A morte de Munike Fernandes Krischke, 45 anos, na noite de sábado (12), na entrada de Porto Alegre, pode ter sido motivada por ataques a veículos com pedras jogadas de pontes, passarelas ou viadutos em rodovias da Região Metropolitana. Essa é a principal hipótese da Polícia Civil, apesar de não ter ocorrido tentativa de assalto porque o marido da vítima não parou o veículo e se deslocou para o Hospital de Pronto Socorro (HPS).
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os ataques ocorrem há vários anos, sem horário e local definidos, mas neste ano foram registrados pelo menos 45 casos em estradas da região, uma média de duas ocorrências por semana. No mesmo dia em que houve o registro na freeway, outros motoristas relataram movimentação de suspeitos e ataques no trecho, além de outra ocorrência atendida na BR-116, em Canoas, por agentes.
O inspetor Felipe Barth, da PRF, relata que todas as informações estão sendo repassadas para a investigação e que, em outros anos, o número de situações semelhantes era mais recorrente. Contudo, neste ano voltou a se intensificar.
— Acreditamos que o número deve ser ainda maior, já que muitas pessoas, na medida do possível, não estacionam os veículos e seguem com a viagem, principalmente porque já estão próximas do destino, que é a Capital. Por isso ressalto a importância de comunicar sempre as autoridades — diz Barth.
Segundo o inspetor, os casos informados neste ano ocorreram em horários diferentes, inclusive durante o dia, e em pontos como entrada de Porto Alegre pela freeway, região das ilhas do Guaíba na BR-290 e BR-116, entre Canoas e o Vale do Sinos.
Sobre o caso ocorrido na BR-116, também na noite do sábado, Barth diz que policiais se deslocaram para um dos viadutos sobre a rodovia após uma denúncia feita por testemunha que viu um veículo sendo apedrejado. Um homem que estava no local correspondia às informações, mas como a vítima não parou o carro e também não registrou a ocorrência, ele foi liberado.
Além de rondas,. há um trabalho em conjunto com as polícias das cidades. A Brigada Militar (BM) é acionada constantemente quando ocorre esse tipo de ataque para a realização de buscas e monitoramento. Já a Polícia Civil, que apura os motivos e faz a identificação de suspeitos, informa que boa parte dos casos envolve pessoas que residem ou se escondem em moradias no entorno das estradas.
Investigação
Munique estava no banco do passageiro na parte da frente de um Honda WRV conduzindo pelo marido dela, Alex Von Zeidler Ramos. Eles estavam saindo do bairro Sarandi para um jantar, no Dia dos Namorados, em um restaurante na Zona Sul, quando o veículo foi atingido por um paralelepípedo. A pedra atravessou o para-brisa, acertando o peito da vítima. Ramos seguiu com o veículo até o HPS, mas sua esposa não resistiu aos ferimentos. Foram constatadas rupturas em vasos do coração e lesões no fígado. Barth diz que a PRF recebeu uma ligação sobre o fato na chegada à Avenida Castelo Branco, mas ainda na freeway, embaixo da alça de acesso para quem sai da Avenida Sertório e se dirige para o vão móvel da ponte do Guaíba.
— A ocorrência consta este endereço, mas, devido ao fato de ser noite e principalmente devido ao desespero do marido dela, consta também que seria no trecho da ponte nova. Então são dois pontos prováveis que Setor de Inteligência averiguar — afirma Barth.
A titular da 2ª Delegacia de Homicídios, delegada Roberta Bertoldo, está com o caso justamente porque se trata de um homicídio qualificado, mesmo que o objetivo inicial possa ter sido um ataque para tentar um roubo consequente. Segundo ela, o primeiro local é o principal ponto investigado, mas nada é descartado.
Na alça de acesso à ponte do Guaíba, agentes encontraram prováveis chaves mixas, usadas para abrir qualquer tipo de porta de veículo. Além disso, imagens de quatro câmeras da Secretaria de Segurança Pública do Estado estão sendo analisadas. A polícia tenta obter um ângulo com melhor alcance ou resolução para verificar movimentação de suspeitos.
