A Polícia Civil cumpriu, na manhã desta terça-feira (8), 74 mandados de busca, apreensão e de bloqueios judiciais em sete cidades da Região Metropolitana e do Litoral Norte contra estelionatários que aplicavam golpe em empresas e depois lavavam dinheiro. São 35 criminosos que montaram pelo menos 20 empresas de fachada para distribuição de produtos diversos — em nome de terceiros — com o objetivo de fazer compras com fornecedores e até empréstimos bancários.
As primeiras aquisições eram pagas em dinheiro em uma única só vez para ganhar credibilidade no comércio do Estado, Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Depois disso, os golpistas faziam pedidos milionários a prazo e não quitavam os débitos. É o chamado golpe da "arara".
A investigação da polícia, em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), iniciou há seis meses após a titular da Delegacia de Guaíba, delegada Karoline Calegari, descobrir uma destas empresas, no município, que tem mais de 460 protestos judiciais, totalizando R$ 2,7 milhões. Um estelionatário monitorado pelos agentes foi preso, na ocasião, quando transportava carga de produtos químicos em um caminhão pela BR-290. Segundo a polícia, essa carga havia sido adquirida por meio do golpe da "arara" de uma dos 20 fornecedores que foram vítimas dos investigados. Depois disso, foram descobertos mais 34 suspeitos. Entre os tipos de materiais adquiridos estão eletroeletrônicos, calçados, produtos químicos e da área de construção.
— Credores relataram que, ao procurarem pelos representantes da empresa de fachada, não obtiveram mais nenhuma resposta a partir de dezembro de 2020. Inclusive, os golpistas colocaram um cartaz de férias coletivas na sede da empresa, que na verdade já havia sido fechada e estava vazia há meses — diz Karoline.
Lavagem de dinheiro
Além de obter dinheiro com bancos, a quadrilha revendia as mercadorias com preços abaixo do valor de mercado para depois depositar dinheiro em contas de laranjas ou adquirir veículos, imóveis, entre outros.
Em um dos áudios divulgados pela polícia, um dos suspeitos fala sobre venda de tintas e cimento cola, alegando que não poderia ficar com a mercadoria e que teria de vender os materiais para iniciar o ano "trabalhando":
O grupo teve RS 7 milhões em bens apreendidos judicialmente: dez contas bancárias bloqueadas, dois imóveis de luxo e 14 automóveis. Os nomes dos suspeitos não foram divulgados até o momento.
Em outra gravação pelo WhatsApp, um dos 35 investigados alerta sobre tirar rapidamente dinheiro da conta para evitar bloqueios ou saques por parte das autoridades:
O diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana, delegado Mario Souza, diz que todos os investigados apresentavam patrimônio incompatível com a movimentação financeira que realizaram desde 2020, o que configurou a lavagem e ocultação de valores. Os crimes apurados são os de estelionato, lavagem e ocultação de bens, além de direitos e valores provenientes de infração penal.
Operação policial
A chamada Operação Laverna contou com 70 policiais civis e rodoviários para o cumprimento de 74 ordens judiciais, além dos bloqueios de contas bancárias e apreensão de bens, houve 13 mandados de busca e 35 de afastamento de sigilo bancário, fiscal e financeiro. O cumprimento das ordens ocorreu em Guaíba, Porto Alegre, Xangri-lá, Tramandaí, Cachoeirinha, Canoas e Esteio.