investigações irão bem mais longe. O que importa nisso tudo é que o alerta vermelho das autoridades foi acionado. E despertou a reação policial. Agora é preciso conferir se o elo entre as facções foi quebrado ou está tão azeitado que apenas sofreu um baque.