— Acreditamos que seja nesse lugar, mas vamos averiguar se foi no outro, em alguma alça de acesso da nova ponte, mas por enquanto buscamos mais vítimas, imagens e testemunhas — destaca Roberta.
Ramos foi ouvido inicialmente, mas não tinha condições emocionais para prestar um depoimento, por isso será reinquirido novamente. Há dois telefones de contato para que outras vítimas procurem a polícia ou repassem informações sobre a ação de suspeitos: 0800 642 0121 e (51) 3288-2425.
Dois trechos
GZH esteve nos dois locais onde pode ter ocorrido o ataque que levou à morte de Munike. O primeiro, que é a principal hipótese da polícia, fica embaixo da alça de acesso à ponte do Guaíba, para quem sai da Avenida Sertório. No local, um homem que trabalha como chapa, orientando caminhoneiros que ingressam na cidade, ressaltou que durante o dia não tem movimentação suspeita no local. Ele não quis se identificar, mas destaca que fica somente até as 14h.
Se fosse esse o local, suspeitos teriam ido na primeira alça de acesso, que tem cerca de 10 metros de altura, subindo uma escada paralela. No entorno, há duas casas abandonadas, nas margens da Avenida João Moreira Maciel, paralela à Avenida Castelo Branco, com várias pedras soltas. Eles podem ter ficado em cima da alça, exatamente no local onde estavam as chaves mixas, e ter atirado a pedra.
Cerca de cem metros depois, tem a outra alça de acesso, no caso da ponte do Guaíba para a Castelo Branco, mas ambas fazendo parte do complexo da antiga ponte. Segundo a polícia, comparsas dos primeiros suspeitos poderiam estar no local esperando que o carro parasse em um pequeno espaço com acostamento para realizar o assalto.
O outro local é uma alça de acesso da ponte nova sobre a freeway, que fica antes do primeiro, no sentido Litoral/Porto Alegre. É um trecho ainda em obras e que fica 5m5cm acima da autoestrada. Seguranças e pedreiros que atuam no local informaram que constantemente há pessoas subindo no vão para furtar barras de ferro. A saída deste trecho dá acesso à Vila Areia que, segundo a PRF, é um trecho onde sempre ocorria este tipo de ataque, quando não havia a nova ponte do Guaíba.
GZH confirmou que o local tem difícil acesso, mas testemunhas confirmaram que muitas pessoas vão ao local também para usar drogas e muitas delas são vistas principalmente aos finais de semana, inclusive com pedras nas mãos. Nos canteiros há várias pedras soltas e muitas delas semelhantes a que atingiu o carro onde estava Munike.
Medida preventiva
O tenente-coronel Jorge Dirceu, comandante a BM em Canoas, diz que faz um trabalho constante no entorno das rodovias, mas que muitas vezes os casos são registrados como ocorrência de trânsito, assim como o caso do suspeito abordado na BR-116 no sábado. O militar diz que as ocorrências diminuíram porque a corporação tem feito rondas constantes nos viadutos e nas passarelas. Segundo ele, o que fez com que os locais usados pelos criminosos diminuíssem foi o fato de terem sido colocadas telas de proteção nas passarelas, impossibilitando o arremesso de objetos grandes, como uma pedra, por exemplo.
— Ainda tem pelo menos duas passarelas que não tem e nesses pontos, assim como em viadutos, intensificamos as rondas. Isso diminuiu os casos e acredito que poderia ocorrer o mesmo em outros trechos da Região Metropolitana.
Dicas
O inspetor Barth diz que a PRF deve ser sempre comunicada pelo telefone 191 se houver algum fato envolvendo carro sendo atingido por pedras em rodovias federais. Essa medida vale tanto para vítimas quanto para testemunhas. Segundo ele, o motorista não deve parar o carro se for atingido por uma pedra, desde que possa seguir trafegando. Se não conseguir seguir viagem, o condutor deve ligar urgentemente para a polícia.